«Like a complete unknown»

Fotografia de Zoe Pilger
Fotografia de Zoe Pilger

Longe de ser consensual ou de causar indiferença, a escolha do Nobel da Literatura deste ano tem suscitado reações extremadas, algumas um tanto irracionais. Ainda bem que assim acontece, pois não é todos os dias que tantas pessoas, incluindo-se nestas algumas que pouco ou nada se interessam realmente por literatura, e mais em particular por poesia, exercem o seu direito a pronunciar-se sobre a justeza ou a desrazão de um prémio desta natureza. Nas redes sociais, onde o repentismo e a facilidade da escrita são um microfone aberto, essas opiniões têm sido particularmente ferozes.

Em boa medida por razões geracionais, fiquei feliz com a escolha. Bob Dylan – ou melhor, os diversos Dylan de um trajeto obstinado e sinuoso – tem, sem dúvida, um lugar fulcral na banda sonora e na educação poética da minha vida. Além disso, sempre fui dos que valorizam tanto o texto quanto a música das canções nas quais reparam e de que gostam. Mas tal não significa que tenha julgado a opção do Comité Nobel necessariamente a melhor. Se me pedissem antes para escolher vinte candidatos ao prémio, talvez não colocasse lá Mr. Zimmerman, mas isso aconteceria também com a muitos dos autores premiados pela academia sueca. O que me interessa aqui é outra coisa: qual o motivo que levou a decisão a paroxismos de análise e à exaltação dos ânimos? Respondo centrado em dois aspetos. ler mais deste artigo

    Leituras, Memória, Música, Olhares, Opinião

    Da função social do palavrão

    Fotografia de Epicentre.
    Last stripe on Earth. Fotografia de Epicentre

    Nunca fui de usar a torto e a direito a palavra de baixo calão, vulgarmente conhecida por palavrão. E não é por qualquer vestígio de moralismo puritano, que não possuo de todo, ou com medo de pecar por palavras e me ver inexoravelmente destinado ao Purgatório das almas. Faço-o apenas ocasionalmente, quando me zango mesmo com alguma coisa ou quando entalo algum dedo numa porta ou gaveta. Por vezes, também, quando estando sozinho posso dar largas, sem incomodar os outros, à impaciência ou ao desespero. No entanto, como vivo neste mundo e não entre anjos, é claro que passei por períodos em que tive de abrir mão dessa ginástica de contenção, e me vi a «falar como um carroceiro» (já quase não existem carroceiros por estes lados e por isso não estarei a ofender alguém). ler mais deste artigo

      Apontamentos, Coimbra, Olhares, Opinião

      Alepo e a culpa

      Fotografia: Reuters/Rami Zayat
      Fotografia: Reuters/Rami Zayat

      A propósito da guerra, escreveu Karl Kraus (1874-1936) no jornal A Tocha: «De início um dos lados espera vencer; depois o outro espera que o inimigo perca; de seguida cada um queixa-se daquilo que está a sofrer; no final, ambos percebem que todos perderam.» A guerra é sempre iníqua e dolorosa, mesmo quando se afigura justa para um dos lados, ou até quando parece explicável, necessária e de alguma forma regeneradora. A luta dos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial, as guerras de emancipação do domínio colonial ou aquelas que visaram o derrube de ditaduras, seguem esta linha justa, mas nem por isso foram ou serão belas. ler mais deste artigo

        Atualidade, Cidades, Democracia, Direitos Humanos

        Em Setembro, de novo

        Sunlight In The Classroom. Fot. Christian Hawley
        Sunlight In The Classroom. Fot. Christian Hawley

        É tão certo quanto a queda das folhas dos plátanos: a meio de Setembro as praxes universitárias regressam à rua e ao debate público. Assanhando ânimos em proclamações de completa recusa ou, mais raramente, de acanhado aplauso. Desta vez, porém, isto acontece com um impacto acrescido. Em parte, devido à posição assumida pelo ministro da Ciência, da Tecnologia e do Ensino Superior, que a transformou em prescrição remetida aos responsáveis dos estabelecimentos do ensino público. Mas também porque a observação da realidade impõe um novo olhar. O tema já cansa um tanto, mas o ruído é tal que, como proclamava o refrão da velha canção, «não podemos ignorá-lo».

