Wallerstein e a aproximação da esquerda

Immanuel Wallerstein

Em artigo publicado no Esquerda.net, Immanuel Wallerstein fala dos grandes desafios colocados à esquerda mundial depois de 2011, que considerou «um bom ano». As razões desta qualificação positiva relacionam-se com a perceção, por parte de um número crescente de pessoas, da necessidade absoluta de uma alteração radical de sistema, lançada «contra a excessiva polarização da riqueza, os governos corruptos e a natureza essencialmente antidemocrática desses governos, tenham ou não sistemas multipartidários». Por isso, pela primeira vez em muito tempo, em tantos lugares tantas pessoas comuns passaram a questionar a própria natureza do sistema em que vivem, deixando de o ver como imutável e ampliando assim as condições subjetivas necessárias à sua alteração.

O sociólogo enuncia ali duas grandes tarefas colocadas à esquerda para poder dar corpo a essa imprescindível mudança. Uma delas, a mais óbvia, tem a ver com a escolha entre um modelo «desenvolvimentista», que privilegie na construção de um novo sistema o crescimento económico, e um outro, «anti-desenvolvimentista», que insista nas mudanças nas condições de trabalho e no padrão de vida dos cidadãos. A outra tarefa tem, entretanto, menos a ver com o sistema pelo qual combater e mais com o combate político por esse futuro. Consiste em saber como projetar, à esquerda, a indispensável transformação política, já que em todo o mundo «as forças de centro-direita ainda comandam», influenciando uma grande parte da população. A proposta de Wallerstein é direta e óbvia, ao considerar que se quiser promover a mudança a esquerda mundial precisará de um grau de unidade ou de proximidade política que ainda não tem, devendo, por isso, concentrar boa parte das suas energias nessa tarefa de reconciliação, ou pelo menos de avizinhamento. Recordando que existem profundos e velhos desacordos tanto sobre objetivos de longo prazo quanto sobre escolhas táticas, sublinha que, sendo estes discutidos com frequência e acaloradamente, de facto pouco progresso tem sido obtido na superação ou no esbater das divergências e das divisões. ler mais deste artigo

    Atualidade, Opinião

    Vida e destino de um romance

    Vassili GrossmanQuando, em outubro de 1960, Vassili Grossman enviou o manuscrito de Vida e Destino para o chefe de redação da revista Znamia, este passou-o de imediato para as mãos do KGB. Ainda que se vivesse então a época do «degelo» kruscheviano e da crítica pública dos crimes brutais e genocidas de Estaline, as consequências não demoraram a fazer-se sentir: o apartamento do escritor judeu ucraniano foi revistado, as cópias, os rascunhos e até as fitas de tinta das máquinas de escrever foram de imediato apreendidos. Grossman viveu a perda do seu romance, resultado de dez anos de intenso trabalho, como uma catástrofe pessoal, irreversível. Morreria três anos mais tarde na obscuridade, sem conseguir recuperar do desgosto e do desânimo. No imenso panorama da sociedade soviética que é este romance, comparado muitas vezes à obra maior de Tolstoi, o escritor retrata de forma realista, mas inegavelmente distante do cânone estético e político oficial, a vida durante a Segunda Guerra Mundial, com particular ênfase na ofensiva alemã, e na defesa e contraofensiva soviéticas, que culminaram com a libertação de Estalinegrado e dos territórios ocupados pelos nazis. Episódios que o autor, aliás, diretamente viveu como correspondente de guerra ao serviço do Exército Vermelho, para o qual se havia voluntariado como soldado raso.

