Solidários mas felizes

Fotografia de Fiona

Sendo um francoatirador de esquerda, nunca deixei de me preocupar com os destinos do mundo e o combate constante e solidário por uma justiça que evito adjetivar. Foi uma vocação precoce que espero manter enquanto souber fazê-lo. Por isso sempre procurei combinar o interesse pelas coisas belas e reconfortantes do mundo – uma música exaltante, um livro que nos desafia, um poema que canta, uma mulher bonita, um rio selvagem, uma nuvem carregada que anuncia o outono – com uma noção de compromisso que, com Camus, associo sempre às escolhas que todos os dias nos vemos condenados a fazer. Nesta medida, sempre afastei, por vezes até com alguma repulsa, a proximidade dos que apenas olham uma flor, ou só se vêm ao espelho, enquanto desviam o olhar e o corpo do sofrimento dos outros, do ódio e da opressão que fazem parte da vida, tentando simular que eles não existem. Aborrece-me muito, por vezes de morte, quem fala apenas de política, mas incomoda-me quem se recusa a olhá-la. Uma e outra posição marcadas, no fundo, por uma falta de humanidade que elide a complexidade das coisas e das pessoas, reduzindo-a, obsessivamente, apenas a um dos seus lados. ler mais deste artigo

    Atualidade, Democracia, Olhares, Opinião

    Os imigrantes

    Nestes dias de trevas que atravessamos a custo, o instinto de defesa reduz inevitavelmente a nossa humanidade. Primo Levi descreveu o modo como, ao terceiro dia de presença em Auschwitz, a generalidade dos prisioneiros esquecera já a dignidade pessoal, o orgulho, os hábitos de higiene e os deveres mais elementares de solidariedade para com os semelhantes, concentrando-se apenas na brutalidade permanente da luta pela sobrevivência. Sem vivermos nesse estádio-limite, o recuo dos mecanismos de assistência pública e a instalação de um ambiente de feroz competição por um pequeno mas raro lugar ao sol, têm-nos aproximado perigosamente desse caminho. Ele é, aliás, visível até por um efeito de omissão: por estes dias, a luta pelo trabalho, a resistência à perda de direitos, a procura de vias de escape por parte da maioria da população, têm transformado centenas de milhar de imigrantes em seres invisíveis e mudos. E no entanto, ainda que mais desprotegidos, ainda que com menos vias de escape, esquecidos por quase todos, eles continuam entre nós, fazendo os trabalhos mais penosos, sendo explorados, humilhados e ofendidos como ninguém mais o é. Mas sem partidos, sindicatos, ativistas, manifestações, jornais ou televisões que lhes valham. Vivendo na sombra, em bairros periféricos, tantas vezes em casebres ou desvãos, no limite extremo do abandono e do medo.

      Apontamentos, Democracia, Olhares

      O Congresso e o pesadelo

      Dos trabalhos do Congresso Democrático das Alternativas e dos termos da declaração nele aprovada (a divulgar em breve) não resultou a proposta de uma nova plataforma partidária e muito menos a apresentação de um programa de governo. O equívoco dos seus detratores no campo da esquerda – invariavelmente associados aos tempos e aos modos de sectarismo político que ele procurou contrariar – está em olharem os resultados do Congresso nessa perspetiva. Pelo contrário, estes devem ser vistos principalmente como fatores de abertura e elementos de debate para a edificação urgente mas gradual de um novo cenário democrático. Este cenário envolverá a afirmação pública de três princípios fundamentais: em primeiro lugar, aquele que define a inadiável necessidade de se produzir uma alternativa à política austeritária, antissocial e antipatriótica que governa Portugal; em segundo, aquele que considera dever esta alternativa passar pela construção de um governo de unidade à esquerda, assente em princípios que possam ser partilhados pela maioria dos cidadãos; e em terceiro lugar, aquele que aponta para tal solução resultar, de um modo plural, da conjugação de esforços dos partidos, dos movimentos mais ou menos informais e de cidadãos empenhados mas sem partido. Ninguém espera que este caminho se mostre claro do dia para a noite e que seja fácil de pisar. Aquilo que não se vislumbra é outra solução realista que não repita velhas receitas. ler mais deste artigo

