O PS e as suas circunstâncias

Fot. Adrian Scholz
Fot. Adrian Scholz

Duas circunstâncias parecem condicionar o futuro próximo do Partido Socialista. A primeira diz respeito ao significativo número de cidadãos inscritos como militantes ou simpatizantes que estão em condições de votar nas primárias do dia 28 de Setembro. Perto de 250.000, tendo em conta que apenas 90.000 militam no partido, está de facto muito acima daquilo que seria concebível no início do verão. A segunda circunstância refere-se à forma como, independentemente do resultado, da liderança escolhida ou da definição programática que venha a afirmar-se, tem vindo a ficar claro que o PS jamais voltará a ser o mesmo. Está comprometida, talvez irremediavelmente, uma tradição de unidade que sempre foi harmonizando diferentes sensibilidades e expectativas. Bastaria aliás esta situação para que os partidos à esquerda dos socialistas assumissem o dever de ser mais prudentes nas infundadas certezas que parecem ter a propósito do que irá acontecer num futuro próximo. ler mais deste artigo

    Atualidade, Democracia, Opinião

    Não há mortos de segunda

    Não é de mais insistir num preceito fundamental: como acontece com a tortura, toda a morte infligida é inaceitável. E não importa se esta é determinada pela ideologia, pela religião ou pelo desejo incontido de cumprir uma vingança. Talvez no teatro de guerra – quando a escolha definitiva é entre matar e morrer – ela possa entender-se, ou mesmo aceitar-se. Mas jamais pode ser olhada como uma inevitabilidade ou como uma necessidade. Por isso é ainda mais incompreensível a atitude hipócrita daqueles que, nos dramáticos conflitos internacionais que estão a marcar este verão, lamentam certas mortes, se indignam com elas, mas tratam de silenciar ou de «compreender» outras não menos terríveis e insustentáveis.

    Isto tanto pode aplicar-se aos mortos provocados em Gaza pelos bombardeamentos de Israel quanto àqueles que o autoproclamado Estado Islâmico está a acumular no Iraque e na Síria. Trata-se de uma enorme prova de incongruência moral, e até de cobardia, invocar uns e silenciar os restantes. Na realidade, quem o faz pouco valor dá de facto ao sofrimento dos outros, preocupando-se muito mais com as subtilezas da geoestratégia, a linha política partidária ou a «justeza» do lado em que se situa quem morre e quem mata. Aqui a barbárie não está apenas nas mãos de quem degola ou bombardeia, mas também nas de quem justifica os algozes ou aceita o horror, selecionando quem deve ser defendido e quem deve ser entregue às suas circunstâncias e deixado ao abandono. Confio tão pouco nuns quanto nos outros. Mas aos últimos jamais darei o direito de me representarem.

    Crónica publicada no Diário As Beiras

      Apontamentos, Atualidade, Opinião

      Shakespeare e a tábua das emoções

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      A contemporaneidade de William Shakespeare tem sido particularmente destacada na altura em que se evoca o 450º aniversário do seu nascimento. No início deste ano, em Berlim, um colóquio promovido pelo British Council que envolveu diversos especialistas teve justamente como pressuposto que dentro e fora do universo académico o seu legado «se mantém vivo sob múltiplos aspetos». Todavia a ideia não é nova, pois já em 1961 o encenador Jan Kott publicara em Varsóvia um livro, rapidamente traduzido em diversas línguas, sobre a força dessa ligação. Kott traçava ali uma série de analogias entre as situações dramáticas criadas pelo mais conhecido dos naturais de Stratford-upon-Avon e as cambiantes infernais da vida pública, duplamente subjugada ao impacto do nazismo e do estalinismo, presentes na Polónia do seu tempo. ler mais deste artigo