        E porque não? As razões mais aduzidas para justificar o interesse insistem nos abusos que não podem ser ignorados ou permitidos, seja em nome de que «tradição» for. Aliás, embora mais em algumas escolas ou cidades que noutras, as praxes surgem sem alicerce histórico real, são muitas vezes inventadas e reguladas por «comissões» que vivem na sombra, e têm-se afirmado demasiadas vezes como práticas perigosas, conduzidas quase sempre por alguns dos piores alunos das academias e na margem da intimidação ou do crime. ler mais deste artigo

          Cidades, Coimbra, História, Olhares

          Os poderes da história (e dos historiadores)

          Escultura de Gyula Pauer em Budapeste
          Obra de Gyula Pauer. Danúbio, Budapeste

          Nota de leitura de Julián Casanova, publicada na Babelia de 17 /9/2016, da recém-saída edição em castelhano de The History Manifesto, de Jo Guldi e David Armitage, publicado em 2014. A edição original, em inglês, revista em 2015, está disponível aqui: http://historymanifesto.cambridge.org/files/6114/1227/7857/historymanifesto.pdf

          «Um espectro ronda a nossa época: o espectro do curto prazo». Assim começa o manifesto pela história de Jo Guidi e David Armitage. Neste momento de crise acelerada, quando enfrentamos problemas gigantescos, verifica-se, segundo estes historiadores, uma escassez de «pensamento a longo prazo». Os políticos não olham para além das próximas eleições e a mesma estreiteza de visão afeta as administrações das grandes empresas e os líderes das instituições internacionais. ler mais deste artigo

            História, Leituras, Olhares

            O «menino de Alepo» e as leituras enviesadas

            Já estava um tanto admirado por não aparecer de imediato algo que pudesse denegrir a imagem perturbante e icónica do «menino de Alepo» e servisse de defesa do governo sírio de al-Assad, o suposto herói da luta anti-imperialista, bem como dos seus aliados russos. Vindo daquele setor da opinião para o qual todo o mal de um mundo muito simplificado e apenas a dois tons tem como responsável e beneficiário único e exclusivo os Estados Unidos da América, financiador ultraconsciente e contumaz da Al-Qaida e do Daesh.

            Um juízo que não iliba, obviamente, sucessivos governos norte-americanos de políticas desastrosas, erradas e danosas no Médio Oriente que alimentaram de facto os grupos islamitas, é verdade, mas que é perigosamente redutor. É óbvio também que aquela fotografia foi usada como uma ferramenta de propaganda, como tem acontecido em todas as partes e em todos os conflitos pelo menos desde a Guerra da Crimeia de 1853-1856. Mas a desmontagem que dela se está a fazer pode atingir proporções insólitas. ler mais deste artigo

              Atualidade, Democracia, Direitos Humanos

              A Europa e a Turquia, agora

              Há séculos que a existência do Império Otomano, e mais tarde da Turquia, representa uma fonte de temores e de problemas para a Europa. A expansão do seu território no final da Idade Média, traduzindo um avanço do Islão e de um modelo de sociedade totalmente diverso do instalado nos reinos e Estados cristãos, assustou milhões de europeus ao longo de gerações, e convém lembrar que, não fora a derrota do Grão-Vizir Kara Mustafá em 1683, na decisiva batalha de Viena, com todas as probabilidades a história do nosso continente teria sido radicalmente outra. Foi, aliás, a continuação deste risco que determinou o empenho de D. João V quando, em 1717, enviou uma esquadra de seis poderosos navios a ajudar Veneza na batalha naval de Matapan. Mas apesar do avanço militar ter sido estancado, o recuo decisivo apenas foi consumado em 1923, com a retirada turca de quase toda a Península Balcânica e a proclamação da República, sob a liderança secular, modernizadora (leia-se «ocidentalizante») e formalmente democrática de Kemal Atatürk. ler mais deste artigo

