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1962 e agora

Os cinquenta anos virados sobre o eclodir, em Portugal, da Crise Académica de 1962, têm dado lugar a um conjunto de iniciativas públicas. Iniciativas importantes por três motivos. Primeiro motivo: porque têm reunido muitos homens e muitas mulheres, antigos ativistas ou participantes, que sem excesso de nostalgia nos têm ajudado a perceber como a sua ação, naquela época, foi muito importante para fazer crescer as fileiras da resistência à ditadura salazarista. Segundo motivo: porque têm agregado a intervenção, ao nível da informação e da interpretação dos acontecimentos, de historiadores, jornalistas e outras pessoas com um papel essencial na transformação daquilo que são as experiências e as recordações de alguns em património coletivo ao dispor de todos. Terceiro motivo: porque no contexto atual têm servido para mostrar como, muitas das vezes, a energia de uma minoria pode exprimir e servir de motor à participação cidadã do coletivo, revelando que a resignação de nada serve e que a coragem pode ser um fator de mudança.

Mas já não justifica grande atenção a tentativa, levada a cabo em alguns jornais, de pôr em paralelo o associativismo universitário da época e o atual. As diferenças históricas são óbvias e todos as reconhecem: o mundo e o movimento estudantil deram muitas voltas ao longo destas cinco décadas, tanto em Portugal como em toda a parte. O que é incompreensível é tentar estabelecer semelhanças entre os principais ativistas de 1962 – em regra pessoas culturalmente muito preparadas, com um forte sentido cívico e reconhecidas no terreno – e os seus sucessores «no cargo», jovens geralmente pouco aptos do ponto de vista cultural, que da intervenção estudantil possuem uma dimensão corporativa, e que «representam» colegas em regra incapazes de lhes identificarem os rostos. Falamos, de facto, da água e do vinho. Claro que ninguém pretende encontrar cópias, hoje, do que foram os ativistas de ontem. Os de 1962, os de 1969-74, ou os dos anos 90. Mas hoje, hoje mesmo, continuam a percorrer as universidades estudantes inteligentes, cultos e generosos, com uma perceção dinâmica do papel que podem ter na mudança do país e não apenas na das suas vidas. Só que não estão, geralmente, nas direções associativas, organizando-se ou agindo à margem destas. Esta é a realidade e comparações absurdas iludem os leitores.

    História, Memória, Olhares

    Um discurso para a esquerda

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    A campanha de Jean-Luc Mélenchon, o candidato da Frente de Esquerda às presidenciais francesas de 2012, tem passado estranhamente discreta pelos média portugueses, mais interessados no confronto entre Sarkozy e Hollande, e lateralmente nas frases da menina Le Pen contra os emigrantes. No entanto a campanha de Mélenchon vai já nos 15% das intenções de voto, e em subida, justificando maior atenção. Admirador do socialismo e do pacifismo à Jean Jaurès, o candidato da FE (agrupando a Esquerda Unida, o Partido da Esquerda, o PCF e muitos independentes) recupera uma retórica socialista e internacionalista que vem das profundezas do século XIX. Daquela esquerda insurrecta que ainda não fora entorpecida pelo processo, crescentemente desligado de uma ideia de humano e das expectativas mais profundas dos cidadãos, com que o jargão do marxismo-leninismo, das ciências sociais e da teoria económica a foram cercando ao longo do século seguinte.

    Com toda a certeza, daí provém, como provém também, sem dúvida, da rara, mobilizadora e veemente capacidade do candidato como tribuno, o entusiasmo e a multiplicação dos apoios por parte de quem encontra na sua oratória uma forte mensagem de esperança. Vale a pena, para quem entenda o francês, seguir o discurso notável, pronunciado no passado 18 de março em Paris, na Praça da Bastilha, que aqui se reproduz. Perceberá melhor como pode aquilo que os historiadores reconhecem como velho reemergir, de um modo fulminante, como novo e mobilizador. Acontece que afinal a «primavera dos povos» permanece por cumprir. E aquele «tempo das cerejas e dos dias felizes» que desejavam os communards está por conquistar. E o povo sente isso.