        Ensaio, História, Leituras, Olhares

        A banalização do fascismo

        Auschwitz. Por Alex Ayann
        Auschwitz. Por Alex Ayann

        Quando oiço dizer que vivemos, em Portugal e nesta complicada Europa que nos cabe, «pior que no tempo do fascismo», ocorrem-me três argumentos contra uma afirmação tão imperfeita e perigosa. Em primeiro lugar, ninguém que tenha vivido ou conheça de forma cabal o tempo e a experiência dos fascismos que envenenaram o século passado, fazendo dos Estados aparelhos de coação e não de garantia dos direitos fundamentais, é capaz de proferir em consciência uma afirmação dessa natureza. Em segundo lugar, estabelecer uma comparação que incide de forma particularmente negativa sobre o presente é prova de um claro desconhecimento da História, pois nenhum dos conflitos e formas de opressão pelos quais passamos hoje, sobretudo no mundo industrializado e nas suas contíguas periferias, se compara, em escala e na brutalidade, com aqueles que cruzaram as décadas em que os fascismos se impuseram. Em terceiro lugar, quem o diz vive provavelmente no terreno nebuloso de um wishful thinking feito de enormes simplificações, com recurso às quais pensa agudizar contradições e desta forma prover as «condições objetivas» para impor mudanças julgadas redentoras, necessariamente ilusórias. No fundo, quem de tudo isto beneficia são de facto os novos fascismos, agora mais insidiosos e apurados nos seus métodos, que pelo efeito de banalização que uma tal afirmação provoca vão podendo desbravar caminho. Desta maneira, em vez de se baterem pela defesa dos direitos alcançados em décadas de lutas pela democracia e pelo bem-estar, muitos cidadãos desenvolvem uma consciência política feita essencialmente de ressentimento, que acaba por isolá-los, desmobilizando-os de facto e colocando-os à mercê dos algozes. À noite, nas suas casas, adormecem narcotizados, tentando esquecer um mundo que os atemoriza e não compreendem.

          Apontamentos, Atualidade, História, Opinião

          Carpe diem

          Boa parte do que muitas pessoas de diferentes gerações, a minha incluída, aprenderam ao longo da vida, ficou a dever-se, pelo menos na génese, à leitura de revistas e jornais. Não apenas por causa dos acontecimentos noticiados ou de artigos sobre este ou aquele assunto, mas pela própria riqueza dos textos recolhidos. Muitos jornalistas, ou pessoas que colaboravam com as publicações, sabiam fazê-lo com mestria, suscitando sempre o conhecimento ou a curiosidade. Mesmo num pequeno apontamento, numa entrevista, num comentário, sabiam juntar sempre uma nota de saber que assim era transmitida e recolhida de uma forma natural, sem esforço e sem prejudicar a clareza, ajudando a alargar o universo de conhecimento e de interesses do leitor. Faz-nos muita falta agora – porque agora rara, muito rara – essa forma, simples mas eficaz, de passar o saber acumulado.

          Lembro isto ao ler num jornal, a propósito da morte de Robin Williams, uma referência ao facto deste ter «celebrizado a expressão ‘carpe diem’». Referia-se a jornalista ao papel de Williams no filme O Clube dos Poetas Mortos, dirigido por Peter Weir e estreado em 1989. Só que o personagem John Keating, o inesquecível professor de literatura que tão bem sabia motivar os seus alunos, citava ali um verso retirado de uma ode de Horácio, o poeta romano do século I a.C., profusamente utilizado no trajeto intelectual do ocidente. Afinal, a ideia de aproveitar o dia, de fruir o momento que passa, não foi «celebrizada» por uma «celebridade», mas retirada de uma tradição com já mais de dois mil anos. Lá escrevia Horácio, «dum loquimur, fugerit invida aetas: carpe diem quam minimum credula postero». Como quem diz, traduzindo muito, muito livremente, «enquanto falamos, já terá fugido o invejoso tempo: colhe o dia que passa, confiando menos no de amanhã». As pobres «celebridades» voam depressa e desaparecem no horizonte; o conhecimento, esse fica.

            Apontamentos, Cinema, Jornalismo, Olhares

            Verão conturbado para o PS

            Não sou militante, simpatizante ou sequer eleitor do Partido Socialista. Vejo aliás de um modo muito crítico o processo de progressiva desvitalização política que, durante a maior parte do tempo, o tem caracterizado ao longo das últimas décadas. Um processo vinculado ao abandono dos fundamentos mais essenciais da tradição social-democrata de esquerda, hoje já só formalmente inscritos na sua matriz e invocados como uma flor na lapela. Estes têm sido trocados por uma política estritamente pragmática, feita mais de interesses que de causas, mais preocupada com medidas do que com metas, na qual tantas vezes têm pesado sobretudo a influência pessoal, os grupos de pressão e, a estes ligados, os jogos de bastidores. Desta forma, têm sido recorrentemente remetidas para um plano secundário a dinâmica democrática, que foi fundadora do partido, e a força criadora das convicções e dos projetos de inspiração social. Este panorama não pode ser associado a toda a vida e a todos os militantes do PS, seria injusto e impreciso fazê-lo, mas corresponde à tendência predominante. ler mais deste artigo