                Atualidade, Democracia, Opinião

                O local, o global e a imprensa regional

                localnews

                Na última quinta-feira o jornal desportivo Super Deporte, publicado na capital da Comunidade Valenciana, proclamava a toda a largura da primeira página, a propósito do jogo do Euro-2016 de Portugal contra o País de Gales, que Nani marcara «o seu primeiro golo como jogador do Valência». Na verdade, à hora a que escrevo o futebolista nascido na cidade da Praia mas com nacionalidade portuguesa ainda não assinou sequer o contrato formal com o clube do morcego. Por isso, para além de tecnicamente errado, o título é descabido. O objetivo do jornal é, obviamente, exaltar um certo orgulho local ou regional, ainda que Valência, com os seus 800.000 habitantes, não seja propriamente uma aldeia da comarca de Las Hurdes a precisar de propaganda. ler mais deste artigo

                  Apontamentos, Atualidade, Jornalismo, Olhares

                  O génio cobarde e o medíocre engenhoso

                  O Ruído do Tempo, último livro de Julian Barnes, é um romance histórico. Incorporando uma componente ficcional, centrada em particular nos diálogos, nos cenários, nos personagens secundários, no enunciar de subjetividades e, naturalmente, na trama narrativa, possui uma espinha dorsal que é o conhecimento histórico das circunstâncias que envolvem os factos mencionados e a biografia das figuras reais que as povoam. Em algumas obras do género a primeira componente é dominante, mas neste caso isso acontece claramente com a segunda. Barnes seguiu aqui, de forma muito próxima, a vida do compositor russo Dmitri Chostakovich, personalidade central da música do século XX, que viveu sempre uma relação tensa e ambígua como o poder soviético. Nas últimas duas páginas, aliás, refere as fontes históricas das quais principalmente se serviu.

                  Gira em torno de três momentos nos quais essa tensão emergiu de forma particularmente dramática, aproximando o génio criador da pessoa que a todo o instante teme pelo seu bem-estar e pela sua pele. O primeiro ocorreu em 1936, ano do início dos impiedosos Processos de Moscovo, quando a sua ópera Lady Macbeth de Mtsensk, composta dois anos antes, foi acusada pelo jornal Pravda de se tratar de «chinfrim em vez de música», uma expressão de um inútil formalismo e, por isso, contrária ao dogma artístico do realismo socialista. Incidente que que forçou Chostakovich a uma longa fase de medo físico da prisão ou mesmo da execução, e depois a uma retratação pública que não deixou de o manter ao longo de décadas sob suspeita, cerco e vigilância. ler mais deste artigo

                    Artes, Biografias, Leituras, Olhares

                    Excesso de tradição e diálogo político

                    Nas Aventuras de Tom Sawyer, Mark Twain disse ser «fácil justificar uma tradição, mas muito difícil vermo-nos livres dela», dada a força que pode tomar. O historiador Eric Hobsbawm mostrou em 1983 que as tradições são sempre invenções, mais próximas de um certo imaginário cultural que da realidade da vida. Simplificando a interpretação: aquilo que produz uma tradição e lhe confere essa força não é a reprodução das mesmas práticas, supostamente antigas, através do tempo, mas antes a tendência para repetir uma interpretação conservadora enquanto os factos e os contextos se vão transformando. Por isso, tantas vezes é anacrónica e imobilista.

                    Isto não significa, porém, que funcione apenas como uma prisão, forçando o presente a reproduzir o passado, e que não tenha qualquer valor dentro da vida social. Longe disso. Muitas vezes a tradição pode, no seu sentido verdadeiro – isto é, como a imaginação de uma continuidade cultural forte – cimentar as identidades das nações, dos coletivos, das regiões ou das cidades. Em Coimbra, onde a palavra «tradição» tem um peso muito grande no discurso público, em particular naquele que é veiculado por algumas instituições e por certos setores sociais, bem como pela generalidade da imprensa local, ela desempenha um papel importante, embora complexo e nem sempre consensual, na construção interna e na projeção exterior de uma imagem da cidade. ler mais deste artigo

                      Coimbra, Democracia, Memória, Opinião

                      Euro-2016: anatomia de uma paixão

                      Fotografia de Kristina Truluck
                      Fotografia de Kristina Truluck

                      De cada vez que acontece um grande torneio ou se celebra uma vitória memorável, emergem nas redes sociais – goste-se ou não, com os seus defeitos e capacidades, o lugar onde circula hoje a opinião mais autónoma e plural –, muitas vozes que rejeitam o futebol como desporto de massas e celebração de um prazer ou de uma paixão. Pode ser apenas a demonstração verbal de um legítimo desinteresse por algo de que se não gosta, ou então a rejeição dos gastos e dos negócios obscenos que envolve, ou ainda o natural protesto pelo destaque exagerado e obsessivo que nessas alturas o jogo ocupa nos meios de comunicação.