        Atualidade, Opinião

        Pólvora seca

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        Afinal para que serviu o PCP e o BE combinarem a divulgação simultânea (ressalvando aquele pequeno delay da responsabilidade do fuso açoreano) da apresentação de duas moções de censura ao governo depois de ter corrido, ao som de bandolins, bombos e castanholas tocados por tantas pessoas à procura de uma esperança, um certo júbilo por uma eventual «unidade da esquerda»? E para que serviu acompanhar as mesmas, neste momento, de ataques violentos e cerrados a um PS por tal via supostamente «encostado às cordas»? Neste cenário, a abstenção deste partido, agora proposta pelo seu irresoluto secretário-geral, seria e será inevitável. Mas como poderia deixar de o ser? No entanto, o inevitável não seria evitável com a apresentação de uma moção única que servisse mais para unir a oposição ao governo do que para demarcar fronteiras? E se a sua divulgação pública tivesse avançado num gesto de firmeza e de unidade, mas também de abertura e de humildade democrática? Vivemos um tempo muito mau, muito mau mesmo, para desperdiçar pólvora com tiros nos próprios pés.

          Apontamentos, Democracia, Opinião

          A montanha que virá

          Vitória da Frente Popular em França
          (1936)

          Tal como comentou Mark Twain em 1897 no New York Journal, referindo-se às informações que então circularam sobre a sua própria morte, após ouvirmos as declarações de Jerónimo de Sousa e de Francisco Louçã neste início de tarde percebemos que as notícias desta manhã a propósito do nascimento de uma espécie prematura de coligação PCP-BE foram manifestamente exageradas. Como diria o Dr. Freitas, o meu velho professor de latim, evocando com exagerado ênfase, as mãos erguidas ao céu, a Sátira Décima de Juvenal, «Parturiunt montes, nascetur ridiculus mus». Vocês sabem: aquela frase recorrente sobre a montanha e o rato. Quanto à unidade na ação, ela é uma possibilidade e uma necessidade, sem dúvida, mas num quadro detalhado de objetivos e através de uma bem mais vasta conjugação de vontades à esquerda. Nunca decidida apenas na sombra das sedes. Para lá caminhamos, espera-se, velozmente mas sem saltar etapas. Quanto a entendimentos pontuais mais rápidos, venham eles.

            Apontamentos, Opinião

            Luta política e teatro da rua

            Uma nota sobre a manifestação de ontem, convocada pela CGTP três dias antes do movimento nacional «Que se Lixe a Troika! Queremos as Nossas Vidas de Volta!», de 15 de setembro, e à qual aderiram entretanto outras organizações e movimentos. Não pude de todo estar presente em Lisboa, mas apoiei a convocatória, ajudei a divulgá-la e tive muita pena de não ter podido fazer parte da multidão que encheu o Terreiro do Paço. Ainda assim, segui-a diretamente ou em diferido através das televisões, dos jornais online, dos blogues, do Facebook e do Twitter, tendo depois conversado com pessoas que estiveram presentes. Por isso, a minha leitura não deriva apenas de «ouvir falar». Se bem que, nos tempos que correm, o que se ouve e o que se à distância possa ser, muitas vezes, mais completo do que aquilo que podemos observar na escala direta e calorosa da presença física. ler mais deste artigo

