O som do silêncio

Numa crónica publicada em 2003, Manuel António Pina recordava aquela que era, para Walt Withman, a estreita relação entre o autor e quem o lê: «O leitor sabe que, quando é de noite, estamos ambos sós.» Depois de lembrar a afirmação do poeta nova-iorquino, Pina continuava com as próprias palavras: «Só nos livros são possíveis ainda a noite e a solidão, em tempos de holofotes por todos os lados. E quanto os homens precisam de solidão, de se escutar a si mesmos na numerosa voz dos livros! E, em tempos como estes, barulhentos e estridentes, de silêncio!» Pouco mais de uma década depois disto ter sido escrito, o ruído não cessou de aumentar e são cada vez menos os que compreendem a necessidade da leitura imersiva e solitária que nos faça pairar por instantes na cápsula do tempo. Permitindo, como no intervalo de uma competição desportiva ou de uma tarefa difícil, que ganhemos força para prosseguir a jornada. Para não perdermos o norte enquanto tudo em redor acelera. Para não nos deixarmos cegar frente ao excesso de luz. Para que a razão não soçobre perante a estridência, deixando à solta o pior de nós.

    Apontamentos, Atualidade, Leituras, Olhares

    Mentiroso compulsivo

    Adolf Eichmann

    Agora que assentou um pouco de poeira sobre a efabulação de José Sócrates a propósito da sua memória do Portugal-Coreia do Norte de 1966 e da atuação de Eusébio nesse jogo, já posso contar um pequeno episódio ocorrido comigo. Durante anos garanti, sem qualquer sombra de dúvida, que a minha recordação mais recuada da visão da morte de alguém se relacionava com a execução em Jerusalém, a 1 de Junho de 1966 (de novo 66!) de Adolf Eichmann, o tenente-coronel das SS cujo processo Hannah Arendt imortalizou. Mais: jurei durante décadas e a pés juntos que a execução fora por eletrocussão e tinha sido transmitida em direto pela televisão. Fi-lo convicto de me lembrar perfeitamente de tudo aquilo. Era mesmo capaz de descrever ao pormenor as impressões mais fortes que vivera no momento e que me haviam «marcado». Só muito depois pude saber que a execução do criminoso nazi tinha ocorrido afinal em Ramla, que fora por enforcamento e que não, de modo algum fora transmitida em direto ou em diferido pela televisão. Dispenso-me de comentar os motivos de tamanha confusão na cabeça do antigo puto de calções que, provavelmente como Sócrates, então eu fui. Devo ser um mentiroso compulsivo e sem remissão, Deus me perdoe. [E não é que menti de novo! Em Junho de 1966 já não usava calções.]

      Apontamentos, Atualidade, Memória

      Marina

      Marina Ginestà

      Aos 97, Marina Ginestà, veterana francesa da Guerra Civil de Espanha, morreu em Paris no dia 6 de janeiro. O seu rosto tornou-se conhecido graças a uma fotografia tirada pelo alemão Hans Gutmann no terraço do Hotel Colón, em Barcelona [clique na imagem para ampliar]. Marina, combatente republicana e militante da Juventude Socialista Unificada, tinha então 17 anos e toda a esperança do seu lado. Reagindo muito mais tarde ao facto de ter dado rosto, durante algum tempo sem o saber, a uma das mais icónicas imagens da guerra, fez um comentário que dava um livro: «Dizem-me que tinha ali um olhar altivo. É bem possível. Vivíamos então a mística da revolução proletária e das imagens de Hollywood, de Greta Garbo e de Gary Cooper.»

        Apontamentos, Biografias, História, Memória

        Coragem e convicção

        Este anúncio publicado em finais de 1913 no Times londrino pelo explorador irlandês Ernest Shackleton, quando este procurava homens para integrar a viagem aventurosa de exploração e travessia da Antárctida que comandou entre 1914 e 1916, é verdadeiramente extraordinário. Os termos do anúncio prometem o pior – «jornada arriscada, baixo salário, frio penetrante, longos meses de completa escuridão, perigo constante, duvidoso regresso em segurança» – mas termina com a previsão, «em caso de sucesso», da única e maior das recompensas: «honra e reconhecimento». Nem todos os voluntários integrariam a equipa de 56 homens que em dois navios deixaram as águas britânicas a 8 de Agosto de 1914 para uma viagem que teria momentos intensamente dramáticos. Quem no seu perfeito juízo, nestes tempos de «turismo de aventura» e de riscos muito calculados, estaria em condições de responder afirmativamente a um desafio destes e de pôr-se a caminho de todos os perigos?