                      Outras vezes, porém, é mais que isso, surgindo em certos casos como expressão de repulsa ou mesmo de ódio. Um ódio irracional e agressivo, como todos os ódios, que é diretamente projetado sobre quem o acolhe como praticante ou como adepto. Os argumentos são sempre os mesmos: o futebol será manifestação de despolitização ou de incultura, o reino negro do dinheiro sujo e do desperdício, recreio para rapazes estúpidos ou para fanáticos, pura perda de tempo quando tanto há de «verdadeiramente importante para fazer». Ainda que a vida seja feita também dos vícios e dos nadas que a tornam mais complexa e emotiva. ler mais deste artigo

                        Atualidade, Etc., Olhares

                        Escola pública, direitos privados

                        Fotografia de Nguyen Phuong Thao
                        Fotografia de Nguyen Phuong Thao

                        A ideia de escola pública nasceu com os debates que precederam e acompanharam a Revolução Francesa. E foi também em França que, sob a iniciativa de Jules Ferry, primeiro-ministro e ministro da Instrução Pública da Terceira República, entre 1880 e 1883 ela foi lançada de forma coerente. Pela primeira vez na história, a educação deixava de ser um privilégio concedido a alguns e tornava-se tendencialmente universal e gratuita, perdendo a dependência das instituições de natureza privada, corporativa ou confessional que lhe diminuíam o alcance e a condicionavam. Para além de republicana, era agora laica e plural, passando a assegurar, como um direito, o acesso a um conhecimento e a uma formação que deveria destinar-se a todos os cidadãos. Ocorreram depois avanços e recuos, consoante as épocas e os lugares, mas a tendência tornou-se irreversível, consolidando-se gradualmente nos regimes democráticos. ler mais deste artigo

                          Atualidade, Coimbra, Democracia, Opinião

                          Corpo de Deus – apontamento histórico

                          corpodedeuspenafiel

                          Texto sobre o papel da procissão do Corpo de Deus para a definição do cerimonial político do absolutismo que escrevi em 1983 para o meu livro D. João V. Poder e Espectáculo (aqui adaptado).

                          A procissão do Corpo de Deus foi instituída em 1264 para todo o mundo cristão pelo papa Urbano VI. A festividade começou a ser celebrada em Portugal – sempre na primeira quinta-feira depois da oitava do Pentecostes – no reinado de D. Afonso III. Viria a ganhar um brilho invulgar a partir do governo de Manuel I, sendo sempre a sua procissão aquela que de maior luxo e aparato Lisboa conheceu. O rico espetáculo que habitualmente continha, as possibilidades que oferecia como momento de dramática manifestação de fé, tornavam a sua realização num momento intensamente vivido pelo povo da capital. Porém, até ao século XVIII, o desfile religioso serviu de instrumento para a expressão combinada de crenças e tradições diversas. Sem qualquer ordem prevista, seguiam aí as autoridades municipais, os representantes dos ofícios com os seus antigos símbolos e bandeiras, as imagens sagradas, nessa altura ainda de grande sobriedade plástica. Mas também gente vestida das formas mais bizarras, figuras bestiais, indivíduos de toda a qualidade, sem qualquer distinção. Em 1493 seguiram no cortejo «o rei David, diabos, reis, imperadores, príncipes, gigantes, feiticeiros, verdadeiro concílio de cómicos e truões». E em 1669 ainda desfilavam «cervos, figuras de cavalo, invenções e danças».