      Atualidade, Democracia, Olhares, Opinião

      Tonino Guerra

      Devemos ao poeta, escritor e roteirista italiano Tonino Guerra (1920-2012), antigo professor primário e ex-prisioneiro do campo de concentração de Troisdorf, uma parte substancial  daquilo que nos mostrou o cinema de Michelangelo Antonioni (A Aventura, A Noite, O Eclipse, Deserto Vermelho, Blowup, Zabriskie Point, Identificação de uma Mulher), Federico Fellini (Amarcord, La Nave Va, Ginger e Fred), Theo Angelopoulos (Paisagem na NeblinaA Eternidade e um Dia, O Passo Suspenso da Cegonha) ou Andrei Tarkovski (Nostalgia). Isto quer dizer que lhe devemos uma parte significativa das nossas vidas, daquilo que somos e principalmente do que acreditamos ser. Eu, pelo menos, devo. Tonino aqui em entrevista a Carlos Vaz Marques.

        Apontamentos, Cinema, Olhares

        Onde está o movimento estudantil?

        Nas últimas décadas desenvolveu-se em volta do movimento estudantil um conjunto de justificações da sua redução a ações de natureza corporativa e do seu quase desaparecimento como movimento social com influência pública e visibilidade mediática. O termo de comparação, invocado nostalgicamente por alguns ou usado por outros na tentativa de compreender o que aconteceu para que tal tivesse ocorrido, assentou no modelo de ativismo desenvolvido a partir da década de 1950, que teve o seu apogeu com a experiência do Maio de 1968 e o seu canto do cisne durante os anos 70. Basicamente, alterações sociais profundas e uma readaptação do quadro institucional das democracias teriam esvaziado de sentido a politização, muitas vezes de caráter radical, que antes havia conduzido, um pouco por toda a parte, de Berkeley a Paris, da Cidade do México a Praga, no Rio ou em Tóquio, a uma intervenção estudantil capaz de se assumir como componente fundamental da mudança social, da renovação cultural e até da modernização. E também como «escola de democracia», servindo de campo de treino a toda uma geração aberta à crítica e à participação cívica como parte fundamental da vida coletiva e do conhecimento. (mais…)

          Atualidade, Olhares, Opinião

          Uma Brasileira em Coimbra

          A Brasileira

          Em A Ideia de Europa, saído em 2006, escrevia o crítico, filósofo e ensaísta George Steiner (a citação é longa mas vale a pena, embora só depois dela este post verdadeiramente arranque):

          A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes vão da cafetaria preferida de Pessoa, em Lisboa, aos cafés de Odessa frequentados pelos gangsters de Isaac Babel. Vão dos cafés de Copenhaga, onde Kierkegaard passava nos seus passeios concentrados, aos balcões de Palermo. Não há cafés antigos ou definidores em Moscovo, que é já um subúrbio da Ásia. Poucos em Inglaterra, após um breve período em que estiveram na moda, no século XVIII. Nenhuns na América do Norte, para lá do posto avançado galicano de Nova Orleães. Desenhe-se o mapa das cafetarias e obter-se-á um dos marcadores essenciais da «ideia de Europa».

