Édipo na Austrália

Marie B

Sobrinha-bisneta do imperador Napoleão I, a princesa Marie Bonaparte (1882-1962) foi uma figura central para a definição da psicanálise enquanto prática clínica e saber autónomo e reconhecido (ou antes, razoavelmente reconhecido, uma vez que ao fim de mais de um século de combate os seus inimigos permanecem activos e vigilantes). Muito próxima de Freud, a quem ajudou pessoalmente quando em 1938, já com 71 anos, este precisou de sair de Viena para escapar dos nazis, Marie usou a sua enorme fortuna – em boa parte herdada do avô, François Blanc, fundador do Casino de Monte Carlo – para financiar encontros científicos e trabalho de investigação na disciplina que ela própria viria a adoptar profissionalmente. O eco longínquo de um destes trabalhos acaba de me chegar através de uma referência num artigo de Evan Osnos saído na New Yorker («Meet Dr. Freud», sobre a recente voga da psicanálise na China após longas décadas de perseguição e clandestinidade). Ali se refere a dada altura o financiamento, por parte de Marie, de uma viagem do psicanalista e antropólogo húngaro Géza Róheim à Austrália com o objectivo de determinar se entre os aborígenes existia complexo de Édipo. Róheim concluiu que sim, em apoio da ocorrência de uma estrutura edipiana universal. A conclusão é respeitável, mas é também irresistível a analogia que pode ser feita entre aquela pesquisa e os esforços dos evangelizadores católicos do século XVI para determinarem pela observação empírica – por vezes com recurso à tortura – se os ameríndios possuíam alma (já que, de acordo com a opinião à época dominante, os negros não a tinham de todo). Fica a declaração urbi et orbi de que esta analogia vale por si, não transportando consigo qualquer preconceito em relação à teoria e à prática da psicanálise, à bondade da princesa Marie ou ao trabalho do notável ex-bolseiro húngaro.

    Apontamentos, Olhares

    Alívio

    Billy the Kid

    Prevaleceu o bom senso. Ao contrário do que chegou a ser anunciado, o Estado do Novo México não vai perdoar a Henry McCarty, ou melhor, a William H. Bonney, ou melhor ainda, a William Antrim, Jr., aliás Billy the Kid, 118 anos depois da sua morte às mãos do xerife Pat Garrett, os crimes cometidos, segundo palavras do governador Bill Richardson, «a saquear, a devastar e a matar os merecedores e os inocentes de igual forma». Salvaguarda-se assim uma parte do património americano que muitos milhões de pessoas foram partilhando. Pois faria lá sentido algum que agora, à revelia de tantos rapazes que vibraram com os seus assaltos, que se entusiasmaram com os duelos de carabina e revólver ganhos pelo herói-bandido com cara de bebé, se passasse um atestado de ignóbil inocência ao famigerado Kid?

      Devaneios, História, Memória, Olhares

      Medidas da felicidade

      Ando a ler/reler trabalhos publicados nas décadas de 1970 e 1980 por João Martins Pereira. Este é o segundo fragmento seguido de um texto (muito) de circunstância que tenho vontade de partilhar.

      «31 de Janeiro [de 1985] Sempre que a minha filha chega a casa e diz «Hoje foi um dia tão bom!» – correram-lhe bem as aulas, ganhou o jogo de basquete, trocou olhares cúmplices com um colega, sei lá que mais — não consigo evitar lembrar-me, abusivamente, das últimas palavras de Um Dia na Vida de Ivan Denisovich, de Soljenitsine (de que então apenas conhecia esse livro e nada mais: se fosse hoje, voltando ao tema de há dias, tê-lo-ia lido da mesma maneira?): «No campo de prisioneiros Sukhov adormeceu completamente satisfeito, feliz. Fora bafejado por vários golpes de sorte durante aquele dia: não o haviam posto no xadrez; não tinham enviado a brigada para o Centro; surripiara uma tigela de kasha ao almoço; o chefe de briga­da fixara bem as rações; […] comprara tabaco. E não caíra doente. Um dia sem uma nuvem carregada, sombria. Quase um dia feliz»

      E um desempregado, que calcorreia por trabalho, ou se arrasta pelas ruas? E um empregado, que diariamente repete, a horas cer­tas, os mesmos gestos maquinais e desinteressantes? E um velho, que frequenta, dias sem fim, os mesmos cantos da casa ou os mesmos bancos de jardim? Que pequenos nadas lhes conseguirão fazer «um dia feliz»? Que sociedade é esta, de tão baixas expectativas, que a simples pausa de uma máquina, o tempo de uma beata, ou um banco livre batido pelo sol cheguem talvez para tornar «feliz» um dia igual a todos os outros?» [João Martins Pereira, O Dito e o Feito. Cadernos – 1984-1987]

