Um país seguro, tenham paciência

Em 2025 Portugal subiu uma posição (7º lugar global, 5º da Europa, em 163) e ultrapassou a Dinamarca na lista dos países mais seguros. Esta é a verdade, reconhecida pelo Institute for Economics and Peace, que contraria a mentira generalizada, construída sobre pequenos episódios, propagada pela extrema-direita e que agora o nosso centro-direita também adotou. Documento completo: https://www.visionofhumanity.org/wp-content/uploads/2025/06/Global-Peace-Index-2025-web.pdf

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    O governo e o regresso de Fritz Kahn

    Parte de uma notícia do Público a propósito de uma medida a ser preparada pelo nosso pudico governo. Seguida de comentário.

    «A sexualidade poderá começar a escapar dos debates entre professores e alunos já no próximo ano lectivo, pelo menos na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, tal como indiciam os documentos orientadores da disciplina, que estão em consulta pública até ao dia 1 de Agosto. Mas, abandonando esta disciplina, onde é que a sexualidade pode ser ensinada? Deixará a educação sexual de ter um espaço no percurso escolar dos diferentes alunos? A resposta imediata é não, mas assumindo, como lembra (…) o presidente da Direcção Associação Nacional de Dirigentes Escolares, que, “em termos curriculares, a sexualidade é trabalhada de forma meramente científica, na perspectiva dos órgãos e do funcionamento dos órgãos”, muitas dimensões fundamentais na educação dos jovens para a sexualidade caem por terra. “A sexualidade extravasa em muito a biologia”, lembra o representante dos directores. Sem ela, “os miúdos usam muito menos preservativos e ficam mais desprotegidos”, critica Margarida Gaspar de Matos.»

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      Democracia, Direitos Humanos, Olhares, Opinião

      Algumas linhas sobre o ativismo

      Um útil apontamento publicado no Facebook por António Pais remete para uma declaração de Manuela Carmena, deixada em entrevista ao El País, que me levou até um padrão de leitura do papel do ativismo e dos ativistas na qual tenho pensado bastante e que me parece valer a pena debater. Carmena, nascida em 1944, é uma jurista e juíza espanhola, que foi militante dom PCE entre 1965 e 1981, vindo mais tarde, entre 2015 e 2019, a tornar-se alcaide de Madrid por uma coligação de esquerda. Este ano lançou Imaginar la vida: Cuatro décadas transformando lo público, que é um livro de memórias. 

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        O recuo das humanidades como problema coletivo 

        A partir dos anos noventa passou a falar-se bastante, sobretudo entre quem as tenha no eixo das suas vidas, do recuo, ou da crise, das humanidades. Isto é, de uma rápida e acentuada desconsideração pública dos saberes e das práticas que estudam e transmitem a experiência humana, incluindo-se neles a literatura, as ciências da linguagem, a história, a filosofia, os estudos culturais e as artes. Todos procuram compreender e partilhar as formas usadas pelos seres humanos para se expressarem, interagirem e criarem significados nos planos pessoal e coletivo, combinando diferentes modos de estar no mundo, de o entender, de o representar e de o transformar. 

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          Cuidado com o Academia.edu

          Comecei em janeiro de 2021 a usar a versão Premium do Academia.edu. Tem inúmeras vantagens, desde servir de repositório público para as nossas publicações, até oferecer as de muitas outras pessoas, pesquisando por temas e mesmo por conteúdo dentro das dezenas de milhões de textos que armazena. E avisando também sobre a entrada de novos artigos que nos possam interessar. Só vantagens, parece. Ao ponto de se ter transformado num lugar fulcral para a divulgação do meu trabalho, para a investigação e para contactos.

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            Uma direita «democrática» sem máscara

            A direita portuguesa do pós-25 de Abril teve, na sua matriz, algo que faz com que a sua atual aproximação em relação às propostas e ao discurso da extrema-direita não sejam de todo inesperadas. Na verdade, com exceção de escassas e isoladas escolhas pessoais, jamais tivemos uma direita organizada e politicamente fundamentada como aquela que existiu, e ainda existe, na França, na Grã-Bretanha, na Itália, na Alemanha ou nos países escandinavos. Uma direita neoliberal, mas vinculada aos princípios essenciais da democracia cristã, do personalismo, ou mesmo do liberalismo humanista, que foi sempre, sobretudo a partir do pós-Segunda Guerra Mundial, democrática e multilateralista, mesmo quando contestou o estado social e defendeu políticas que puseram em causa direitos adquiridos e formas de igualdade e de solidariedade. 