    Estabelece-se ali, e terá sido com toda a certeza essa a razão principal da desgraça do romance e do seu criador, uma incómoda analogia entre os processos de controlo político usados pelos sistemas totalitários nazi e soviético, sobressaindo o antissemitismo estrutural que, com diferentes cambiantes, de facto partilhavam. No centro da trama, a vida atribulada de uma família de «classe média», seja lá o que isso pudesse ter significado na era estalinista, dramaticamente dispersa entre a Alemanha e a Sibéria pelas circunstâncias da guerra e das suas sequelas. Após o poeta Lipkine, o físico Sakharov e o escritor Voïnovitch terem conseguido fazer sair da União Soviética um microfilme feito a partir de dois manuscritos entretanto recuperados, o texto será impresso em russo em 1980, numa pequena tiragem da responsabilidade de um editor suíço, antes de começar a ser traduzido em numerosas línguas. Em 1988, no auge da perestroika, foi finalmente editado em Moscovo. No entanto, na Rússia, e ao contrário do que tem acontecido mais a ocidente, o reconhecimento público da dimensão desta obra imensa e de leitura imersiva, bem como o do percurso pessoal e intelectual do próprio Grossman, gradualmente distanciado do regime soviético, têm sido claramente exíguos. Como, citado pela revista francesa Books, escreveu o encenador Lev Dodine no semanário Itogui, tal não pode deixar de acontecer numa sociedade que «emprega o essencial da sua energia a renegar o próprio passado».

    Vassili Grossman, Vida e Destino. Trad. de Nina Guerra e Filipe Guerra. Dom Quixote. 856 págs.

      Biografias, Ficção, História

      Repressão em Atenas

      Manolis Glezos
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      Está neste momento a circular pelas redes sociais uma fotografia particularmente perturbante que funciona como eloquente sinal do Estado de guerra social total no qual se encontra a Grécia. Nessa imagem (que pode ver aqui; a que ilustra este post é diferente) observa-se a polícia a tentar manietar Manolis Glezos, de 90 anos, um antigo herói da resistência ao nazismo e um experiente político de esquerda que chegou a ser deputado europeu, sem o menor respeito pelas razões, pela idade e pelo papel na história do país do símbolo que tinham pela frente. Um péssimo exemplo da vaga de desprezo pelos direitos democráticos e sociais mais elementares que começa a varrer a Europa.

      Adenda – As imagens foram-me transmitidas como se fossem de agora. Acabo de saber que são de 2010. No entanto, Manolis Glezos esteve nos protestos de ontem e terá sido hospitalizado.

        Apontamentos, Democracia, História, Olhares

        O fulgor da liberdade


        © 2012 SkullHeart

        É sempre possível encontrar esperança no desespero. Romper a partir da desventura o caminho para a sorte que se deseja. Em «La République du Silence», um artigo publicado em setembro de 1944 na resistente Les Lettres Françaises, Sartre escrevia: «Jamais fomos tão livres como debaixo da ocupação alemã». Para logo de seguida alegar em defesa dessa estranha ideia: «Perdemos todos os direitos, a começar pelo de falar; insultam-nos a cada dia e temos de conter-nos; deportam-nos em massa como trabalhadores, como judeus, como presos políticos; por todo o lado, nos muros, nos jornais, no ecrã, deparamos com a imagem imunda que os opressores querem que tenhamos de nós mesmos: mas é precisamente por isso que somos livres.» É quando se alcança o limite da humilhação e da desumanidade que se percebe como só das nossas mãos, libertas pela necessidade e pela opressão de toda a hipótese do medo, pode renascer o fulgor da liberdade.

          Apontamentos, Memória, Olhares

          Nos 200 anos de Dickens

          Oliver Twist segundo Roman Polanski

          Não foi Cristo, Marx ou sequer o Zorro. Esses foram importantes mas chegaram em alturas menos decisivas. Foi Charles Dickens quem, pela mão de Oliver Twist e numa edição pobre mas digna da Romano Torres, no momento certo fez de mim uma pessoa de esquerda.

            Apontamentos, Etc., Olhares

            A CGTP e o «fascismo morno»

            CGTP

            Não podemos se não ter um enorme respeito pelo trajeto das pessoas, ou de gerações inteiras, que deram o melhor de si, que lutaram e sofreram, por causas que consideraram justas, urgentes e imprescindíveis. Mesmo quando neste ou naquele momento, como é próprio do humano, se equivocaram nas decisões. Mas muitos dos que na época estiveram ou podiam ter estado com essas causas olham agora de uma forma algo distanciada, quando não profundamente crítica, certas tentativas para evitar a sua adaptação ao novos e, aparentemente, não menos difíceis tempos que se aproximam. Os gestos, como as ideias, os programas e as convicções, têm o seu tempo e começam a perder o pé quando deixam de se questionar e se repetem como numa litania, quando se fixam numa imagem do real menos complexa e móvel do que aquela que realmente vivem, quando envelhecem sem de tal se aperceberem.