        Apontamentos, Olhares, Recortes

        Incomunicar

        incomunicar
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        «22 de Fevereiro [de 1985] – Por vezes cruzamo-nos com rostos que nos reconciliam com o mundo. Na maior parte dos casos são rostos de crianças, ou de adolescentes. Algumas vezes, de velhos. Quase nunca de adultos, esses crispados, tensos, ruminando frustrações, pressas, responsabilidades, preocupações – rostos sem desejo, sem alegria. Incomunicáveis.» [João Martins Pereira, O Dito e o Feito. Cadernos – 1984-1987]

          Apontamentos, Olhares, Recortes

          Limpeza de pele

          Mark Twain underwater

          – We blowed out a cylinder-head.
          – Good gracious! anybody hurt?
          – No’m. Killed a nigger.
          – Well, it’s lucky; because sometimes people do get hurt.

          O Público noticiava há dias que a New South Books, uma editora do Alabama, vai reeditar As Aventuras de Huckelberry Finn, de 1884, expurgadas das 219 referências à palavra nigger que aparecem no romance. Também a palavra injun será substituída. A primeira, que se refere pejorativamente ao preto, ao negro, à «pessoa de cor», como insistem em dizer os racistas brancos mais embaraçados, será substituída por slave. Já injun, epíteto ofensivo aplicado aos native americans, será trocada por indian. Uma vez mais, justifica-se o gesto rasurador – que não é novo, pois até a Bíblia foi submetida já a alguns liftings recentes –, com a consideração dos termos originais como sendo ofensivos ou politicamente impróprios. Na ignorância, completa ou propositada, de Mark Twain se ter servido daquelas palavras para reforçar o lugar social injusto de algumas das personagens. O escritor foi, aliás, um apoiante empenhado da abolição da escravatura e do alargamento dos direitos civis dos negros americanos (tal como foi também, já agora, um partidário da extensão às mulheres do direito de voto). Foi ainda grande amigo ao longo da vida de John Lewis, um negro que serviu de inspiração para o personagem Jim, central no romance em causa.

          Muitos anos antes de Martin Luther King ou Malcom X terem sequer nascido, já Twain se empenhava num combate, na sua época particularmente difícil e solitário, que muitos anos mais tarde faria com que alguns sectores racistas afiançassem ter ele uma quantidade importante de «sangue negro». Ou «afro-americano», como em sentido inverso, e de forma completamente anacrónica em relação aos conceitos e às palavras usados no tempo do escritor, existe quem prefira dizer. Vale sempre a pena, diante de tais afirmações de reiterada ignorância, imprecisão ou mera estupidez, insistir no perigo que comporta este tipo de escolha supostamente purificadora. Em nome da omissão de palavras ou de conceitos julgados depreciativos, ou na tentativa de contrariar uma absurda «censura preventiva» – que tem levado, por exemplo, à retirada de algumas bibliotecas públicas americanas de livros, clássicos muitos deles, contendo termos julgados «impróprios» –, alteram-se obras literárias e apagam-se pedaços de uma realidade historicamente vivida ou imaginada em contextos muito diversos e que só podem ser compreendidos nas suas circunstâncias. Com tais gestos dilui-se também o rastro de etapas dos processos de emancipação das sociedades e das próprias palavras. Voltando-se o feitiço contra o feiticeiro, se é que não convirá referir este profissional como «técnico de práticas mágicas», «agente de subculturas locais» ou coisa que o valha.

            Democracia, Memória, Olhares

            Bananas

            Banana

            Günther Schabowski, um ex-membro do Politburo do partido do poder na antiga República Democrática Alemã que trabalhou como chefe de redacção do Neues Deutschland, o diário oficial, contou há alguns anos a uma jornalista que numa reunião plenária efectuada em 1989, no preciso momento em que uma crise económica sem precedentes, a revolta popular e o rápido crescimento da fuga de cidadãos para o ocidente abalavam definitivamente o regime, aquele órgão se recusou a debater a situação. Limitou-se na altura a abordar os preparativos para as comemorações oficiais dos quarenta anos da chegada dos comunistas ao poder. Só numa conversa de corredor um alto responsável se terá referido vagamente aos protestos, sugerindo uma solução para acabar de vez com o descontentamento dos cidadãos cujo rumor parecia não chegar à vida ultraprotegida da nomenklatura leste-alemã: «Podemos dar-lhes bananas!» A ideia parece absurda, e naquele contexto era-o particularmente, mas tinha a ver com a forma como, para muitos cidadãos da antiga Europa do «socialismo realmente existente», o consumo de bananas, um fruto raro e caríssimo, se encontrava ligado a uma certa ideia de abundância e de felicidade, ingenuamente associada ao consumo de certos bens no lado ocidental. Contam-se episódios tragicómicos, como o daquele cidadão acabado de cruzar o recém-aberto Muro, que após ter uma na mão – na noite da Queda as bananas esgotaram em Berlim-Oeste – comeu rapidamente a casca deitando fora o «caroço».

