Arquivo de Categorias: Atualidade

Colaboração ou resistência?

Fotografia de Hugo Correia

1. Transcrevo uma parte substancial da crónica que José Vítor Malheiros assina hoje no Público:

«Os grandes consensos políticos são indispensáveis em graves momentos de crise. Em muitos dos países ocupados pelos nazis na Segunda Guerra Mundial, a resistência incluía pessoas que cobriam um espetro político que ia dos cristãos conservadores e monárquicos aos comunistas e anarquistas e a razão, a necessidade e a justiça da sua aliança era uma evidência para todos. Estes grandes consensos podem ser vitais em momentos de emergência, para ultrapassar um obstáculo preciso, ainda que não constituam uma fórmula de governação política nem apaguem as diferenças e os conflitos entre os seus constituintes – diferenças vitais, também elas, para permitir o exercício da livre escolha democrática pelos cidadãos, que deve ser instituída ou restabelecida tão depressa quanto possível. (mais…)

    Atualidade, Democracia, Opinião

    Hipóteses de futuro

    Numa perturbante sequência do filme Sátántangó (O Tango de Satanás), do húngaro Béla Tarr, dois homens caminham, longamente e a custo, de costas voltadas para a câmara, por uma comprida estrada de asfalto molhada pela chuva, enquanto toneladas de detritos são empurrados por um vento fortíssimo na mesma direção, envolvendo-os numa paisagem suja e destroçada, e conferindo à sua marcha um sentido de resistência em ambiente hostil. Não é difícil estabelecer uma analogia entre esta cena filmada em travelling e o presente que nos cabe.

    Os sinais estão aí. Vemo-los sem olhar, esmagados pelas contas e pelos prazos: comer para viver, pagar a prestação da casa, comprar os comprimidos. Sobreviver com cada vez menos, com o essencial, na fronteira mais recuada da dignidade. Por vezes, já abaixo dela, embora procuremos convencer-nos de que assim não é. Concentramo-nos no essencial enquanto nos dizem que quase tudo é supérfluo, e tentamos não ver o cenário que se abre à nossa frente. Mas é com este cenário, novo para a larga maioria dos que têm hoje menos de quarenta anos, que nos dizem irmos conviver até um dia que ninguém sabe marcar no calendário. Num horizonte de pobreza e decadência que anuncia um país em ruínas. Não as ruínas atraentes e evocativas, na fronteira do épico e do sublime, que tanto empolgavam os românticos, nem aquelas destinadas nos delírios hitlerianos a vincar a sorte dos países conquistados, mas os restos enfadonhos, sórdidos, que vêm com o desgaste e a ausência de esperança. Que não suscitam olhares benignos ou vislumbres de futuro. (mais…)

      Atualidade, Cidades, Democracia, Opinião

      O ideal kibbutzin

      Pode parecer hoje incompreensível, ou no mínimo um pouco desajustado, que alguém de esquerda reconheça sem qualquer remorso que teve um dia como modelo de uma vida com sentido, feita de entrega, de internacionalismo e de solidariedade, a partida para Israel com a finalidade de partilhar uma experiência de trabalho comunitário num kibbutz. Mas foi isso que aconteceu com muitos militantes convictos da esquerda europeia durante as décadas de 1960-1970. Deverá recordar-se, em defesa desta memória recôndita, o facto dessas pequenas colónias integrarem então espaços de trabalho e de vida partilhados, formalmente igualitários, muitos deles de orientação laica e progressista, que apesar de nessa fase já conterem algumas funções de ocupação do território haviam sido em boa parte iniciativa de organizações associadas a um sionismo judaico com caraterísticas particulares, menos defensivo e mais aberto aos outros. Muito diferente do primitivo e daquele que agora conhecemos, mais assumidamente nacionalistas, religiosos, messiânicos e extremistas. (mais…)

