O meteorologista e o «dever de memória»
Não acontece apenas com o Holocausto: existe também um negacionismo do Gulag. A década e meia que se seguiu à queda do Muro de Berlim correspondeu a um período de expansão de trabalhos sobre a dimensão e o impacto da repressão política e social na União Soviética durante o longo período em que Estaline foi impondo a sua brutal ditadura. Estudaram-se em particular a formação e o desenvolvimento do Gulag, o tentacular e imenso sistema de campos, bem como as decisões de natureza genocida, impostas por manobras de engenharia social que envolveram muitos milhões de pessoas, e ainda os assassinatos em massa perpetrados durante o Grande Terror de 1936-1938. Nos últimos anos, porém, algo tem vindo a mudar neste processo de reconhecimento. E a mudar num sentido preocupante, com a emergência pública de vozes que se esforçam por negar ou por justificar aquilo que aconteceu.
Naturalmente de valia diversa, a maior parte desses estudos foi levada a cabo por historiadores profissionais, cientistas políticos e jornalistas reconhecidos de várias nacionalidades, que puderam ter acesso aos arquivos da antiga URSS, outrora sonegados ao conhecimento dos cidadãos e à investigação, enquanto no interior da Rússia a Associação Memorial, fundada em 1989, se esforçava por desenvolver um trabalho árduo mas persistente e com resultados palpáveis de recuperação da memória das vítimas e de inventário da pós-memória dos seus descendentes. (mais…)