            Ainda que não a tal escala, também do lado de cá da velha Cortina o consumo de bananas foi sinal de bem-estar e de prazer. Ainda pelas décadas de 1950-1960 era um produto raro nas regiões da Europa mais distantes dos portos e das principais vias de comunicação terrestre, funcionando o seu consumo, em muitos lados, como sinal de distinção social. Foi também factor de configuração de uma certa ideia de exotismo, da qual é exemplo o seu lugar na composição do arranjo floral-frutístico que se tornou parte destacada da imagem exuberante e tropical de Carmen Miranda, nos anos trinta e quarenta a portuguesa mais brasileira do Brasil. A definição de «república das bananas», parodiada em 1971 por Woody Allen, não se distancia muito dessa projecção icónica: uma área politicamente periférica na qual o poder arbitrário de um qualquer ditador latino-americano assentava na protecção de grandes empresas americanas, como a United Fruit Company ou a Standard Fruit, cuja riqueza se baseava na exportação do produto para regiões nas quais era vendido a preços elevados sem qualquer benefício para as populações dos países produtores. Mas não pode dizer-se que esta seja uma tradição com grande futuro. E não é pelo facto do seu consumo se ter democratizado. Em artigo saído num número recente da New Yorker, Mike Peed alerta para uma realidade preocupante: um conjunto de factores de natureza climatológica e genética está a provocar uma rápida redução da produção de bananas – ainda assim o 4º produto alimentar mais produzido em todo o mundo –, ao mesmo tempo que introduz transformações radicais na definição biológica das suas diferentes variedades, com alterações de textura, formato e sabor. Pode assim acontecer que, num tempo não muito distante, a banana, ou pelo menos a banana como a conhecemos hoje, venha a transformar-se numa espécie de dinossauro, ou de dodó, das plantas herbáceas. Reconvertida na recordação mitificada de um mundo que já não existe.

              Apontamentos, Atualidade, Memória

              Onde estará você a 23 de Janeiro? (1)

              futuro

              Cada vez é pior do que a anterior. A abstenção eleitoral tem crescido. Irregularmente, é certo, mas tem crescido. Em Portugal como na maior parte dos Estados da velha Europa, incapazes de renovarem os modos de funcionamento da democracia representativa. Entregues à monótona gestão de um sistema político-partidário que não se apoia nos melhores, nos mais activos, nos mais bravos e solidários, mas antes na intervenção dos pálidos, dos palavrosos e dos espertalhaços que a cultura ultramediatizada se encarrega de impor àqueles que, por distracção ou ausência de alternativa, lhes entregam à boca das urnas o crédito de confiança. Neste cenário, estranho seria se o número de desinteressados, de abstencionistas potenciais ou efectivos, não fosse crescendo sempre. Aquilo que tantas vezes se considera o aumento do desinteresse pela política não é mais do que o resultado de uma vertigem, de uma náusea, subliminar ou declarada, que se torna inevitável quando os protagonistas a alimentam. Desinteressantes, repetitivos, desgastados por uma prática sem a dimensão da esperança, que apenas conseguem enxergar como uma luta, dotada de um código ético muito peculiar, pela tomada e pela conservação do poder. Pessoas que a maioria de nós nem sequer terá especial interesse em escutar ou conhecer, em quem até pode votar por desfastio mas cuja voz não trocará por uma ida ao futebol ou um final de tarde à volta de umas cervejas e de uns pastelinhos de bacalhau.

              Neste cenário desolador, como estranhar que a maioria das pessoas com quem nos cruzamos nem sequer seja capaz de esclarecer com rigor o dia das próximas eleições. «Acho que», «não sei bem», «tenho a impressão mas não tenho a certeza», «quero lá saber», são expressões costumeiras, muitas delas significativamente emitidas por gente que jamais disse não querer saber de política. Gente a quem reconhecemos mesmo um passado de interesse ou de combate por temas e por causas com uma dimensão cívica. «Acho que será a um domingo, tal como o dia de Páscoa», disse-me uma, na tentativa atabalhoada de fazer um pouco de humor negro. As notícias, essas não anunciam nada de bom em relação a uma alteração à vista, nem que seja circunstancial, deste estado de coisas. Olhamos o panorama da campanha para as eleições presidenciais de 23 de Janeiro e não deparamos com um factor, um flash, um assomo de energia política capaz de empolgar quem se situe – e é essa a condição da generalidade dos eleitores – fora das pequenas manchas concêntricas que apoiam ou concedem crédito aos candidatos em presença. Não existe pathos, fragor, bandeiras agitadas com força, palavras gritadas com convicção, militância a sério, apostas sentidas num rosto que não ofereça a chave do Éden mas tenha alguma capacidade para dar voz a anseios, a expectativas, a projectos mobilizadores capazes de colocarem a gestão do poder como instante, como acto assumido em nome do colectivo, e não como um fim em si mesmo.