        Atualidade, História, Memória, Olhares

        As invasões boas

        Militares russos na Crimeia
        Militares russos na Crimeia

        O pior que pode fazer-se no exame de uma situação complexa é reduzi-la ao aparentemente simples. É como limitar uma árvore à fixidez do tronco, ignorando a instabilidade da folhagem e a projeção da sua sombra. No entanto, na interpretação dos conflitos internacionais, esta é uma prática muito comum, em regra determinada – longe da aparente simplicidade dos conflitos da Guerra Fria – pela ignorância da sua crescente complexidade. Ou então, pior, por condicionamentos políticos que determinam um traço de giz separando de uma maneira demasiado esquemática o bom, o aceitável, o justo, daquilo que se considera mau, inaceitável ou iníquo. Quando afinal tudo se mistura em formas intrincadas, impossíveis de integrar numa interpretação linear que possa ser imposta por decreto ou pela força bruta das armas. (mais…)

          Atualidade, Democracia, Opinião

          Abysmo (ainda sobre o Acordo)

          «Na palavra lagryma, (…) a forma da y é lacrymal; estabelece (…) a harmonia entre a sua expressão graphica ou plastica e a sua expressão psychologica; substituindo-lhe o y pelo i é offender as regras da Esthetica. Na palavra abysmo, é a forma do y que lhe dá profundidade, escuridão, mysterio… Escrevel-a com i latino é fechar a boca do abysmo, é transformal-o numa superficie banal.» Estas linhas de Teixeira de Pascoaes foram vertidas na revista A Águia como manifestação de repulsa pelas normas da Reforma Ortográfica de 1911. Uma rejeição menos sonora do que aquela que tem vindo a rodear o atual Acordo, pois os meios de circulação da opinião eram outros e o número de escreventes bem menor. Mas a polémica foi então forte e feia, colocando de um lado os que defendiam regras que buscavam adaptar a escrita à fala, e do outro aqueles que abominavam qualquer mudança capaz de mexer com os seus hábitos. (mais…)

            Apontamentos, Atualidade, Leituras, Olhares

            O monstro dócil

            A tralha

            Um post escrito há quatro anos e recuperado do arquivo. E não é que, ao relê-lo, nada parece ultrapassado?

            Em Il Mostro Mite, «o monstro dócil», um livro publicado em Itália pela Garzanti, o linguista e ensaísta italiano Raffaele Simone procura mostrar o que separa o ethos tradicionalmente «sacrificial» da esquerda daquele assumido por uma direita que, ao contrário do que acontecia no passado, toma hoje o partido do consumo, do luxo, do despesismo e da poluição desgovernada. A Itália de Berlusconi esteve na vanguarda da mudança, uma vez que terá sido aqui que começou a afirmar-se essa direita do divertimento, da frivolidade, da comunicação televisual, do menosprezo pela arte e pela cultura, da procura desenfreada da riqueza e do prazer. Pelo contrário, a esquerda tem-se conservado essencialmente avessa à lógica consumista, apontando para uma sociedade austera, de renúncia, de regresso ao mínimo. Entretanto algo mudou e a nova sociedade globalizada encontra-se dominada por um padrão de cultura afável, envolvente, consumista, indiferente à renúncia e ao altruísmo. É precisamente este «il mostro mite», a face sorridente e todavia sinistra e prepotente da nova direita que em alguns países da Europa vem empurrando o conjunto da esquerda para um beco aparentemente sem saída. (mais…)

              Atualidade, Olhares, Opinião

              Indiana Jones, o Bloco e a esperança

              Imaginemo-nos na pele de um Indiana Jones sem os golpes de sorte ou os malabarismos de chicote do arqueólogo-herói criado em 1980 por George Lucas e filmado por Steven Spielberg. Em dado momento, caídos numa armadilha feita de alçapões ocultos e sucessivas rampas deslizáveis, para onde fomos projetados enquanto procurávamos uma estatueta egípcia da III dinastia, vemo-nos num instante rodeados de perigos. Com a morte por perto, cercados de cobras venenosas, gigantescos lacraus e humanos pouco amigáveis saídos de outras eras, tudo fazemos então para sobreviver e sair dali com vida. Entretanto não estamos sozinhos. Na mesma armadilha foram também colhidos outros aventureiros, com os quais, por esta ou aquela razão – um plagiara-nos um paper, outro roubara-nos a namorada, um terceiro ultrapassara-nos de forma pouco transparente num concurso – nos havíamos incompatibilizado. Mas diante do perigo maior, que a todos punha a vida em jogo, as diferenças esbateram-se. E foi assim, defrontando corajosamente e em conjunto todos os obstáculos e inimigos, que conseguimos alcançar a única saída possível para regressar ao nosso tempo. Fugindo àquele cenário de pesadelo. (mais…)