              Atualidade, Olhares, Opinião

              As nossas brigadistas

              A primeira parte deste Mulheres de Armas foi escrita por Isabel do Carmo, ex-dirigente das Brigadas Revolucionárias, a organização fundada em 1970 por militantes saídos do PCP e outros antifascistas com o objetivo de sabotar o aparelho militar ao serviço da Guerra Colonial e, a partir de 1973 em conjugação com o Partido Revolucionário do Proletariado, de impor pela via das armas uma revolução socialista. A antiga militante revolucionária evoca nestas páginas os momentos fundamentais da história das Brigadas no que respeita à participação ativa de mulheres no seu lançamento e nas ações de combate que a organização protagonizou, como assaltos a bancos para recolha de fundos, sabotagens de instalações militares ou iniciativas de propaganda que incluíram o rebentamento de petardos. Ressalvando pormenores de natureza autobiográfica, alguns deles pitorescos, nesta longa introdução aquilo que sobressai não é a exposição de informação totalmente desconhecida, mas a manifestação do papel destacado de muitas mulheres, único então nas fileiras da Oposição, em iniciativas de primeira linha no campo da ação armada. ler mais deste artigo

                História, Memória

                Alemães, cigarros e estereótipos

                Do conto «Só para fumadores», retirado da coletânea A Palavra do Mudo, publicada em 1965 pelo peruano Julio Ramón Ribeyro (Ed. Ahab), eis três parágrafos por onde perpassa um certo preconceito e um velho estereótipo, construídos a propósito da Alemanha e dos alemães, que as presentes circunstâncias partilhadas pelos europeus têm ajudado a recuperar.

                Os vaivéns da vida continuaram a levar-me de país em país, mas sobretudo de marca de cigarro em marca de cigarro. Amesterdão e os Muratti com uma fina boquilha dourada; Antuérpia e os Belga de maço vermelho com um círculo amarelo; Londres, onde tentei fumar cachimbo mas depois desisti porque me pareceu demasiado complicado e porque me dei conta de que não era nem o Sherlock Holmes, nem um marinheiro, nem inglês… Finalmente Munique, onde, apesar de não ter concluído o meu doutoramento em Filologia Românica, me especializei como perito em cigarros teutónicos que, dizendo-o cruamente, me pareceram medíocres e sem estilo. Mas se menciono Munique não é pela qualidade do seu tabaco, e sim porque cometi um erro de julgamento que me deixou numa situação de carência desespe­rada, comparável aos piores momentos do meu ciclo parisiense. ler mais deste artigo

                  Ficção, Olhares, Recortes

                  Hoje, 29 de Setembro

                  É preciso pôr de lado a indiferença. E é muito importante que a manifestação seja unitária, grande, poderosa. Mas que nela os cartazes monotonamente estandardizados e as palavras de ordem pré-estabelecidas e previsíveis não perturbem a espontaneidade e a diversidade do protesto. Foi esse o factor central, decisivo, para o êxito do inesquecível 15 de Setembro.

                    Atualidade, Democracia

                    O fim da ilusão europeia

                    Enquanto lemos o ensaio Uma Grande Ilusão?, publicado pela primeira vez em 1996, baseado em palestras proferidas no Johns Hopkins Center de Bolonha e traduzido agora em Portugal, poderá surpreender-nos a capacidade de Tony Judt (1948-2010) para chegar, com vários anos de avanço, a conclusões hoje praticamente do domínio do senso comum. Naquela altura, o euroceticismo era dominado pela direita e o ideal de uma Europa política e economicamente unida ainda parecia constituir, pelo menos para a generalidade dos socialistas e dos social-democratas de esquerda, o fundamento de um futuro de prosperidade e de bem-estar social para a grande maioria dos cidadãos. Em Portugal, a proposta de uma «Europa connosco», utilizada pelo PS em 1975 para vencer as eleições para a Assembleia Constituinte, dera o mote para a projeção intramuros, por mais de vinte anos, dessa quimera de um continente unido, próspero e pacífico, no qual cada Estado deveria funcionar como peça perfeita de uma experiência eterna e de um todo harmonioso. No entanto, quando escreveu este texto, o historiador britânico desconfiava já da viabilidade desse projeto e, em consequência, do seu futuro. ler mais deste artigo

                      Atualidade, Opinião

                      O verão invencível

                      Albert Camus

                      «Au milieu de l’hiver, j’ai découvert en moi un invincible été.» «Em pleno inverno, descobri em mim um verão invencível.» Uma das frases sublinhadas de Albert Camus – retirada do ensaio Retour à Tipasa, composto em 1952 – que transporto sempre comigo num recanto seguro. Regresso a ela, como a um tónico, de cada vez que me vejo à beira da rendição. E tudo readquire um sentido pleno, luminoso, combatente.