        Frank Wild
        Frank Wild, um dos oficiais da expedição
          Apontamentos, História, Olhares, Recortes

          O ano de todas as esperanças

          Este é o ano do 40º aniversário do 25 de Abril. Para muitos portugueses, a data relaciona-se com a sua experiência de vida. Se já não eram crianças na época que o antecedeu, se não perderam de todo a memória ou se não estavam comprometidos com o regime derrubado, para eles a data incorpora uma corrente forte de recordações. Para os restantes, aqueles que atingiram a idade da razão já depois da data fundadora da democracia, aquilo que os aproxima dela é principalmente a memória transmitida pelos mais velhos e a dimensão simbólica que ela foi incorporando. ler mais deste artigo

            Atualidade, História, Opinião

            Nos 120 anos de Mao

            Mao

            A 26 de novembro completaram-se 120 anos sobre o nascimento de Mao Tsé-Tung. A data foi lembrada em muitos lugares e em diferentes suportes, sobretudo em blogues e murais do Facebook, ou nas primeiras páginas das edições online de respeitáveis diários, mas só lhe atribuiu um destaque maior que o habitualmente concedido a uma vulgar efeméride – como a data da morte de um político ou o dia exato de uma descoberta científica – quem ainda seja capaz de reconhecer alguma coisa de positivo na intervenção pública e no legado histórico do antigo dirigente comunista chinês. ler mais deste artigo

              Atualidade, Biografias, História, Opinião

              O vento mudou e não voltarão

              De acordo com o Diário de Notícias desta sexta-feira, «o Governo estima que em 2012 tenham saído do país mais de 120 mil portugueses, um número apenas repetido nos anos 60». Mais ainda terão emigrado em 2013, mas as contas não se encontram fechadas. No entanto (ó surpresa!), as remessas de dinheiro enviadas para Portugal não estão a crescer na mesma proporção. Ora outra coisa não seria de esperar: apesar de mais qualificada, a grande maioria dos novos emigrantes é jovem, procura o primeiro emprego estável, e precisa investir o que começa a juntar na organização da sua própria vida. Se é que em contexto geral de crise consegue juntar alguma coisa que não precise gastar de imediato. Além disso, as novas condições de vida, idênticas, no essencial, na maior parte dos destinos da nova emigração, já não são as dos tempos de Linda de Suza e das «saudades da terrinha». E cidadão algum no seu perfeito juízo se sente propriamente com vontade de enviar dinheiro para o país deprimido e ingrato que o forçou a emigrar. Se quem nos empurrou para este cenário espera que a fuga de jovens quadros produza, como no passado, um fenómeno subsequente de torna-viagem, com um dinheirito a pingar regularmente numa conta a prazo da agência bancária local, mais a construção de uma casa com garagem ou a abertura de uma croissanteria ou de um aviário, bem pode esperar sentado. Ao procurar vender-nos essa ficção, reforça a evidência da sua má-fé e confirma a completa ausência de um desígnio para o país. Este ou um outro, melhor e futuro.

                Apontamentos, Atualidade, Olhares

                Um Natal pesado

                O Natal fez sempre parte dos meus calendários. Embora, como acontece com a maioria das famílias portuguesas, a minha não levasse as datas e as práticas do seu catolicismo muito a peito. Talvez por isso a dimensão de sagrado da quadra sempre me tenha sido em boa medida estranha. Nunca assisti a uma «Missa do Galo» e durante anos mantive a convicção que nela se degolava, de facto, um pobre e indefeso galináceo. O meu Natal era feito só de doces muito doces, da ceia noturna, do horror de comer bacalhau (as voltas que a vida dá: agora um prazer), e principalmente dos presentes mais ou menos acompanhados de uns quantos desapontamentos. ler mais deste artigo

                  Atualidade, Devaneios, Olhares, Opinião

                  Pior que pobres só pobres sem esperança

                  José Pacheco Pereira no Público deste sábado, 21/12, em «O PS não é confiável como partido da oposição».

                  «No passado podia haver pobres, estes tinham, porém, a possibilidade de ter uma dinâmica social e política para saírem da pobreza, uma capacidade de inverterem as relações sociais que lhes eram desfavoráveis. Eram pobres, mas não estavam condenados à pobreza. Era isso a que se chamava “a melhoria social”, num contexto de mobilidade e num contrato social que permitia haver adquiridos. Agora tudo isso aparece como um esbanjamento inaceitável, e o que hoje se pretende é que os pobres, cada vez mais engrossados pela antiga classe média, sejam condenados à sua condição de pobreza em nome de uma crítica moral ao facto de “viverem acima das suas posses”, perdendo ou tornando inútil os instrumentos que tinham para a sua ascensão social, a começar pela educação, pela casa própria, e a acabar nas manifestações e protestos cívicos, as greves e outras formas de resistência social. É um conflito de poder social que atravessa toda a sociedade e que se trava também nas ideias e nas palavras, em que a comunicação social é um palco determinante, com a manipulação das notícias, a substituição da informação pelo marketing e pela propaganda.»