              Isto não significa, no entanto, que tudo seja igual. Por entre o ruído, do «diz-se que», do «afinal o tipo», do «como seria de esperar», «ele fez», «ele disse», que padroniza os candidatos por baixo reduzindo-os à condição de supostos malfeitores, existem sentidos, expectativas, que independentemente dos rostos que os protagonizam perfilam campos muito diferentes. Por isso me parece que acima das caras se deve colocar o futuro que elas podem não pontuar mas com toda a certeza anunciam. Por isso também não possa ser indiferente, a quem não se reconheça na personalidade de qualquer dos candidatos e não acredite em seres perfeitos e providenciais, aquilo que cada uma delas representa. De acordo com a nossa Constituição, um Presidente da República não governa, pouco pode prometer e tem um papel semelhante ao do quarto árbitro de futebol: só participa no jogo quando instado pelas circunstâncias. Mas aquilo que pode simbolizar, os sinais que emite em termos de mobilização da vontade colectiva, de representação da comunidade, de capacidade para alertar, mobilizar ou resistir, pode ser muito significativo. No dia 23 votarei num candidato no qual sob múltiplos aspectos não me revejo, com quem por vezes até implico, mas que representa a família política a partir da qual – apesar das atribulações passadas, dos defeitos presentes e das incógnitas futuras, comuns aliás a todas as histórias de família – consigo vislumbrar a construção de um país mais justo e mais decente, de uma política um pouco menos conformista, da necessidade de viragem. Votarei na «Voz».

              P.S. – Pois é, ando a repetir-me. Escrevi isto há um ano atrás.

                Atualidade, Olhares, Opinião

                A «geração de 60» para meninas preguiçosas

                Meninas

                Saiu há dias no Público, em mais uma daquelas declarações de ódio que invariavelmente substanciam os artigos de opinião de Helena Matos, um arrazoado sobre a herança da «geração de 60» (entretanto publicado também aqui) ao qual estive para responder de imediato. Acabei por adiar a escrita porque fiquei à espera de ter o texto disponível online, e depois, à medida que o tempo passava, fui ganhando consciência de que o artigo é tão mau, tão mau, tão mau, e tão carente de um mínimo de coerência e de substância, que não justificava um esforço de enumeração, para não dizer de contestação, do rol de confusões e deformações que adianta. Este post não vai, por isso, dialogar com a crónica de Helena Matos.

                Por múltiplos motivos, entre eles a ocorrência, não insignificante, de sendo historiador ter obrigatoriamente sentido crítico e treino analítico em relação ao reconhecimento e à interpretação do passado, não me move qualquer ideia de «defesa da honra» de uma «geração» com contornos muito mais amplos e densos do que o artigo procura fazer crer. Não gosto aliás do conceito: «geração» impõe em excesso unidade, identidade, onde existe principalmente movimento e diversidade. Mas qualquer pessoa informada e arguta sabe que todas as situações históricas são complexas e que devem ser compreendidas sob a perspectiva contextualizada dos factos e dos efeitos. Ora existe suficiente trabalho de investigação publicado – nacional e sobretudo internacionalmente, e nos mais diversos campos das humanidades e das ciências sociais  – para podermos ter hoje uma perspectiva crítica bem mais completa e ponderada do que aquela, linear e simplória, cheia de erros, apreciações subjectivas e invenções, detectável na referida crónica.

                No entanto, o facto de a perspectiva ser simplória não faz da autora uma ingénua, que obviamente não é. A ignorância e a distorção são enormes, como entretanto tem sido dito em comentários saídos na blogosfera – destaco o de Joana Lopes, onde se mostra como Helena Matos erra até o alvo em relação ao que congemina serem os «sessentistas» portugueses no activo –, mas o objectivo último, no qual aliás reincide, é claro e bem consciente: a abjuração do Estado-Providência e a defesa de que os projectos igualitaristas, que colocam a noção de felicidade e bem-estar à frente do princípio da competição de matriz neoliberal, devem ser atirados para o caixote do lixo da História. E de que as «gerações» mais recentes precisam pedir contas àqueles que, na estreita lógica da cronista, deram cabo do que restava desse «mundo ideal», supostamente perfeito e convenientemente ordenado, que os despenteados sixties vieram abalar. O que move Helena Matos é, pois, a adesão a uma agenda que, se quisermos usar a mesma bitola analítica pobre e de mão aberta da qual se serve, podemos afirmar ter sido impressa nos cinzentos anos 80.

                Adenda –  Este post contém uma percentagem de adjectivos bastante superior ao que seria estilisticamente conveniente. Mas saiu assim e os motivos serão óbvios.

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                  Manifesto da juventude de Gaza pela mudança

                  Chegou-me às mãos este manifesto que merece ser lido com atenção. Pelo que mostra sobre a possibilidade, ou a necessidade, de também em relação ao problema de Gaza afastarmos do horizonte as posições estritamente maniqueístas a propósito dos «bons» e dos «maus».