                        Apontamentos, Olhares

                        A lusofonia como vocação

                        Depois de em 2007 ter publicado A Morte de Portugal, no qual desenvolveu um diagnóstico profundamente negativo da situação nacional e dos seus fundamentos históricos construídos durante a travessia dos séculos, o novo livro de Miguel Real retoma a preocupação com um entendimento do lugar do país perante o seu percurso temporal e o seu lugar no mundo, embora o faça agora numa tonalidade mais esperançosa. São quatro as teses, segundo o autor «simples, mas polémicas», que norteiam este ensaio. Para a primeira, o «espírito europeu» definiu a atual configuração do mundo e «a atual humanidade do homem», reportando o seu caminho histórico uma aventura ímpar que no essencial deve ser valorizada positivamente. De acordo com a segunda tese, a Europa encontra-se agora «em estado de esgotamento histórico», requerendo a rápida revitalização das suas nações constituintes. Na terceira procede-se a uma separação entre o «lugar natural» de Portugal, que é aquele conservado na comunidade dos Estados europeus, e o seu «lugar histórico», que de acordo com Miguel Real se realiza hoje na dimensão da Lusofonia (assim mesmo enunciada, com maiúscula). A quarta tese dialoga então com a ideia de um «destino histórico» para Portugal, proposta por Jorge Borges de Macedo, opondo-lhe, com uma menor dimensão de inexorabilidade, a de uma «vocação histórica». Esta é traduzida no cruzamento da recente experiência europeia, considerada incontornável, com a antiga aptidão imperial, no contexto de um espaço político internacional de igualdade e de prosperidade que, insiste, apenas poderá concretizar-se no âmbito da Lusofonia. Positivamente, o autor elogia então, e coloca as suas esperanças, numa «nova geração» que, procurando um caminho melhor para Portugal, deixa para trás o «país sonâmbulo» em que nos teríamos transformado e «assume sem complexos neocolonialistas a existência passada do Império», projetando-o no futuro de uma «língua comum» e de um «espírito comum». Na dimensão utópica de uma «política nova» capaz, sob o seu ponto de vista, de regenerar Portugal.

                        Miguel Real, A Vocação Histórica de Portugal. Prefácio de José Eduardo Franco. Esfera do Caos. 150 págs. Nota saída na LER de Setembro.

                          Atualidade

                          O triunfo do oxímoro

                          Depois da «abstenção violenta», a suave ameaça de António José Seguro que permanecerá durante algum tempo na nossa memória breve, António Capucho fala-nos agora de um «lapso monumental» a propósito da extinção, anunciada pelo governo liquidatário em exercício, da Fundação Paula Rego. O nosso tempo assiste ao triunfo do oxímoro.

                            Devaneios, Etc., Olhares

                            O incrível Mitt

                            Na New Yorker desta semana, o jornalista Nicholas Lemann conta num artigo biográfico intitulado «Transaction Man» a inacreditável história do primeiro encontro de um importante mórmon de Salt Lake City, Douglas Anderson, partidário dos democratas,  com Mitt Romney, o candidato republicano às presidenciais norte-americanas. Corria o ano de 1968 e Anderson acabara de entrar na Universidade de Stanford. Romney chegara a Stanford cerca de três anos antes, depois de ter viajado por França no seu trabalho como jovem missionário mórmon. Andava Anderson a passear pelo campus quando um estudante mais velho, que ele conhecia mal, lhe dirigiu uma pergunta: «És mórmon?». Anderson respondeu que sim. «E conheces Mitt Romney?». Não, não conhecia. «Mitt Romney é a pessoa mais excecional que alguma vez conheci!». E afastou-se. Pouco tempo depois Anderson descobriu que o desconhecido era o próprio Mitt.