                    Apontamentos, Atualidade, Recortes

                    Coimbra como destino

                    Fotografia de Daniel Palos

                    Um despacho da Lusa, veiculado por diversos jornais, divulgava há dias o impasse em que se encontra Coimbra como destino turístico. Apoiados num trabalho de investigação e em diversos testemunhos, os dados revelados não são muito animadores. No essencial, reconhecia-se um razoável aumento do número de visitantes, mas sublinhava-se também o facto de as visitas serem em regra de curtíssima duração, transformando a cidade num apeadeiro e não num destino. A situação traduz, como era de prever e se queixaram alguns dos entrevistados, uma escassa rentabilização do movimento de não-residentes, com um baixo número de dormidas, um impacto residual no comércio local e uma reduzida influência na atividade dos organismos vocacionados para a cultura e o lazer. ler mais deste artigo

                      Cidades, Coimbra, Opinião

                      Os nossos interesses

                      De acordo com a lista anual na qual, como vem sendo habitual, a Google anuncia as palavras mais pesquisadas na Internet portuguesa, a atriz pornográfica Érica Fontes bate aos pontos Cristiano Ronaldo, tendo o cantor Tony Carreira ficado em terceiro lugar na classificação das «celebridades». Particularmente interessantes são os filmes mais pesquisados, liderados pelo seminal Velocidade Furiosa 6, logo seguido de Spring Breakers – Viagem de Finalistas. No top da comida e bebida, e contrariando a premiada dieta mediterrânica, ganha o bolo de chocolate, relegando para segundo plano o bolo de iogurte e uma vaga entidade designada «petiscos». Na classificação das marcas de automóvel, a tendência é mais para a mania das grandezas: o primeiro lugar é da Mercedes, seguida da BMW. Não admira pois que um grande número de portugueses – principalmente menores de 25 anos, aqueles que mais utilizam os motores de busca da Internet – se interesse tão pouco pelo seu próprio destino. Ou então, como a aplicação informática mais procurada é o Google Maps, estará já de malas aviadas, à procura de outra pátria.

                        Apontamentos, Devaneios, Olhares

                        Uma clarividência inaceitável

                        Um artigo de Antonio Muñoz Molina publicado no Babelia – El País de 12 de Novembro de 2013. A propósito das apropriações redutoras de Albert Camus, levadas a cabo no ano do seu centenário, e da resistência que as suas palavras levantam a esse processo.

                        Una claridad inaceptable

                        Antonio Muñoz Molina

                        Canonizar a Camus en la ocasión oficiosa de su centenario es seguir empeñándose en lo que ni sus peores enemigos lograron cuando estaba vivo: domesticarlo, o en su defecto sepultarlo en la irrelevancia, o peor todavía, en el malentendido. Más de medio siglo después de su muerte, cuando las causas que más le importaron —la guerra de la independencia de Argelia, la revolución antisoviética en Hungría— ya están olvidadas, cuesta poco seleccionar unas cuantas frases suyas que suenen bien y ponerlas al pie de una de sus fotografías en blanco y negro para lograr un Camus confortable, que nos venga bien para legitimar nuestras posiciones o nuestros prejuicios. Seguro en su lugar del pasado, inmóvil en sus imágenes como un santo en una hornacina, leído por encima o citado de oídas, y desde luego desprendido de las controversias feroces que lo angustiaban y lo estimulaban, Camus queda solemne, indiscutible, irrelevante en el fondo, un escritor con madera de galán del tiempo en que los intelectuales salían en las fotos con un cigarrillo en la boca, fotogénico, eso sí, más fotogénico que ningún otro, ideal para pósters de librerías y portadas de suplementos literarios. ler mais deste artigo

                          Ensaio, Heterodoxias, Leituras, Recortes

                          A luta continua

                          A Terceira Noite tem permanecido bastante mais silenciosa do tem sido o habitual ao longo dos perto de oito anos de vida que já leva. O calamitoso panorama tem vindo a acentuar-se em alguns momentos críticos destes últimos 365 dias. Deve-se tal situação a uma fase de maior trabalho e dispersão do seu autor, mas jamais a uma desistência. Talvez a solução para contornar a dificuldade passe mesmo por alterar um pouco alguns dos conteúdos, integrando textos mais pequenos e fugazes. Vamos ver se é possível. Ou se será esta a melhor saída para o momentâneo impasse. Mas a luta continua. E la nave va…