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              Os partidos políticos não são…

              Os partidos políticos não são afáveis e alegres grupos de amigos que, com algumas reuniões de permeio, convivem entre si e fazem excursões. São compostos por pessoas muito diferentes, unidas por convicções comuns, que transportam para dentro do todo formas de ser e de estar também muito diversas. Isto ainda se nota mais nos partidos de massas e de poder, sempre maiores, e que integram, mais que os outros, pessoas que em certas alturas deles se aproximam por um impulso ou por oportunismo.

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                O candidato e o canto da velha sereia

                Como vivemos em democracia, pela qual o PCP tanto e tão custosamente se bateu, obviamente este tem todo o direito a escolher o seu próprio candidato presidencial. Como o fez, aliás, em outras eleições análogas. O que me parece inaceitável é apresentá-lo como.«o único candidato progressista», ou «agregador de todos os que defendem a Constituição», proclamando ao mesmo tempo que o partido jamais desistirá da candidatura de António Filipe em favor de outra que interesse mais, no cenário presente de avanço da direita, ao conjunto da esquerda.

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                  «No prelo»

                  Ao passar por um dos meus artigos académicos iniciais, publicado em 1982, deparei com a referência a um segundo volume de um título cujo primeiro tomo citei, indicando-o como estando «no prelo». Isto é, em fase de impressão tipográfica. Era ainda uma prática muito usual, a de fazer sair obras em dois volumes indicando que o segundo se encontrava nessas condições. Num grande número de vezes, porém, nem isso era verdadeiro: tratava-se apenas de uma intenção jamais cumprida. Costume também era alguém indicar um título seu, fosse de livro ou de artigo, que considerara a hipótese de publicar, como estando no tal inexistente «prelo». Tratava-se de uma forma artificial – talvez melhor: fraudulenta – de ampliar currículos pequenos ou inexistentes.

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                    Apontamentos, Etc., Memória, Olhares

                    Um estado de confusão generalizada e de incerteza

                    Aprendi a ler cedo, antes ainda da primária, pela mão de um avô que gostava que lesse sem soletrar, aos amigos dos seus encontros matinais de maledicência, artigos inteiros do jornal diário. Talvez por isso, tornei-me viciado em notícias, usando-as, sem falhar um dia, para conhecer e entender os caminhos do mundo. Numa rápida retrospetiva de tanto tempo a absorver informação – juntando-lhe sempre o insubstituível conhecimento histórico –, posso dizer que não me recordo de viver uma época pautada por uma situação política global tão caótica e de difícil decifração quanto a que agora nos cabe. Prova disto é a visível incapacidade dos analistas políticos, mesmo dos mais bem preparados, para interpretar os acontecimentos em curso e lhes antecipar consequências. 

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                      Memória, ignorância e inocência do mal

                      Deparei no Facebook, num grupo sobre o passado da cidade de Coimbra, com esta fotografia, tirada em 25 de junho de 1939 no Campo das Salésias, quando ali a Académica venceu o Benfica por 3-1, conquistando pela primeira vez a Taça de Portugal. Todavia, o texto, razoavelmente longo, que acompanhava a imagem, conseguia a proeza de evocar o momento sem referir a bem visível saudação fascista que, no início do jogo, ambas as equipas fizeram de um modo unânime. Pior: quando uma pessoa atenta deixou nos comentários uma referência ao facto, foi sucedida por uma série de contra-comentários agressivos e ignaros, às dezenas, onde se diziam coisas como «era apenas uma saudação habitual na época» ou «naquele tempo as pessoas não se metiam em políticas» (sic).

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                        Trump e as dificuldades dos analistas

                        Não recordo outro momento da história recente no qual os analistas políticos se mostrem tão claramente incapazes de interpretar os acontecimentos e, sobretudo isso, de lhes antecipar as consequências. Pior ainda que a primeira, a segunda versão da presidência Trump confronta-se com escolhas erráticas, medidas tomadas por impulso, sobreposição afirmativa do ego ao interesse coletivo, incapacidade para promover uma ideia clara e lhe dar sequência, narcisismo doentio, perversão de regras básicas da sociabilidade e da diplomacia por troca com comportamentos sempre inesperados e agressivos, muitos deles a raiar a arruaça. Isto é, atitudes doentias, de um foro cada vez mais claramente patológico, assumidas por quem governa a nação militar e economicamente mais poderosa do planeta. Nesta condições, todo o juízo crítico do analista, que não é um adivinho, é sempre arriscado, com tendência para se concentrar nas meras hipóteses e para se tornar falível cinco minutos depois. Algo novo, particularmente perigoso, dado abordar o rumo de quem tem nas mãos o poder imperial supremo da paz e da guerra.

