Um silêncio inconveniente
A esquerda, e em particular aquela que não separa os princípios da solidariedade e da igualdade dos direitos, centrais na definição da sua matriz política, da defesa da liberdade individual e das diferenças de opinião como expressão indiscutível de uma democracia sem adjetivos, vive hoje tempos bem difíceis. Por todo o lado, encontramos um regresso à naturalização da desigualdade, uma revisitação dos nacionalismos mais ferozes, um retorno da xenofobia e do racismo, bem como o recuo das conquistas sociais obtidas em dois séculos de luta operária e popular e de combate por uma cidadania plena.
A direita alimenta estas tendências negativas de uma forma eficaz, servindo-se da crise económica, da instabilidade que esta traz, do desemprego, do terrorismo, do medo, da ignorância, do controlo da informação, para se apropriar do poder por via democrática e instaurar políticas autoritárias, sob a promessa de tudo resolver a partir de uma posição de força. Diante deste cenário, a esquerda, envolvida nas suas contradições e inapta para projetos capazes e mobilizadores, tem-se remetido a uma posição defensiva, de resistência, que só aqui e acolá vai passando pelos caminhos de aproximação que durante largas décadas quase sempre rejeitou. As lições sobre as consequências do divisionismo, oferecidas nos anos 30 pela ascensão do nacional-socialismo na Alemanha e pelo triunfo do golpismo franquista em Espanha, vão sendo invocadas pelos que pretendem evitar que a história se repita. (mais…)