                            Apontamentos, Oficina

                            Heróis, precisam-se

                            Fot. Luis Cardia

                            Condenado à morte por haver conspirado contra o czar, e após ter visto a pena ser comutada para prisão e degredo quando já se encontrava perante o pelotão de fuzilamento, Dostoievski acabaria por ser deportado para a Sibéria, onde seria mantido em regime de trabalhos forçados entre 1849 e 1854. Como se tal não tivesse bastado, avaliações posteriores iriam, na terra que fora a sua, condená-lo a um novo exílio. Assim, até 1953 os manuais de história e de literatura em vigor na União Soviética repudiaram a sua obra como «expressão da ideologia reacionária burguesa individualista». O fundamento desta acusação e da condenação liminar dos seus romances não se encontrava tanto nos enredos ou na evocação neles contida de valores considerados caducos, próprios de um tempo que a revolução de Outubro pretendera vencer, mas na tipologia dos seus heróis, preocupados acima de tudo com a fidelidade aos princípios e aos objetivos morais, mesmo quando, momentaneamente, as circunstâncias («o social», como alguns diriam) os podiam, ou deveriam, fazer vacilar. ler mais deste artigo

                              Biografias, Democracia, Leituras, Olhares

                              Mandela e os crocodilos

                              Dostoievski declarou certa vez que as suas maiores angústias derivavam de «uma doença incurável chamada consciência». Não padecem de tal doença os moralistas de direita, insaciáveis na sua sanha de se baterem contra todas as iniciativas que têm como objetivo a expressão concreta, vivida, da solidariedade humana – não, não conta para este campeonato a sua preocupação natalícia com a caridade – quando vertem lágrimas de crocodilo pela morte de Nelson Mandela. Bem os vi, a eles ou aos paizinhos deles, muito calados e quietos enquanto o herói ocupava a cela com número 466/64 na prisão da Ilha Robben.

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                                Odessa, cidade-escrita

                                Todas as cidades, em particular aquelas que têm uma longa história e por isso uma forte capacidade magnética, integram uma tensão entre a vida vivida e as representações que delas os livros vão guardando. Baudelaire, Kafka e Pessoa construíram «cidades literárias» que não se confundem com as descrições prosaicas dos que habitaram as ruas e casas de Paris, Praga ou Lisboa. Odessa, a cidade-porto ucraniana do Mar Negro, é todavia um caso singular, dado o seu percurso, composto de reminiscências nostálgicas e futuros plausíveis, ter sido em larga medida ficcionado através da escrita. Tanya Richardson, que a tem visitado inúmeras vezes, lembra, em Kaleidoscopic Odessa (2008), o seu caráter intenso e singular advindo de uma cultura complexa, de uma história sinuosa, de um cosmopolitismo que alimentou um forte sentimento de pertença e até de missão. ler mais deste artigo

                                  Cidades, Leituras, Memória, Olhares

                                  Da autocensura

                                  Quando vejo a subserviência e a ausência de coragem que pairam aí por tantas redações de jornais, rádios e televisões, com tantos jornalistas, mais papistas que o papa, a autocensurarem-se – eu sei, eu sei, que não são todos e que andam por aí muitos dos bons –,  em vez de assumirem com nobreza e determinação a missão que é a sua, ocorre-me voltar a dois parágrafos exemplares de Manuel António Pina, saídos no Notícias Magazine em Outubro de 2011, como parte de uma crónica em registo memorialista.

                                  Jovem repórter, fui uma vez enviado a Aveiro para cobrir o II Congresso da Oposição Democrática. Todos os dias escrevia dois ou três linguados e todos os dias a Censura reduzia a reportagem a duas ou três linhas. Ora aconteceu passar no Cine Teatro Aveirense (o Congresso decorria no Avenida) um filme que não queria perder, La bête humaine, de Jean Renoir. Decidi – pois, de qualquer modo, a Censura cortaria o mais que escrevesse – dizer do que, naquele dia, se passara no Congresso pouco mais que quem interviera e sobre o quê, e fui ver Renoir. Manuel Ramos [chefe de Redação] ficou furioso. «Mas é a única coisa que a Censura deixa sair…», tentei justificar-me. E a lição de Manuel Ramos: «A Censura que corte, é o seu papel. O nosso é escrever tudo, independentemente de haver ou não Censura».

                                  Contra todas as expectativas, acabou por ser um dia feliz, vi La bête humaine e aprendi algo fundamental sobre a minha profissão: podemos ser forçados a calar-nos, mas é inaceitável que nos conformemos e nos calemos por nossa iniciativa.

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                                    O pântano e a dignidade

                                    Fotografia de Nira González

                                    Era prática corrente da propaganda do antigo regime a exibição contínua e manifestamente exagerada das pequenas vitórias caseiras. Estas deveriam provar, dentro e para fora das fronteiras, que se éramos pobres e «felizmente atrasados», como Salazar chegou certa vez a descrever-nos, expondo sem artifícios a sua conceção rural e imóvel do mundo, tal não nos impediria de ser melhores que os outros em modestas mas honradas áreas de atividade. Mas por aí deveria ficar o limite da nossa ambição. ler mais deste artigo

                                      Atualidade, Olhares, Opinião