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                            Cidades, Etc., História

                            Vulgaridade e fama

                            Fotografia de Frederic Gaillard
                            Fotografia de Frederic Gaillard

                            Passou-me há dias pelas mãos um número já com algum tempo da revista New Yorker que trazia um texto do crítico Giles Harvey onde este abordava um curioso nicho do mercado livreiro dos Estados Unidos. O título do artigo, «Cry me a river», que traduzo muito livremente por «Um rio de lágrimas», era uma óbvia paráfrase de parte do refrão da popular canção sobre um amor frustrado, escrita em 1953 por Arthur Hamilton para a voz poderosa de Ella Fitzgerald, na qual a intérprete pede insistentemente que com ela choremos o seu destino. «Come on and cry me a river, cry me a river / ‘Cause I cried a river over you», ali implorava aquela à qual um dia alguém chamou «a primeira dama da canção». A escolha da frase ajustava-se de uma forma perfeita ao artigo de Harvey. ler mais deste artigo

                              Apontamentos, Atualidade, Olhares, Opinião

                              Queima 72 em Coimbra e no Porto

                              O desaparecimento da Queima das Fitas, tal como o das praxes, materializados em Coimbra com o «luto académico» decretado em 1969, foi um gesto coletivo de coragem e de grande impacto político, até porque se ergueu contra as expectativas de algumas famílias ciosas dos seus meninos doutores e as conveniências de parte do comércio da cidade. No entanto, não caiu do céu e, visto sob a perspetiva do tempo, não pôde deixar de ficar ligado a uma gradual democratização política dos valores em curso dentro das comunidades estudantis universitárias da cidade e do país. A escolha dos estudantes foi o resultado de uma evolução natural e daí o facto de, nos anos que se seguiram, a suspensão de tais práticas não ter sido levantada. ler mais deste artigo

                                Coimbra, Democracia, Etc., História, Memória

                                O sentido do tempo e a lição de Abril

                                O filósofo italiano Giorgio Agamben afirmou em entrevista recente: «A minha perspetiva do tempo histórico não pode deixar de ser descontínua. Nunca se sabe onde vai parar a ideia de um tempo contínuo. A antiguidade tomou-o como um círculo. O cristianismo, como uma linha. Por mim, prefiro a interrupção. O momento da liberdade de ação».  Quem possua uma visão dinâmica do percurso histórico – não me refiro à sequência à qual chamamos cronologia, mas ao movimento que percorre as sociedades – decerto aceitará este ponto de vista. Uma perspetiva que não reconhece o valor e a necessidade dos momentos de viragem, é imobilista e incapaz de explicar a torrente dos dias. No fundo, é essa a origem última do pensamento conservador. Seja qual for o quadrante político – existe também, é sempre bom lembrá-lo, um conservadorismo de esquerda – no qual este se inscreva. ler mais deste artigo

                                  Democracia, Ensaio, Olhares, Opinião

                                  Bye bye, Brasil

                                  Passeata dos Cem Mil. Rio, 26/6/1968
                                  Passeata dos Cem Mil. Rio, 1968

                                  Os que mais sofrerão com o clima de ódio e o bloqueio institucional no Brasil serão, como sempre, «os de baixo». É o povo brasileiro. O povo mesmo, aquele que não tem voz, que trabalha e sobrevive graças ao engenho, à largueza da terra e a algum apoio do Estado. Será também boa parte da classe média, débil aqui como em todo o lado, logo que uma crise se instala. Mas temo também por aquilo que acontecerá aos músicos, intelectuais, escritores, poetas, atores, cineastas, apresentadores, jornalistas, professores, filósofos, religiosos, e tantos outros, que com a voz, o corpo e a escrita têm tentado incutir um pouco de racionalidade, tolerância e sentido de justiça e de beleza na vida social, nos meios de comunicação e no sistema político. ler mais deste artigo

                                    Apontamentos, Atualidade, Democracia, Memória

                                    Palavras em luta

                                    Fotografia de Enrique Jardim
                                    Fotografia de Enrique Jardim

                                    A propósito do projeto de resolução do Bloco de Esquerda que visa sugerir uma designação mais inclusiva para o Cartão de Cidadão, tenho lido e escutado posições que me têm deixado estarrecido. Muitas chegam de pessoas de quem gosto, com quem partilho muitas opiniões, e que considero sensíveis, sensatas e inteligentes, mas que neste caso mostraram um lado intempestivo e desnecessariamente agreste que desconhecia, colocando-se até ao lado de gente de quem em regra se distanciam. Desde logo pelo tom agressivo e liminarmente depreciativo – porquê tanto fel e sarcasmo por uma matéria destas? –, mas também pela natureza meramente reativa e não racional de alguns dos argumentos e comentários utilizados. ler mais deste artigo

                                      Apontamentos, Democracia, Olhares, Opinião