                  Este é o manifesto da juventude de Gaza pela mudança!
                  publicado pelo Gaza Youth Breaks Out (GYBO) a 29 de Dezembro de 2010

                  Que se foda o Hamas. Que se foda Israel. Que se fodam as Nações Unidas, o UNWRA. Fodam-se os EUA! Nós, os jovens em Gaza, estamos fartos de Israel, do Hamas, da ocupação, das violações dos direitos humanos e da indiferença da comunidade internacional! Queremos gritar e quebrar este muro de silêncio, injustiça e indiferença assim como os F16 israelitas quebram a barreira do som; gritar com todo o poder nas nossas almas, de maneira a libertar esta enorme frustração que nos consome por causa da situação fodida em que vivemos; Somos como piolhos entre duas unhas a viver um pesadelo dentro de um pesadelo, sem lugar para esperança, sem espaço para liberdade. Estamos enjoados de nos vermos metidos nesta luta política; enjoados de noites frias e escuras com aviões a sobrevoar as nossas casas; enjoados de ver agricultores inocentes serem abatidos em zonas de contenção, porque estão a tomar conta das suas terras; enjoados de tipos barbudos que caminham com as suas armas abusando do seu poder, espancando ou encarcerando jovens que manifestam os seus ideais; enjoados do muro de vergonha que nos separa do resto do nosso país e, nos mantém presos num bocado de terra do tamanho de um selo; enjoados de sermos retratados como terroristas, fanáticos amadores com explosivos nos bolsos e maldade nos olhos; enjoados da indiferença recebida da comunidade internacional, especialista em expressar preocupação e esboçar resoluções mas, covarde em reforçar qualquer coisa sobre a qual chega a acordo; estamos enjoados e cansados de viver esta vida de merda, sermos aprisionados por Israel, espancados pelo Hamas e completamente ignorados pelo resto do mundo.

                  Existe uma revolução a crescer dentro de nós, uma imensa insatisfação e frustração que nos irá destruir a não ser que encontremos uma forma de canalizar esta energia para algo que possa desafiar o estado actual das coisas e nos dê algum tipo de esperança. A última gota que fez os nossos corações tremerem com frustração e sem esperança foi lançada no dia 30 de Novembro, quando oficiais do Hamas chegaram ao Fórum juvenil Sharek, uma organização de jovens (www.sharek.ps), com as suas armas, mentiras e agressividade, expulsando todos, prendendo alguns e impendindo a  Sharek de funcionar. Alguns dias mais tarde, manifestantes em frente à Sharek foram agredidos e alguns presos. Nós estamos realmente a viver um pesadelo dentro de um pesadelo. É difícil encontrar palavras para a pressão a que estamos sujeitos. Mal sobrevivemos à Operação Cast Lead na qual Israel, de forma bastante eficaz, nos bombardeou violentamente, destruindo milhares de casas e ainda mais vidas e sonhos. Eles não se livraram do Hamas, como pretendiam, mas assustaram-nos sem sombra de dúvida e espalharam a síndrome de stress pós-traumático por todos, como se não houvesse para onde fugir.

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                    Apontamentos, Atualidade, Olhares

                    Fazer acontecer

                    Alain Badiou

                    É um bom princípio evitar os juízos absolutos. Os factos nem sempre são aquilo que parecem, as pessoas são sempre mais complexas do que aparentam, as ideias ganham vida própria e crescem até se transformarem noutras. Mas do reconhecimento de um bom princípio não resulta necessariamente a sua aplicação: afinal enganamo-nos, precipitamo-nos, fazemos afirmações com uma dimensão de perfeição que depois revemos numa medida de incerteza. Excluindo os génios do mais extremo mal, os construtores das experiências totalitárias que não merecem perdão, a todos, mesmo àqueles de quem discordamos bastante, devemos sempre um crédito de confiança. Que merecemos também que nos concedam, como é lógico. É este, afinal, o princípio mais elementar da vida em sociedade se a não pensarmos à escala rancorosa de Maquiavel e Hobbes ou dos guias do fundamentalismo wahhabita.

                    Esta arenga serve para legitimar o recurso a algumas ideias de Alain Badiou que me proponho olhar. Dele rejeito, sem dúvida, de maneira completa e liminar, a aproximação a princípios e a experiências dos quais a História comprovou já o cunho monstruoso. Adianto quatro recusas. A primeira é o elogio da Revolução russa de 1917 e da Revolução Cultural chinesa enquanto actos de violência colectiva que funcionaram como inequívocos factores de emancipação. A segunda é a censura da dimensão policroma, que o filósofo considera pobre, inútil e frouxa, da fase crítica da modernidade (ou da «pós-modernidade»). A terceira é a defesa da supremacia do «colectivo» sobre o «individual» e a negação do sufrágio universal, ao qual Badiou chama «sufrágio de egos», como prática basilar da democracia. E a quarta é a apologia de um «ideia orientadora» do processo histórico que de alguma forma possa substituir (ou prolongar) o que Lyotard designou como metanarrativas e podemos grosseiramente associar às defuntas ideologias. Estas linhas não invocam nem prometem nada que me pareça fundamentalmente bom. Pelo contrário.