              Atualidade, Coimbra, Democracia, Opinião

              Quem tem razão vs. Quem tem razão

              O conflito israelo-palestiniano é talvez o tema de política internacional que maiores clivagens cria na opinião pública. Ao ponto de toldar pessoas habitualmente razoáveis ou de incompatibilizar outras que pouco antes partilhavam opiniões próximas sobre numerosos assuntos. E isto acontece há décadas. Pelo menos desde as rápidas mas brutais guerras dos Seis Dias (1967) e do Yom Kippur (1973), quando os mais duros dos duros militares israelitas, comandados no terreno por homens como Moshe Dayan ou Ariel Sharon, tomaram conta de Israel, ampliando a ocupação sionista do território da Palestina e deitando por terra qualquer possibilidade de um entendimento com a antiga OLP. A sua atitude de impiedade e conquista favoreceu, ao mesmo tempo, o crescimento de setores palestinianos radicalizados que excluíam qualquer acordo, presente ou futuro, com Tel Aviv. A partir dessa altura, a paz transformou-se numa miragem. E o sofrimento, sobretudo o dos mais fracos e desprotegidos, não mais parou, regressando periodicamente aos paroxismos de violência e assassinato em massa como aqueles a que estamos a assistir. ler mais deste artigo

                Atualidade, Democracia, Olhares, Opinião

                Problemas à esquerda (2)

                A primeira parte deste artigo pode ser encontrada aqui.

                A crise do Bloco de Esquerda existe. Mas é bastante mais saudável dá-la como certa e funda, olhá-la de frente, do que fugir a debatê-la publicamente, fazendo de conta que é irrelevante e momentânea, resultado fortuito de desfigurações impostas pelos seus adversários políticos naturais ou de erradas escolhas pessoais nascidas no seu interior. Na verdade, a origem desta bem visível crise é complexa e prende-se com circunstâncias tão diferentes como a continuada ambivalência do projeto inicial do Bloco, uma prolongada indefinição programática e uma notória dificuldade de adaptação a alguns dos desafios impostos pelas transformações políticas e sociais despoletadas pela crise financeira de 2010. O pior que os seus dirigentes podem fazer – a si próprios e aos cidadãos que nele têm depositado uma parte das suas esperanças – é negar esta situação diante dos microfones, ensaiando uma fuga para a frente e apontando o dedo em riste a quem diverge. ler mais deste artigo

                  Democracia, Olhares, Opinião

                  Problemas à esquerda (1)

                  Naquele inverno de 1999-2000 participei em algumas das primeiras iniciativas do Bloco de Esquerda. Numa delas tive uma experiência singular: um almoço, entre duas sessões de trabalho, partilhado por largas dezenas de pessoas, ativistas de diversas origens, muitos deles a viver ali reencontros tantas vezes adiados, que durante a refeição se esforçaram visivelmente, algumas com aparente êxito, outras de maneira desajeitada, por contornar tudo aquilo que pudesse recordar as antigas desavenças e as clivagens um dia consideradas insanáveis. Sensivelmente as mesmas, vindas ainda das querelas dos anos 60 e 70, que durante décadas haviam azedado relações pessoais e políticas, fixando-se nas posições irredutíveis, presas a princípios e idiossincrasias mas quase sempre com zero em sentido prático, que tinham condenado a «esquerda da esquerda» à irrelevância. Agora, no entanto, tudo era possível: o luto da revolução falhada parecia feito e aquele tempo configurava-se como de viragem e superação, voltado para a criação de uma experiência realmente nova. ler mais deste artigo

                    Democracia, Olhares, Opinião

                    Porque é que a cultura não é notícia?