                Atualidade, Democracia, Opinião

                As condições de um debate

                Fotografia de Tiago Pereira

                Está marcado para a próxima segunda-feira, em Coimbra, um debate em direto sobre as «praxes académicas» integrado no programa Prós e Contras, da RTP. Como se sabe, o tema está em discussão pelas piores razões, levantando à sua volta bastante poeira feita de desinformação e de interpretações muitas vezes mal fundadas, associadas a um extremar de posições por parte de algumas cabeças mais quentes. O mote do programa, «Sim ou não às praxes?», convida mesmo a uma radicalização das atitudes, a meu ver dispensável e até algo perigosa. Por isso se justifica uma troca pública de pontos de vista serena e tanto quanto possível fundamentada. Apesar da sua materialização depender, neste caso como em qualquer outro, da condução do programa e dos intervenientes, valerá sempre a pena confrontar aos olhos do cidadão comum posições sobre um assunto que de há muito ultrapassou o espaço da estrita realidade estudantil, marcando a vida universitária e as suas envolvências. (mais…)

                  Atualidade, Democracia, Opinião

                  Cinco mitos em torno das praxes

                  De há muito que as «praxes académicas» são noticiadas e debatidas, pelas piores razões, sempre que algum episódio chama a atenção para o seu lado perverso. Mas nunca como agora se tornaram tão visíveis e foram associadas a um tão amplo sentimento público de rejeição. No entanto, ninguém que tenha uma ideia daquilo que de sombrio e ingovernável o seu universo tem vindo a incorporar terá ficado surpreendido pelo que os trágicos acontecimentos da praia do Meco trouxeram a público. Algumas semanas depois do primeiro momento de horror e de espanto, quando o respeito devido à dor das famílias das vítimas forçou alguma contenção, as evidências e os documentos começaram a ser conhecidos, percebendo-se que nada do que se passou foi puramente acidental. Começou então uma avalanche de testemunhos e de informações a propósito das praxes, ao ponto de ser já difícil dizer algo de original a seu respeito. Para pessoas como eu, que participaram na resistência às praxes a partir dos inícios da década de 1970, e que além disso têm pensado e escrito sobre o tema, ainda se torna mais difícil escrever qualquer coisa de novo, pois muito do agora revelado pelos média lhes é familiar. Vou por isso tentar não me repetir, limitando-me a aspetos menos abordados, que associo a cinco mitos projetados a propósito do assunto. (mais…)

                    Atualidade, Democracia, Etc., Olhares, Opinião

                    Faca e pomada na mão

                    Ainda sobre as medidas governamentais em curso objetivamente destinadas a desmembrar o mais depressa possível a investigação científica e a fazer com que Portugal regrida trinta ou quarenta anos neste domínio. Independentemente das dificuldades de tesouraria que todos sabemos existirem – e que servem para justificar formalmente os cortes arbitrários –, parece evidente que tais medidas de imposição da barbárie só podem ter como responsáveis, em última instância, pessoas que nem uma licenciatura fizeram com um mínimo de qualidade, e para as quais, por isso, é totalmente inimaginável aquilo que se faz ou deixa de fazer nos centros de investigação e nos domínios mais avançados da produção de conhecimento. É o cenário distópico, até há pouco inimaginável para qualquer professor, de um país governado pelos que foram os seus piores alunos. Pode sempre dizer-se, em defesa das medidas que impõem, que na direção dos organismos mais especializadas de decisão neste domínio sem encontram, apesar disso, pessoas com competências académicas e que se suporia saberem o que estão a fazer. Isso é verdade, mas todos sabemos como é fácil encontrar umas quantas dispostas a aceitar qualquer trabalho. Mesmo aquele mais sujo.