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                          Neonazis: Portugal vs. Ucrânia

                          A nossa esquerda mais ortodoxa e imobilista continua, na tentativa de justificar, ou pelo menos de «explicar», a agressão militar russa sobre a Ucrânia, a invocar – basta frequentar certas páginas de redes sociais, mesmo as de algumas pessoas daquela franja com livros e estudos, para vermos as enormidades que por ali desfilam e se procuram «provar» – o carácter supostamente «neonazi» do governo e do parlamento de Kiev. Se é historicamente verdadeiro que, na época da invasão da União Soviética por Hitler, existiram setores locais que a apoiaram, como aconteceu, aliás, dentro da própria URSS e de outros estados da região, jamais esses grupos, que contam ainda hoje com alguns nostálgicos apoiantes, constituíram uma maioria significativa da nação ucraniana. 

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                            Ninguém é apenas admirável

                            Pelo que conheço da espécie humana, concordo plenamente com a frase de Franco Basaglia «de perto ninguém é normal», tantas vezes atribuída a Woody Allen ou a Caetano Veloso. O mesmo se aplica às pessoas que, em abstrato, e sobretudo quando desaparecem, consideramos admiráveis. Pelas circunstâncias e pela extensão da minha vida, conheci de perto largas centenas de homens e mulheres notáveis, hoje já fora desta vida, que, quando partiram – e mais agora com a facilidade das redes sociais – foram logo associados apenas ao que de melhor foram fazendo. E, todavia, sabendo o que sei (e vi) de muitas delas, vejo como tantos elogios são por vezes exagerados ou até de todo imerecidos.

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                              Subavaliar a violência neonazi

                              É completamente inaceitável comparar as organizações terroristas de extrema-direita existentes em Portugal com os grupos que, no passado, se serviram da violência armada enquadrados na chamada extrema-esquerda. Em Portugal, só no final do Estado Novo surgiram três grupos dessa natureza – a ARA, a LUAR e as Brigadas Revolucionárias – e que, ainda assim, possuíam como objetivo central danificar o aparelho militar do regime. Depois do 25 de Abril, e na ressaca do PREC, apenas tiveram existência efetiva as FP-25, o que aconteceu entre 1980 e 1987. Isto é, há quase quarenta anos. Ainda que no plano teórico algumas pessoas e pequenos grupos de esquerda possam defender a dimensão fundadora da «violência revolucionária», não existe qualquer um que a procure pôr em prática. Muito menos contra as instituições da democracia e pessoas singulares. Isso fazem, como se pode agora ver com clareza, os neonazis, e equiparar as suas organizações violentas e criminosas às que, do lado oposto, excluem de todo essa vertente, é, mais do que errar o alvo, subavaliar o seu potencial perigo e de algum modo desculpabilizá-las.

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                                O que fazer com esta espécie de gente?

                                Com a derrota dos principais fascismos na Segunda Guerra Mundial, começou a instalar-se em grande parte do mundo, e de forma mais rápida e acentuada na Europa e nas Américas, uma experiência de civilidade democrática e cosmopolita que, apesar das desigualdades e dos conflitos, envolveu um setor cada vez mais amplo da população, moldando a sua forma de viver e de olhar o mundo. É verdade que em Portugal e Espanha subsistiam ditaduras, mas estas começavam a recuar face a uma crescente resistência. E a Leste do continente, onde regimes autoritários procuravam impedir qualquer abertura, emergiam também sinais de mudança. A viragem democrática na Península Ibérica, materializada entre 1974 e 1978, e as rápidas mudanças nos países do «socialismo real» que ocorreram após a queda do Muro de Berlim, não emergiram do nada.

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                                  Não haverá uma guerra civil na América

                                  Tenho encontrado por aí, em alguns artigos de opinião, embora escassos, mas principalmente em apontamentos e comentários das redes sociais, referências à eventualidade de os Estados Unidos da América caminharem a passos largos e muito rápidos para um guerra civil. Por vezes, este padrão de comentário disfarça um certo comprazimento, admito que algo inconsciente, mas presente nas entrelinhas, situado entre um «eles afinal merecem» e um «pode ser que assim o assunto se resolva». Não considerando agora o facto de as guerras civis serem as mais terríveis, mortíferas e traumáticas de todas as guerras, com um nível de destruição material e espiritual que raramente outras produzem, importa salientar que elas deixam nos povos um rastro de medo, pesadelo e sofrimento que, associado a desejos de vingança, se prolonga por gerações.

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                                    Em defesa do Bloco

                                    Como democrata e homem de esquerda, parece-me completamente intolerável, além de bastante perigosa, a vaga de depreciação da qual o Bloco de Esquerda está agora a ser objeto. Não apenas pela direita em geral, o que não será grave – seria até um mau sinal se tal não acontecesse –, mas por muitos jornalistas e comentadores com assento cativo nas televisões e nos jornais. Alguns fazem-lhe até uma espécie de funeral antecipado, equiparando o seu eventual desaparecimento à morte de toda a esquerda como ideal, como projeto e como solução, falando mesmo do fim de uma época da história das lutas sociais e das democracias.

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