                    ipsilon

                    Participei esta semana num debate organizado em Coimbra pela Escola da Noite e subordinado ao mote «Porque é que a cultura não é notícia?». Nele foi apresentado por Carla Baptista e Maria João Centeno, do Centro de Investigação Media e Jornalismo, um recente estudo no qual se procurou, a partir da observação das primeiras páginas de jornais portugueses publicados entre 2000 e 2010, fazer o diagnóstico da cobertura jornalística dos temas culturais. Este trabalho, «A Cultura na Primeira Página» (culturaprimeirapagina.fcsh.unl.pt) não responde diretamente à pergunta que motivou a sessão, mas ajuda bastante a perceber de uma forma sustentada algumas das razões que nos obrigam a colocá-la. E também a verificar que o modo como determinadas abordagens continuam a ser destacadas, como outras são remetidas para páginas secundárias e outras ainda pura e simplesmente desaparecem dos jornais, obriga a questionar a forma como neles o próprio conceito de cultura é entendido. ler mais deste artigo

                      Democracia, Jornalismo, Opinião

                      Resistir não basta

                      Um dos dramas deste tempo difícil e perturbante que estamos a viver reside na aparente incapacidade para vislumbrar uma saída. Diante da política de terra queimada imposta pelo governo, da sonegação dos direitos sociais que foram uma conquista de décadas de esforços partilhados, da diminuição brutal da qualidade de vida da generalidade das pessoas, da subversão do modelo de desenvolvimento que, apesar de imperfeito, nos levou a superar a condição aparentemente atávica de parente pobre e periférico de uma Europa outrora distante e sobranceira, quase parece impossível erguer uma alternativa. A tristeza, a incerteza e a descrença tomaram conta das nossas vidas, das nossas ruas, tornando-nos sonâmbulos sem autoestima, esperança ou uma ideia razoável de futuro. ler mais deste artigo

                        Apontamentos, Democracia, Opinião

                        A Carta

                        Depois de dois textos sucessivos (aqui e aqui) escritos a propósito do desaire eleitoral do Bloco de Esquerda, escolhi mudar de agulha. Afinal, tudo o mais que pudesse escrever sobre o tema parecia-me uma reiteração do que já tinha escrito, produzida no desconhecimento do que pudesse estar a acontecer num debate interno forçosamente intenso. Poderia além disso mostrar-me injusto ou precipitado, coisa que desde a primeira hora escolhi evitar sempre que falo do Bloco. Todavia os acontecimentos acabaram por sobrepor-se a essa lógica de contenção e, perante a «Carta às esquerdas», assinada pelos dois coordenadores do BE e tornada pública no último domingo, concluí que algumas escolhas, a meu ver insuficientes e infelizes, foram já projetadas para o exterior, sugerindo uma lógica de continuidade, repleta de maus augúrios, que se faz à revelia de muitos dos potenciais eleitores e condicionará qualquer tentativa de inflexão. Por isso retorno ao tema. ler mais deste artigo

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                          Dizer não

                          Reprodução parcial da crónica «El que dice no», de An­to­nio Mu­ñoz Mo­li­na, publicada na Babelia de 17 de Maio de 2014.

                          Há uma beleza própria no gesto daquele que diz não, com calma e firmeza, por vezes com fúria, ou que diz não ao inimigo ou ao déspota que deseja subjugá-lo. E também no que diz não aos que esperavam e confiavam em que dissesse sim, aos próximos, aos seus, aos que se sentirão magoados, quando não traídos, pela sua inesperada negativa. Aos que, talvez depois de o haverem nomeado filho dileto, decidem rebaixá-lo a filho pródigo. Há um não heroico que conduz com toda a certeza ao cativeiro e à morte, e esse é um não que não pode exigir-se a ninguém, porque ninguém está em condições de exigir o que não sabe se ele próprio faria, ainda que existam seres humanos suficientemente mesquinhos para julgar com dureza aqueles que sofreram muito mais que eles. ler mais deste artigo

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                            O não-ficcionista

                            Em «Dificultad de la Ficción», um artigo publicado há alguns meses no diário El País, Antonio Muñoz Molina, andaluz de Jaén e autor de romances notáveis como O Inverno em Lisboa, Beltenebros e A Noite dos Tempos, também ensaísta de mérito e cronista obstinado, lembrou a dada altura, ao falar do exercício da sua principal arte, aquilo que poderá parecer óbvio: «O romancista é livre: ele próprio determina a mistura de ingredientes reais e inventados que dão corpo à sua matéria narrativa. Mentir é a sua forma de chegar a uma certa verdade.» ler mais deste artigo

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                              O abismo e o compromisso