          O café é um local de entrevistas e conspirações, de debates intelectuais e mexericos, para o flâneur e o poeta ou metafísico debruçado sobre o bloco de apon­tamentos. Aberto a todos, é todavia um clube, uma franco-maçonaria de reconhecimento político ou artístico-literário e presença programática. Uma chá­vena de café, um copo de vinho, um chá com rum assegura um local onde trabalhar, sonhar, jogar xa­drez ou simplesmente permanecer aquecido durante todo o dia. É o clube dos espirituosos e a posta-restante dos sem-abrigo. Na Milão de Stendhal, na Veneza de Casanova, na Paris de Baudelaire, o café albergava o que existia de oposição política, de libe­ralismo clandestino. Três cafés principais da Viena imperial e entre as guerras forneceram a agora, o locus da eloquência e da rivalidade, a escolas adversárias de estética e economia política, de psicanálise e filosofia. Quem desejasse conhecer Freud ou Karl Kraus, Musil ou Carnap, sabia precisamente em que café procurar, a que Stammtisch tomar lugar. Danton e Robespierre encontraram-se uma última vez no Procope. Quando as luzes se apagaram na Europa, em Agosto de 1914, Jaurès foi assassinado num café. Num café de Gene­bra, Lenine escreveu o seu tratado sobre empiriocriti­cismo e jogou xadrez com Trotsky. (mais…)

            Coimbra, Memória, Olhares

            Brilho nos olhos

            Olof Palme

            28 de Fevereiro. Passam hoje 26 anos sobre o assassinato de Olof Palme, o político e primeiro-ministro sueco que ajudou a recolocar a social-democracia europeia no eixo do combate contra as desigualdades. A sua via não foi a tíbia e desgraçada «terceira», que nos anos 90 devolveria a vida ao caduco liberalismo, mas a de um socialismo democrático construído na conciliação da liberdade individual e da economia de mercado com a afirmação do Estado social e com a solidariedade entre os povos e as nações. Palme faz-nos falta porque nos fazem falta políticos francos e corajosos. Que pensem grande e pensem alto. Dos quais se possa duvidar mas a quem se respeitem sempre o rasgo e a coerência. Faz-nos falta porque nos fazem falta políticos com brilho nos olhos.

            «Throughout history, people have lived in poverty and misery. They have been degraded by hunger and ignorance, they have tormented each other and been driven into war. Yet, not everything has remained the same: The difference is that we have acquired greater knowledge. The difference is, above all, that we are beginning to display a willingness to take responsibility for each other. Therefore, it is not without meaning when we react, take a stance and, to the best of our ability, try to influence human development.»

              Biografias, Democracia, História, Olhares

              Repressão em Atenas

              Manolis Glezos
              clique para ampliar

              Está neste momento a circular pelas redes sociais uma fotografia particularmente perturbante que funciona como eloquente sinal do Estado de guerra social total no qual se encontra a Grécia. Nessa imagem (que pode ver aqui; a que ilustra este post é diferente) observa-se a polícia a tentar manietar Manolis Glezos, de 90 anos, um antigo herói da resistência ao nazismo e um experiente político de esquerda que chegou a ser deputado europeu, sem o menor respeito pelas razões, pela idade e pelo papel na história do país do símbolo que tinham pela frente. Um péssimo exemplo da vaga de desprezo pelos direitos democráticos e sociais mais elementares que começa a varrer a Europa.

              Adenda – As imagens foram-me transmitidas como se fossem de agora. Acabo de saber que são de 2010. No entanto, Manolis Glezos esteve nos protestos de ontem e terá sido hospitalizado.

                Apontamentos, Democracia, História, Olhares

                O fulgor da liberdade


                © 2012 SkullHeart

                É sempre possível encontrar esperança no desespero. Romper a partir da desventura o caminho para a sorte que se deseja. Em «La République du Silence», um artigo publicado em setembro de 1944 na resistente Les Lettres Françaises, Sartre escrevia: «Jamais fomos tão livres como debaixo da ocupação alemã». Para logo de seguida alegar em defesa dessa estranha ideia: «Perdemos todos os direitos, a começar pelo de falar; insultam-nos a cada dia e temos de conter-nos; deportam-nos em massa como trabalhadores, como judeus, como presos políticos; por todo o lado, nos muros, nos jornais, no ecrã, deparamos com a imagem imunda que os opressores querem que tenhamos de nós mesmos: mas é precisamente por isso que somos livres.» É quando se alcança o limite da humilhação e da desumanidade que se percebe como só das nossas mãos, libertas pela necessidade e pela opressão de toda a hipótese do medo, pode renascer o fulgor da liberdade.