                    Mas a dimensão dissentista de Badiou não se fica pela tentativa de renovação destes perigosos princípios. No recente «Second Manifeste de la Philosophie», fala-nos da capacidade da filosofia para promover «a desestabilização das opiniões dominantes», impondo aquilo que designa como a «pertinência revolucionária». O filósofo vê-a, certamente, como parte de uma estratégia combativa, capaz de projectar a renascimento do ideal comunista e a recusa da democracia representativa. Mas é também aqui que adianta uma crítica a este sistema que faz sentido: ele «admite adversários, mas não inimigos», excluindo todo aquele ou tudo aquilo que possa ser «portador de uma outra visão das coisas, de uma outra regra do jogo que não seja a dominante». Rejeita pois essa luta em campo aberto que define as grandes viragens. Partidos e sindicatos, que apesar das diferenças se batem no respeito pelas regras do jogo, tornam-se então cúmplices da simples «gestão do possível», colocando num horizonte improvável a possibilidade de uma mudança radical de políticas. A hipótese mais certa de mudar de vida.

                    É justamente esta crítica que retiro das posições de Alain Badiou como útil. A possibilidade de desenvolver a convicção de que o modelo de sociedade em que vivemos não é único e inevitável. Quando declara, em «The Communist Hypothesis», artigo publicado em 2008 pela New Left Review, que «o tema de uma emancipação da humanidade não perdeu nenhuma da sua força», ou então, como o fez em entrevista à Philosophie Magazine, quando diz que o ideal de comunismo que concebe «repousa sobre uma ontologia da multiplicidade», está a abrir-nos portas que apontam também para a possibilidade de demolir o capitalismo sem cair na utopia tirânica e com péssimas provas dadas do «homem novo». Termina aqui, no entanto, a simpatia que sou capaz de registar. É que, contra Badiou, não consigo ver como pode conceber-se uma sociedade renovada, mais justa e capaz de aceitar o múltiplo, quando se sugere o eclipse do individual em detrimento do colectivo e se declara a necessidade de um «projecto» (uma ideologia? um programa?) que oriente a mudança. A ideia de emancipação, encaminhada de forma centralista e apoiada na gestão da violência, não pode voltar a ter, como teve no passado, o rosto de uma nova escravidão.

                    É preciso partir ainda muita pedra para se chegar a algum lado neste campo. Mas a ideia «badiouana» de um «fazer acontecer» como factor da transformação parece, essa sim, corresponder a um bom e útil princípio. A aplicar desde já.

                      Atualidade, Olhares, Opinião

                      Chuck B. Goode

                      Desde que começou a tocar em público e gravou o primeiro hit da história do rock ’n’ roll – «Maybellene», de 1955, ainda com um costela nos blues – Chuck Berry viu nascer, crescer, vencer, arruinar-se, trair ou morrer sucessivas gerações de rockers. Ontem, aos 84 anos, depois de uma hora de concerto em Chicago, sentiu-se mal, desmaiou e bateu com a cabeça no piano em que tocava. Assistido no local, retomou o concerto, que abreviou por se sentir «um pouco cansado». Já não se fabricam motores assim. [Aqui CB com Keith Richards em «Roll Over Beethoven»]

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                        Apontamentos, Música, Olhares

                        Uma mudança anunciada?

                        A oliveira

                        Em Março de 2006, dois reputados professores universitários de ciência política e de relações internacionais, John Mearsheimer, de Chicago, e Stephen Walt, de Harvard, publicaram na London Review of Books um artigo, intitulado «The Israel Lobby», que correspondia à versão reduzida de um outro, escrito a pedido da Atlantic Monthly mas por esta rejeitado. O carácter controverso do tema suscitou rapidamente uma enorme disputa, envolvendo sobretudo partidários inflexíveis e detractores apaixonados e levando ambos os autores a sentirem a necessidade de desenvolver os seus argumentos em livro.

                        De uma forma bastante simplificada, estes argumentos traduziram-se na identificação de pessoas e de organizações que se foram empenhando, ao longo de décadas, na construção de uma política externa norte-americana acentuadamente pró-Israel. Associada a este trabalho, desenvolvido de uma forma bastante exaustiva e apoiado em testemunhos, documentos e factos bem identificados – não fosse ele um trabalho de investigação académica –, adiantou-se ainda a ideia segundo a qual esta relação tem sido tão prejudicial para os interesses americanos quanto para a formulação de uma política externa israelita verdadeiramente independente e dialogante. Ao longo de mais de seiscentas páginas, sucedem-se então as informações sobre o complexo processo de constituição do lóbi, quase inexistente quando da fundação do Estado de Israel mas gradualmente erguido a partir da época da Guerra dos Seis Dias (Junho de 1967).