            Por isso, se deve manter-se o sentimento de gratidão pelo combate passado dos comunistas pelo estabelecimento da democracia e dos sindicalistas da mesma ou análoga tendência pelo alargamento e a defesa dos direitos dos trabalhadores, já não o devemos conservar quando notamos, em muitos dos que pretendem prosseguir o seu legado, uma grande dificuldade para se adaptarem ao mundo tal qual ele agora é, às tarefas e políticas de alianças que, numa fase dramática como a que vivemos, exigem tanto de coragem como de capacidade para ser-se maleável, antisectário e inventivo. Por isso também não posso deixar de estar de acordo com José Medeiros Ferreira quando este, em crónica recente, comenta, a propósito do primeiro e ríspido discurso de Arménio Carlos, o novo líder da CGTP e membro do Comité Central do PCP, que nos conflitos que se avizinham «a sociedade portuguesa só dará a vitória a quem for mais abrangente na resposta aos problemas do momento, e não a quem for mais sectário.» A força do combate contra este «fascismo morno» que nos está a envolver estará necessariamente na capacidade para mobilizar com base num denominador comum e numa retórica aberta, não na exibição de um discurso pré-apocalíptico e de estratégias de uma «luta de classes» cega que tendem a desunir.

              Atualidade, Democracia, Opinião

              Truffaut e nós

              F. Truffaut
              François Truffaut e o seu alter ego Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud)

              A entrada na adolescência de François Truffaut foi semelhante à do pequeno Antoine Doinel de Os 400 Golpes: sem um núcleo familiar estável, viu-se entregue a si próprio no mundo perturbado e hostil dos anos da Paris da Ocupação alemã e da Libertação, passando rapidamente da condição de bom aluno para a de um miúdo ansioso, fingido, ladrão e mentiroso. Expulso da escola aos 14 anos, segue a partir daí um destino de autodidata, refugiando-se por sua conta e risco na literatura e no cinema, e percorrendo um trajeto no qual o romanesco e o íntimo permaneceram unidos e como constantes. Foi este mundo intimamente penoso, de uma realidade imaginada a partir da consciência singular do narrador ou do personagem que não pretende ser exemplo de nada ou para alguém, que Truffaut foi construindo, com raras exceções, o seu modo próprio de filmar e de se aproximar dos espetadores encerrados na sala escura para lhe verem as artimanhas.

              Ao longo das décadas de 1960-1970 foram muitos – eu fui um deles, para que conste, apesar de já só ter podido ver os seus primeiros filmes em sessões de reprise num velho cinema de cadeiras desconjuntadas e a cheirar exageradamente a encerado – os que foram projetando as certezas e as dúvidas sobre o seu próprio amadurecimento através do crescimento atormentado e problemático do inconstante Doinel (desde o citado filme, estreado em 1959, até Amor em Fuga, de 1979, passando por Antoine e Colette, de 1962, Beijos Roubados, de 1968, e Domicílio Conjugal, de 1970). Ou aqueles, homens principalmente, que foram perscrutando no ecrã pela mão do eterno menino parisiense as suas próprias fantasias (Jules e Jim, 1962; O Homem que Gostava das Mulheres, 1977; A Mulher do Lado, 1981). Truffaut nasceu em 6 de fevereiro de 1932 e se não lhe tivesse acontecido o pior em 1984 faria hoje 80 anos. Ter-nos-ia dado muito jeito que por cá se tivesse podido manter.

                Artes, Cinema, Memória, Olhares

                Judt 2012

                Tony Judt

                Lançado a 2 de Fevereiro o novo (e, este sim, provavelmente derradeiro) livro de Tony Judt. Em Thinking the Twentieth Century encontramo-lo à conversa com outro historiador, Timothy Snyder, sobre judeus e judaísmo, sionismo, marxismo, Londres, Paris, intelectuais, a Europa do Leste, a América, o destino da social-democracia e, naturalmente, o peso incontornável da História.