                              Na terça-feira passada, 27 de Maio, publiquei um texto de opinião, intitulado «O dia seguinte do Bloco», no qual – como aí dizia, «na mera ótica do utilizador», isto é, enquanto apoiante crítico, colaborador ocasional e votante obstinado – ensaiava uma tentativa de interpretação, naturalmente curta e parcial, da enorme derrota sofrida pelo Bloco de Esquerda nas eleições europeias. Aí colocava também algumas hipóteses sobre o caminho, necessariamente difícil mas necessário, que poderia ser trilhado para retomar o caminho da esperança e do reconhecimento público. A justificar esse esforço a convicção, que mantenho, de que o Bloco pode e deve ser parte da solução para obter uma viragem do país no sentido da construção de uma sociedade mais justa, mais solidária, mais democrática, e mais envolvida no bem-estar dos cidadãos. Para além de, nesta altura, integrar uma grande área destinada a inverter o estado a que a coligação PSD/CDS conduziu o país e a vida dos que o habitam, não podendo desobrigar-se do seu compromisso neste campo. ler mais deste artigo

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                                O dia seguinte do Bloco

                                Nota prévia: Esta é uma leitura «na mera ótica do utilizador». A eventual candidatura de António Costa à direção do PS poderá reconfigurar muita coisa. Mas esse não é o presente cenário.

                                Nas europeias do passado domingo o Bloco de Esquerda perdeu muitos eleitores para o PCP/CDU, para o Livre e até para o «partido do Marinho e Pinto». Sem estas perdas – a culpa não será por certo dos destinatários desses votos, que apenas fizeram o seu trabalho – o BE teria, muito provavelmente, um resultado estável e proporcional ao papel que se espera que cumpra. Mas tal não aconteceu, pese a justa eleição de Marisa Matias, e por isso precisa agora de refletir seriamente, sem medo e sem mais adiamentos, nas razões internas da aparatosa derrota. Nas razões internas, insisto, não na «culpa» dos outros. Mas também numa reorientação de estratégia e de política de alianças. Para evitar afundar-se mais ainda em termos eleitorais e poder retomar o lugar único e necessário que tem ocupado no espetro político nacional. ler mais deste artigo

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                                  O tamanho de uma cidade

                                  Gosto muito de biografias de cidades. Sempre que encontro alguma e me parecem seguros a competência da escrita e o certeza da informação – mesmo quando esta incorpora, e isso acontece quase sempre, uma dimensão ficcionada –, não descanso até a ler. Só nos últimos anos, recordo a leitura compulsiva de obras que traçam o percurso histórico de algumas delas, distribuídas por diferentes mapas, como Istambul (Orham Pamuk), Salónica (Mark Mazower), Jerusalém (Simon Montefiore), Praga (John Banville), Rio de Janeiro (Ruy Castro), Paris (Julien Green), Nova Iorque (Patrick McGrath) ou Odessa (Charles King). De cada uma, no correr das páginas, emergiu sempre um corpo vivo, dinâmico, capaz de ultrapassar a transitoriedade dos percursos pessoais ou das gerações associados ao emaranhado das ruas e ruelas, das casas, das praças ou dos seus lugares mais recônditos. ler mais deste artigo

                                    Atualidade, Cidades, Coimbra, Olhares

                                    Em quem vou votar (e porquê)

                                    Um dos traços negativos da atual campanha para as europeias encontra-se no paradoxal menosprezo dos partidos do arco da governação pela Europa como assunto e desígnio. Nas suas campanhas, o PS e o PSD/CDS integram o tema como parte acessória da luta interna que mantêm pela gestão do Estado e da estratégia internacional das respetivas famílias políticas – seja o que for que isso ainda possa significar – para o controlo do Conselho Europeu e da maioria em Bruxelas e Estrasburgo. Por isso, neles as referências à política europeia como razão de ser e objetivo central da participação nestas eleições, em pouco se distinguem. Limitam-se a replicar a separação, tantas vezes apenas formal, entre os defensores da austeridade a todo o custo ou os de um desenvolvimento mais apoiado na intervenção dos poderes públicos. Para além do apelo à delegação de soberania através do voto, os cidadãos não são informados com clareza de qual o sentido efetivo que cada uma das escolhas verdadeiramente pode ou deve tomar. O que, de concreto, irão Assis ou Rangel fazer no Parlamento Europeu. ler mais deste artigo

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