                        Numa recensão crítica a este livro publicada no diário Haaretz, tradicionalmente identificado com uma certa esquerda secular israelita, Daniel Levy, que foi conselheiro político do primeiro-ministro e integrou delegações destinadas a negociar a paz com as autoridades palestinianas, concluiu que para poder entrar numa era de maior sanidade e de revisão da política de ocupação, Israel deverá pois repensar o seu relacionamento com o lóbi americano, mas não exclusivamente judaico, que tem favorecido um intervencionismo cada vez mais agressivo. Uma posição que claramente reforça a importância desta obra, do intenso debate que suscitou, da barreira de silêncios e cumplicidades que permitiu transpor. E da mudança que poderá anunciar.

                        [John J. Mearsheimer e Stephen M. Walt, O Lóbi de Israel e a política externa dos EUA. Tinta-da-China. Trad. de Rita Graña. 608 págs. Adaptação de um texto publicado na revista LER de Dezembro de 2010.]

                          Atualidade, Olhares

                          Nostalgia, conservadorismo e democracia

                          Andrew Sullivan

                          É bom prevenir o leitor: apesar do aspecto sóbrio da capa e da respeitabilidade do tema, esta não é uma obra de filosofia política. Aquilo que o autor se propõe fazer a partir da sua identidade pessoal complexa – Andrew Sullivan é um inglês católico de ascendência irlandesa, americano por adopção, gay e típico membro da Geração X – consiste antes em descrever a trajectória que fez dele, neste tempo em que todos «vivemos em nichos e comunicamos no meio de ravinas», um conservador mal visto pela maioria dos que adoptam princípios e atitudes inflexíveis e manifestamente de direita. Mas este pode também ser considerado um livro contra a apostasia, no qual os apóstatas, classificados como «fundamentalistas», são os que traíram a ficção de segurança, a noção de resposta ao «colapso da esquerda», a resistência à mudança e a uma certa ideia de perda, sobre a qual Sullivan construiu o seu próprio modelo de conservadorismo.

                          Sullivan expõe desde o início uma concepção bastante aberta das suas escolhas. Para Michael Oakeshott, o filósofo britânico sobre o qual escreveu uma tese em Harvard, não pode construir-se uma moral pessoal com base num livro ou numa teoria; com ele Sullivan aprendeu que «a nossa moral é como a linguagem que aprendemos e usamos a cada instante», a qual parte de uma base sólida mas deve ser constantemente adaptada à experiência. Será este, no fundo, o fundamento de um «conservadorismo dialogante», associado pelo autor ao ideal de governação proposto nos anos oitenta por Thatcher e Reagan. A valia social desta opção teria, porém, sido usurpada e arruinada na década de 1990 por um «fundamentalismo» de características religiosas. Este apoia-se em factos, não em teorias, excluindo a dúvida em nome da fé, impondo pela força «uma verdade inalterável, precisa e externa no centro da vida de cada pessoa», e exigindo a sua completa obediência. Na América, partiu de algumas margens mas cresceu rapidamente, atingindo a direcção dos republicanos e disseminando metástases por toda a sociedade. A figura e a intervenção de de George W. Bush teriam então emergido, nos planos simbólico e prático, como sinais do recuo de uma ideia de sociedade serena e equilibrada dirigida pela inteligência e pelo bom senso. Um recuo apoiado nos sectores mais retrógrados e intransigentes da sociedade americana, compostos por gente que toma a Bíblia à letra, ignorando dois mil anos de experiência e de progressos no campo da ciência e dos direitos humanos.

                          Sabendo-se que A Alma Conservadora foi publicado em 2006, antes ainda da rápida ascensão pública de Barak Obama, o panorama apresentado é devastador. Todavia, na segunda parte da obra, Sullivan perde o registo pessimista e retoma a voz combativa – em defesa, por exemplo, do casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou repudiando a tortura e a pena de morte – que o destacou, em The Daily Dish, como um dos primeiros bloggers a desempenhar um papel proeminente enquanto opinion maker. No final, o leitor reconhecerá o forte desejo, manifestado pelo autor, de depurar a «alma conservadora» dos seus desvios perigosos e infelizes. Uma atitude de proselitismo de um ideal de conservação e nostalgia, ancorado num horizonte de tolerância e de razoabilidade, que lhe parece harmonizável com os princípios elementares do jogo democrático.

                          [Andrew Sullivan, A Alma Conservadora. Quetzal. Trad. de Miguel de Castro Henriques. 336 págs. Adaptação de um texto publicado na revista LER de Dezembro de 2010.]