                Pode seguir aqui a rápida recensão do Guardian, que começa assim:

                «In this marvellous book, two explorers set out on a journey from which only one of them will return. Their unknown land is that often fearsome continent we call the 20th century. Their route is through their own minds and memories. Both travellers are professional historians still tormented by their own unanswered questions. They needed to talk to one another, and the time was short.»

                Para quem tenha pressa ou prefira o formato, já está disponível na Amazon a versão para Kindle.

                  Apontamentos, Novidades

                  Um tema difícil

                  O tema é difícil. Principalmente para quem integrou e conserva nas suas quimeras úteis o ideal de uma pedagogia que capaz de privilegiar tanto o conhecimento das coisas e das ideias quanto a formação da capacidade crítica de pessoas livres. Um tema doloroso para quem jamais deixou de simpatizar com as propostas antiautoritárias de Paulo Freire e dos seus bons cúmplices. Como Agostinho da Silva, para quem «nada pode ser ensinado por imposição» e um professor «não é um capataz mas um auxiliar e um guia, cuja função é sugerir e não impor.» Difícil ainda para as convicções de quem pensa que a este princípio não pode ligar-se o seu inverso, que é o da subordinação do professor a lógicas que transtornaram os papéis de quem tem a missão de ensinar e de quem precisa aprender, convertendo a escola num local de conflito dentro do qual, demasiadas vezes, se gasta mais tempo a mediá-lo do que a fazer aquilo que realmente importa.

                  É este, no entanto, o cenário sobre o qual se têm desenvolvido os dolorosos problemas «de disciplina» que afetam muitas escolas secundárias e que – aspeto ainda algo encoberto – chegaram já às universidades. Na verdade, e por isso usei as aspas ao falar de disciplina, trata-se sobretudo de problemas de ausência de autoridade. Não no sentido da imposição violenta da vontade de alguém, ou de um regime educativo tirânico, mas da defesa das condições de trabalho de quem, professores e alunos, vive em comum para ensinar e para aprender. Por isso não posso se não discordar da posição dos que defendem serem os dispositivos legais que podem reforçar a autoridade do professor «uma resposta ilusória», como acaba de declarar uma deputada do Bloco, ou que esta se obtém basicamente «por reconhecimento social», como sugeriu um deputado do PCP. É que foi justamente esta posição, dominante durante décadas, que desarmou os professores e os transformou em alvos fáceis, retirando-lhes instrumentos necessários para poderem exercer de forma digna, livre e democrática a sua missão. O tema deveria, por isso, ter um peso importante na agenda dos partidos da esquerda e dos sindicatos do setor. E não ficar nas mãos da direita.

                    Atualidade, Ensino, Olhares, Opinião

                    Uma Idade Média sem Disney

                    © Kegriz

                    Atribui-se a Petrarca a expressão «Idade das Trevas» aplicada aos séculos que imediatamente o precederam. Ter-se-á iniciado dessa forma uma observação negativa do mundo medieval que nem o romantismo conseguiu atenuar de forma significativa. Os medievalistas abominam naturalmente este qualificativo, tomando-o como marca de ignorância em relação ao período histórico da sua predileção e que tão bem conhecem. A obra coletiva Idade Média, organizada por Umberto Eco e distribuída por quatro grossos volumes dos quais o primeiro foi recentemente editado pela Bertrand, representa um poderoso antídoto para combater essa intoxicação que afeta o conhecimento e a representação de parte importante do nosso passado comum. Nessa direção, Eco sublinha a efetiva multiplicidade daquele período, o brilhantismo de muitas das suas conquistas, a dimensão celebratória da vida que também integrou, o modo como afinal não ignorou a cultura clássica e a ciência da Antiguidade, como foi também sensível às trocas entre povos e civilizações, como não foi apenas a época negra da ortodoxia e da morte triunfantes. Embora, como se sabe e esta obra não nega, tivesse sido tudo isso também. É nesta direção, aliás, que contrariando o imposto por determinadas formas de alimento do nosso imaginário partilhado, nela se insiste em sublinhar que a Idade Média não foi «uma época de castelos torreados como os da Disneylândia».