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                              A hora (Cavaco’92)

                              A necessidade de neste domingo não falhar um compromisso, levou-me a ir à Internet para ter a absoluta certeza de que o fim do «horário de verão» não era já neste por estes dias. Fiquei então a saber que a ideia de reprogramar o dia foi lançada em 1784 por Benjamin Franklin, com o objetivo de diminuir o número de horas de escuridão e assim promover a poupança em cera para velas. No entanto o primeiro país a adotá-la oficialmente foi a Alemanha, e só em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial, como medida para economizar carvão. Em Portugal, entre 1992 e 1996, quando Cavaco Silva foi primeiro-ministro, a mudança ocorreu de forma ainda mais profunda e a nossa hora foi fixada para ser sempre, ao segundo, idêntica à alemã.

                              O objetivo da sumidade economista que presidia à iniciativa era mudar artificialmente de meridiano de modo a «facilitar as comunicações, os negócios e os transportes internacionais». Sucederam no entanto demasiadas queixas pelo facto da vida real ter ficado desfasada em relação à rota do Sol. No inverno, as pessoas saíam de casa pelas 9 horas da manhã, ainda o astro-rei despontava no horizonte. Já no pico do verão, o céu escurecia por completo apenas depois da meia-noite. Os casos de stress subiram em flecha e as crianças adormeciam durante as aulas. Além disso, provou-se que a poupança de energia que se ganhava ao final do dia se perdia depois com o aumento dos gastos matinais, pois os trabalhadores iniciavam o dia de luzes acesas e depois esqueciam-se de as apagar. Em 1996, com António Guterres, o disparate cavaquista foi corrigido e a hora voltou a adaptar-se aos hábitos e aos horários das pessoas.

                              Adenda – Ah, e não, não foi nesta passagem de sábado para domingo. Será um tanto mais adiante. A 29 de outubro, pelas 2 horas da madrugada, os relógios deverão ser atrasados em uma hora. Felizmente continuaremos desfasados de Berlim.

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                                Apartidários e antipartidários

                                Coimbra, 15 de Setembro

                                Não representa uma vantagem, mas sim um problema e um péssimo sintoma. Pode também ser um ponto de viragem para indispensáveis mudanças de atitude. Torna-se evidente que uma boa parte da dimensão e do êxito das manifestações anti-troika e anti-governo de 15 de Setembro se ficou a dever – para além, claro, da revolta genuína, profunda, dos cidadãos espoliados e ofendidos – ao seu caráter apartidário. A necessidade e a unidade na ação produziram então o necessário para que as bocas se abrissem: uma conjugação de vontades, fundadas em alguns objetivos elementares e comuns, que não se acharam submetidas a figuras tutelares, a discursos estereotipados, a «serviços de ordem» ou a previsíveis aproveitamentos. Essa foi a vantagem.

                                Já o problema começa quando o caráter apartidário degenera em sentimento antipartidário, e nada garante que a linha separadora das duas dimensões não tenha sido já transposta. Tanto no que diz respeito aos partidos do governo, quanto no que concerne àqueles que formalmente se lhe opõem. Chegamos então à perceção de que este pode ser o perigoso sintoma de uma certa rejeição da democracia representativa de base partidária tal como esta se encontra desenhada na Constituição, o que pode antecipar uma arriscada vertigem de caráter messiânico ou autoritário. Aguarda-se por isso que aquilo que aconteceu suscite, quanto mais não seja por efeito do instinto de sobrevivência, uma reflexão dentro dos próprios partidos. E que preludie uma reconfiguração do nosso mapa político e partidário, com a emergência de novas formas de organização, de ação, de discurso e de representação política. A esperança que nos alimenta reclama esta possibilidade.

                                Fotografia retirada do blogue Denuncia Coimbrã.

                                  Atualidade, Democracia, Opinião