                            Atualidade, Olhares, Opinião

                            Os meus dez mais de 2010

                            O leitor

                            Chegamos então à época das listas. A minha não é a dos melhores nem a dos piores livros saídos ao longo do ano que agora parte. É só a daqueles dez que foram editados em português europeu, pude ler ou reler, e me (lo)comoveram um pouco mais que o habitual. A daqueles que com algum egoísmo maior prazer sinto em partilhar. Ao fechar o balanço, reparei que foram 365 dias com menos ficção (e sobretudo menos poesia) do que foi a norma noutros anos. Pode ser um sinal de condescendência para com a cultura da competição em que nos querem afogar. Na hora de substituir o tradicional calendário de pin-ups e de meter à boca as passas da praxe, um dos meus desejos será reparar este grande pecado.

                            A ordem é apenas alfabética. Não aparecem e-books porque os que fui lendo estão por traduzir.

                            Enrique Vila-Matas, Diário Volúvel (Teorema)
                            George Orwell, Livros & Cigarros (Antígona)
                            Hans Küng, Islão. Passado, presente e futuro (Edições 70)
                            Herta Müller, Tudo o que tenho trago comigo (Dom Quixote)
                            John Newsinger, George Orwell. Uma biografia política (Antígona)
                            Manuel António Pina, Por outras palavras & mais crónicas de jornal (Modo de Ler)
                            Mario Vargas Llosa, O Sonho do Celta (Quetzal)
                            Orlando Figes, Sussurros. A vida privada na Rússia de Estaline (Alêtheia)
                            Tony Judt, Um tratado sobre os nossos actuais descontentamentos (Edições 70)
                            Walter Benjamin, O Anjo da História (Assírio & Alvim)

                              Apontamentos, Olhares

                              O século XX na ponta dos dedos

                              M. Gilbert

                              Mesmo que nos limitemos à edição nacional, é grande a oferta de «Histórias do Século XX» actualizadas ou que mantenham um grau de actualidade temática que lhes amplia o interesse. É o caso das obras de Hobsbawm, Judt, Roberts, Droz e Rowley, Gombrich, Fulbrook ou Blainey, que podem ser facilmente encontradas nas livrarias. Nenhuma, infelizmente, de autores portugueses, confirmando uma certa tendência da historiografia nacional para manter uma redutora resistência a investigar e a escrever no domínio da história comparada. Para não irmos mais longe, os espanhóis têm-se revelado bem menos tímidos neste campo. A esse conjunto de trabalhos junta-se agora o livro de Martin Gilbert, o historiador britânico que escreveu, entre outras obras, uma excelente biografia de Winston Churchill, uma História de Israel, e duas completas Histórias das guerras mundiais, todas editadas em Portugal. No entanto, é preciso reconhecer que esta não é uma obra de análoga qualidade historiográfica, mesmo que tenha todas as condições para se tornar útil tanto ao leitor não especialista quanto ao profissional que precise de uma referência rápida e com garantia de qualidade.

                              A atitude dúplice de reserva e de interesse justifica-se em poucas palavras. Por um lado, Gilbert pratica o género de história factualista que, sobretudo a partir do final da Segunda Guerra Mundial, e em particular ao longo das décadas de 1960-1970, levantou enormes resistências nos meios académicos de ensino e de pesquisa avançada no campo da História, tendo sido quase exclusivamente no universo cultural de matriz anglo-saxónica que conservou algum destaque. Por outro, ela assegura um fio de inteligibilidade, não perturbado por estratégias interpretativas complexas, que facilmente seduz o leitor sem grandes exigências académicas, geralmente mais interessado em conhecer do que em compreender, ou, menos ainda, em explicar. Esta funcionalidade didáctica é, aliás, particularmente realçada pelo facto da cronologia escolhida abranger todo o século XX, encerrando rigorosamente em 1999, o que permite assegurar processos de inteligibilidade de acontecimentos recentes que uma parte dos grandes compêndios de História ainda não carrega consigo.

                              Convém ainda referir que esta é uma edição condensada de uma outra, publicada em três volumes entre 1997 e 1999. Nesta edição original, ainda que a dimensão puramente narrativa e factualista seja também visível, pois depende da perspectiva metodológica e do estilo pessoal de Gilbert, detecta-se uma densidade em termos de volume de informação e do trabalho de escrita que lhe retiram qualquer suspeita de superficialidade. Infelizmente não foi esta a versão agora traduzida, mas não será por isso que a obra deixa de servir de referência na estante de quem se interesse pela história do século passado. Ou, mais especificamente, por acontecimentos cujo impacto ecoa ainda, por vezes com algum furor, na experiência diária da nossa contemporaneidade.

                              [Martin Gilbert, História do Século XX. D. Quixote. Trad. de Francisco Agarez. 680 págs. Adaptação de um texto publicado na revista LER de Dezembro de 2010.]

                                História