                    Umberto Eco (organização), Idade Média. I – Bárbaros, Cristãos e Muçulmanos. Trad. de Bonifácio Alves. Bertrand Editora. 786 págs.

                      História

                      Duarte Belo / Páginas Tantas

                      Esta segunda-feira, dia 6 de fevereiro, pelas 18H30, decorre a segunda sessão do programa Páginas Tantas, organizado em Coimbra pelo TAGV – Teatro Académico de Gil Vicente e pelo Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra. Nele se irá falando de livros e de literatura, das artes e dos artistas, e de outras coisas úteis. Em cada sessão estará presente um/a convidado/a que irá conversar com o público sobre o seu trabalho. Desta vez será Duarte Belo (Lisboa, 1968), autor de extensa e importante obra na fotografia portuguesa contemporânea. Esta centra-se principalmente no levantamento fotográfico da paisagem e das formas de ocupação do território, sendo de destacar as obras Portugal — O Sabor da Terra (1997) e Portugal Património (2007-2008). Este trabalho deu origem a um arquivo fotográfico pessoal de mais de novecentas mil fotografias.A partir do dia 6 o TAGV terá em exposição trabalhos do autor. Mais informações no blogue do programa.

                        Fotografia, Novidades, Olhares

                        Wislawa Szymborska

                        Wislawa Szymborska

                        Hoje cedo, de manhãzinha, morreu Wislawa Szymborska (1923-2012). Na sua casa de Cracóvia, tranquila, enquanto dormia, se querem saber. Mas isso agora já pouco importa.

                        Herdamos a esperança –
                        o dom de esquecer.
                        E tu verás como damos
                        à luz no meio de ruínas.
                        (de «Uma expedição não realizada aos Himalaias»)

                          Olhares, Poesia

                          Nós, os outros

                          «Je pourrais être votre grand-mère», «Eu poderia ser a vossa avó», é o título de uma curta-metragem de Joël Catherin – nesta fotografia com Ioana Geonea, imigrante romena em Paris ali no seu próprio papel – sobre o universo humano dos sem-abrigo. Um filme arrebatador, que tem ganho diversos prémios, sobre a capacidade que temos para ignorar os outros e, de repente, de nos surpreendermos com a sua existência e a sua proximidade connosco. O cartaz rabiscado da fotografia insinua – «toi» convertido em «toit», «ti» em «teto» – o primeiro verso de um conhecido poema de Louis Aragon publicado em Le romain inachevé e que um certo dia Jean Ferrat interpretou.

                          O filme completo pode ser visto no no. 2 de Rue89 avec les doigts, uma aplicação gratuita para iPad.

                            Apontamentos, Democracia, Olhares

                            Uma Europa pisada e exangue

                            Bloodlands, Terra Sangrenta na tradução portuguesa, inscreve-se numa região delimitada da Europa Oriental na qual se fixou, desde os finais do século XVIII até à Segunda Guerra Mundial, com proibição de habitar noutras paragens, um conjunto importante de comunidades judaicas, até aí errantes, com as quais só uma pequena parte da primitiva população se fundiu. Servindo-nos de um mapa atual, podemos dizer que ela se estendia entre o Báltico e o Mar Negro, desde o leste da Polónia até à parte mais ocidental da Rússia europeia, integrando a Lituânia, a Bielorrússia, a Ucrânia e a Moldávia. Ali foi sendo levantado um microcosmos cultural muito próprio, fundado numa sociedade particularmente dinâmica em volta da qual cedo confluíram, todavia, os fantasmas mais negros e letais do antissemitismo. Foi sobre este território que o historiador americano Timothy Snyder desenvolveu o extenso trabalho de investigação do qual resultou uma obra que nos desperta para uma realidade nem sempre olhada de frente e com rigor. ler mais deste artigo

                              Democracia, História, Leituras