                      Apontamentos, Atualidade, Olhares

                      Tocar a reunir

                      Esquerda e direita não são categorias ultrapassadas, como se proclamava anunciando o fim das ideologias. Também não correspondem apenas à clivagem entre quem defende a importância do social, do coletivo e do papel nuclear do Estado, e quem destaca o lugar do individual, da hierarquia e da iniciativa privada. Na realidade, alguns destes fatores são hoje partilhados por ambos os lados,  enquanto outros, que há cem anos pareciam separá-los para sempre, certas vezes os aproximam. No primeiro caso encontra-se a valorização formal da democracia, que até partidos da direita mais extrema declaram agora respeitar. No segundo, a tentação do centralismo e do autoritarismo, outrora património da direita, que em nome do «socialismo de Estado» alguma esquerda incorporou e preserva como modelo. (mais…)

                        Atualidade, Democracia, Opinião

                        O som do silêncio

                        Numa crónica publicada em 2003, Manuel António Pina recordava aquela que era, para Walt Withman, a estreita relação entre o autor e quem o lê: «O leitor sabe que, quando é de noite, estamos ambos sós.» Depois de lembrar a afirmação do poeta nova-iorquino, Pina continuava com as próprias palavras: «Só nos livros são possíveis ainda a noite e a solidão, em tempos de holofotes por todos os lados. E quanto os homens precisam de solidão, de se escutar a si mesmos na numerosa voz dos livros! E, em tempos como estes, barulhentos e estridentes, de silêncio!» Pouco mais de uma década depois disto ter sido escrito, o ruído não cessou de aumentar e são cada vez menos os que compreendem a necessidade da leitura imersiva e solitária que nos faça pairar por instantes na cápsula do tempo. Permitindo, como no intervalo de uma competição desportiva ou de uma tarefa difícil, que ganhemos força para prosseguir a jornada. Para não perdermos o norte enquanto tudo em redor acelera. Para não nos deixarmos cegar frente ao excesso de luz. Para que a razão não soçobre perante a estridência, deixando à solta o pior de nós.

                          Apontamentos, Atualidade, Leituras, Olhares

                          Mentiroso compulsivo

                          Adolf Eichmann

                          Agora que assentou um pouco de poeira sobre a efabulação de José Sócrates a propósito da sua memória do Portugal-Coreia do Norte de 1966 e da atuação de Eusébio nesse jogo, já posso contar um pequeno episódio ocorrido comigo. Durante anos garanti, sem qualquer sombra de dúvida, que a minha recordação mais recuada da visão da morte de alguém se relacionava com a execução em Jerusalém, a 1 de Junho de 1966 (de novo 66!) de Adolf Eichmann, o tenente-coronel das SS cujo processo Hannah Arendt imortalizou. Mais: jurei durante décadas e a pés juntos que a execução fora por eletrocussão e tinha sido transmitida em direto pela televisão. Fi-lo convicto de me lembrar perfeitamente de tudo aquilo. Era mesmo capaz de descrever ao pormenor as impressões mais fortes que vivera no momento e que me haviam «marcado». Só muito depois pude saber que a execução do criminoso nazi tinha ocorrido afinal em Ramla, que fora por enforcamento e que não, de modo algum fora transmitida em direto ou em diferido pela televisão. Dispenso-me de comentar os motivos de tamanha confusão na cabeça do antigo puto de calções que, provavelmente como Sócrates, então eu fui. Devo ser um mentiroso compulsivo e sem remissão, Deus me perdoe. [E não é que menti de novo! Em Junho de 1966 já não usava calções.]

                            Apontamentos, Atualidade, Memória

                            O ano de todas as esperanças

                            Este é o ano do 40º aniversário do 25 de Abril. Para muitos portugueses, a data relaciona-se com a sua experiência de vida. Se já não eram crianças na época que o antecedeu, se não perderam de todo a memória ou se não estavam comprometidos com o regime derrubado, para eles a data incorpora uma corrente forte de recordações. Para os restantes, aqueles que atingiram a idade da razão já depois da data fundadora da democracia, aquilo que os aproxima dela é principalmente a memória transmitida pelos mais velhos e a dimensão simbólica que ela foi incorporando. (mais…)

