A lusofonia como vocação

Depois de em 2007 ter publicado A Morte de Portugal, no qual desenvolveu um diagnóstico profundamente negativo da situação nacional e dos seus fundamentos históricos construídos durante a travessia dos séculos, o novo livro de Miguel Real retoma a preocupação com um entendimento do lugar do país perante o seu percurso temporal e o seu lugar no mundo, embora o faça agora numa tonalidade mais esperançosa. São quatro as teses, segundo o autor «simples, mas polémicas», que norteiam este ensaio. Para a primeira, o «espírito europeu» definiu a atual configuração do mundo e «a atual humanidade do homem», reportando o seu caminho histórico uma aventura ímpar que no essencial deve ser valorizada positivamente. De acordo com a segunda tese, a Europa encontra-se agora «em estado de esgotamento histórico», requerendo a rápida revitalização das suas nações constituintes. Na terceira procede-se a uma separação entre o «lugar natural» de Portugal, que é aquele conservado na comunidade dos Estados europeus, e o seu «lugar histórico», que de acordo com Miguel Real se realiza hoje na dimensão da Lusofonia (assim mesmo enunciada, com maiúscula). A quarta tese dialoga então com a ideia de um «destino histórico» para Portugal, proposta por Jorge Borges de Macedo, opondo-lhe, com uma menor dimensão de inexorabilidade, a de uma «vocação histórica». Esta é traduzida no cruzamento da recente experiência europeia, considerada incontornável, com a antiga aptidão imperial, no contexto de um espaço político internacional de igualdade e de prosperidade que, insiste, apenas poderá concretizar-se no âmbito da Lusofonia. Positivamente, o autor elogia então, e coloca as suas esperanças, numa «nova geração» que, procurando um caminho melhor para Portugal, deixa para trás o «país sonâmbulo» em que nos teríamos transformado e «assume sem complexos neocolonialistas a existência passada do Império», projetando-o no futuro de uma «língua comum» e de um «espírito comum». Na dimensão utópica de uma «política nova» capaz, sob o seu ponto de vista, de regenerar Portugal.

Miguel Real, A Vocação Histórica de Portugal. Prefácio de José Eduardo Franco. Esfera do Caos. 150 págs. Nota saída na LER de Setembro.

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