Os «Homens dos Monumentos»

Monuments Men – Caçadores de Tesouros, realizado e interpretado por George Clooney, não é um grande filme. O ritmo é algo trôpego, a caracterização dos personagens quase sempre insípida – salva-se Cate Blanchett como Claire Simone, na verdade Rose Valland, a «Capitaine Beaux-Arts» – e nota-se uma hesitação excessiva entre a comédia que o não é e o drama que o não chega a ser. Melhora bastante na última meia hora, mas como filme convida um tanto ao bocejo de quem tenha dormido mal. Existe, porém, algo que o torna importante e o fará permanecer na memória de quem o viu.

O argumento baseia-se num episódio da Segunda Guerra Mundial, quando, a partir de 1943, 350 homens e mulheres de 13 países – a maioria diretores de museus, críticos de arte ou especialistas em restauro – passaram a integrar o exército aliado com o objetivo de minimizarem os danos provocados em igrejas, mosteiros e palácios pelos combates cada vez mais ferozes. Mas a missão rapidamente passou a outro patamar, ocupando-se também com o resgate e a devolução, a partir da linha da frente, de mais de cinco milhões de objetos de arte que as tropas alemãs haviam confiscado a museus e colecionadores privados europeus, muitos deles judeus. Boa parte para serem incorporados no futuro Museu de Hitler, a erguer em Linz, Áustria, como apoteose do mentor desse Reich supostamente destinado a durar mil anos.

George Stout, em quem o Frank Stokes de Clooney se inspira, foi o último militar do primeiro destacamento dos «Homens dos Monumentos» a deixar a Europa, e é na história heroica e por longo tempo esquecida do seu grupo que o filme se inspira. Dele sobressai um exemplo hoje particularmente admirável: o de ser possível tantas pessoas, por puro amor à arte e por respeito pelo legado cultural da humanidade, terem sido capazes de pôr a própria vida em risco. Alguns morreram mesmo nessa missão, sacrificados para que possamos continuar a partilhar tanta beleza. Coisa impensável para a espécie de gente ignara e miserável que agora nos cerca, para quem a cultura e a arte possuem mero valor facial, ou servem, como serviam aos dignitários nazis, para decorar paredes e conferir estatuto.

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