                              Atualidade, História, Opinião

                              Nos 120 anos de Mao

                              Mao

                              A 26 de novembro completaram-se 120 anos sobre o nascimento de Mao Tsé-Tung. A data foi lembrada em muitos lugares e em diferentes suportes, sobretudo em blogues e murais do Facebook, ou nas primeiras páginas das edições online de respeitáveis diários, mas só lhe atribuiu um destaque maior que o habitualmente concedido a uma vulgar efeméride – como a data da morte de um político ou o dia exato de uma descoberta científica – quem ainda seja capaz de reconhecer alguma coisa de positivo na intervenção pública e no legado histórico do antigo dirigente comunista chinês. (mais…)

                                Atualidade, Biografias, História, Opinião

                                O vento mudou e não voltarão

                                De acordo com o Diário de Notícias desta sexta-feira, «o Governo estima que em 2012 tenham saído do país mais de 120 mil portugueses, um número apenas repetido nos anos 60». Mais ainda terão emigrado em 2013, mas as contas não se encontram fechadas. No entanto (ó surpresa!), as remessas de dinheiro enviadas para Portugal não estão a crescer na mesma proporção. Ora outra coisa não seria de esperar: apesar de mais qualificada, a grande maioria dos novos emigrantes é jovem, procura o primeiro emprego estável, e precisa investir o que começa a juntar na organização da sua própria vida. Se é que em contexto geral de crise consegue juntar alguma coisa que não precise gastar de imediato. Além disso, as novas condições de vida, idênticas, no essencial, na maior parte dos destinos da nova emigração, já não são as dos tempos de Linda de Suza e das «saudades da terrinha». E cidadão algum no seu perfeito juízo se sente propriamente com vontade de enviar dinheiro para o país deprimido e ingrato que o forçou a emigrar. Se quem nos empurrou para este cenário espera que a fuga de jovens quadros produza, como no passado, um fenómeno subsequente de torna-viagem, com um dinheirito a pingar regularmente numa conta a prazo da agência bancária local, mais a construção de uma casa com garagem ou a abertura de uma croissanteria ou de um aviário, bem pode esperar sentado. Ao procurar vender-nos essa ficção, reforça a evidência da sua má-fé e confirma a completa ausência de um desígnio para o país. Este ou um outro, melhor e futuro.

                                  Apontamentos, Atualidade, Olhares

                                  Um Natal pesado

                                  O Natal fez sempre parte dos meus calendários. Embora, como acontece com a maioria das famílias portuguesas, a minha não levasse as datas e as práticas do seu catolicismo muito a peito. Talvez por isso a dimensão de sagrado da quadra sempre me tenha sido em boa medida estranha. Nunca assisti a uma «Missa do Galo» e durante anos mantive a convicção que nela se degolava, de facto, um pobre e indefeso galináceo. O meu Natal era feito só de doces muito doces, da ceia noturna, do horror de comer bacalhau (as voltas que a vida dá: agora um prazer), e principalmente dos presentes mais ou menos acompanhados de uns quantos desapontamentos. (mais…)

                                    Atualidade, Devaneios, Olhares, Opinião

                                    Pior que pobres só pobres sem esperança

                                    José Pacheco Pereira no Público deste sábado, 21/12, em «O PS não é confiável como partido da oposição».

                                    «No passado podia haver pobres, estes tinham, porém, a possibilidade de ter uma dinâmica social e política para saírem da pobreza, uma capacidade de inverterem as relações sociais que lhes eram desfavoráveis. Eram pobres, mas não estavam condenados à pobreza. Era isso a que se chamava “a melhoria social”, num contexto de mobilidade e num contrato social que permitia haver adquiridos. Agora tudo isso aparece como um esbanjamento inaceitável, e o que hoje se pretende é que os pobres, cada vez mais engrossados pela antiga classe média, sejam condenados à sua condição de pobreza em nome de uma crítica moral ao facto de “viverem acima das suas posses”, perdendo ou tornando inútil os instrumentos que tinham para a sua ascensão social, a começar pela educação, pela casa própria, e a acabar nas manifestações e protestos cívicos, as greves e outras formas de resistência social. É um conflito de poder social que atravessa toda a sociedade e que se trava também nas ideias e nas palavras, em que a comunicação social é um palco determinante, com a manipulação das notícias, a substituição da informação pelo marketing e pela propaganda.»

                                      Apontamentos, Atualidade, Recortes