                  Apontamentos, Memória, Olhares

                  Nos 200 anos de Dickens

                  Oliver Twist segundo Roman Polanski

                  Não foi Cristo, Marx ou sequer o Zorro. Esses foram importantes mas chegaram em alturas menos decisivas. Foi Charles Dickens quem, pela mão de Oliver Twist e numa edição pobre mas digna da Romano Torres, no momento certo fez de mim uma pessoa de esquerda.

                    Apontamentos, Etc., Olhares

                    Truffaut e nós

                    F. Truffaut
                    François Truffaut e o seu alter ego Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud)

                    A entrada na adolescência de François Truffaut foi semelhante à do pequeno Antoine Doinel de Os 400 Golpes: sem um núcleo familiar estável, viu-se entregue a si próprio no mundo perturbado e hostil dos anos da Paris da Ocupação alemã e da Libertação, passando rapidamente da condição de bom aluno para a de um miúdo ansioso, fingido, ladrão e mentiroso. Expulso da escola aos 14 anos, segue a partir daí um destino de autodidata, refugiando-se por sua conta e risco na literatura e no cinema, e percorrendo um trajeto no qual o romanesco e o íntimo permaneceram unidos e como constantes. Foi este mundo intimamente penoso, de uma realidade imaginada a partir da consciência singular do narrador ou do personagem que não pretende ser exemplo de nada ou para alguém, que Truffaut foi construindo, com raras exceções, o seu modo próprio de filmar e de se aproximar dos espetadores encerrados na sala escura para lhe verem as artimanhas.

                    Ao longo das décadas de 1960-1970 foram muitos – eu fui um deles, para que conste, apesar de já só ter podido ver os seus primeiros filmes em sessões de reprise num velho cinema de cadeiras desconjuntadas e a cheirar exageradamente a encerado – os que foram projetando as certezas e as dúvidas sobre o seu próprio amadurecimento através do crescimento atormentado e problemático do inconstante Doinel (desde o citado filme, estreado em 1959, até Amor em Fuga, de 1979, passando por Antoine e Colette, de 1962, Beijos Roubados, de 1968, e Domicílio Conjugal, de 1970). Ou aqueles, homens principalmente, que foram perscrutando no ecrã pela mão do eterno menino parisiense as suas próprias fantasias (Jules e Jim, 1962; O Homem que Gostava das Mulheres, 1977; A Mulher do Lado, 1981). Truffaut nasceu em 6 de fevereiro de 1932 e se não lhe tivesse acontecido o pior em 1984 faria hoje 80 anos. Ter-nos-ia dado muito jeito que por cá se tivesse podido manter.

                      Artes, Cinema, Memória, Olhares

                      Um tema difícil

                      O tema é difícil. Principalmente para quem integrou e conserva nas suas quimeras úteis o ideal de uma pedagogia que capaz de privilegiar tanto o conhecimento das coisas e das ideias quanto a formação da capacidade crítica de pessoas livres. Um tema doloroso para quem jamais deixou de simpatizar com as propostas antiautoritárias de Paulo Freire e dos seus bons cúmplices. Como Agostinho da Silva, para quem «nada pode ser ensinado por imposição» e um professor «não é um capataz mas um auxiliar e um guia, cuja função é sugerir e não impor.» Difícil ainda para as convicções de quem pensa que a este princípio não pode ligar-se o seu inverso, que é o da subordinação do professor a lógicas que transtornaram os papéis de quem tem a missão de ensinar e de quem precisa aprender, convertendo a escola num local de conflito dentro do qual, demasiadas vezes, se gasta mais tempo a mediá-lo do que a fazer aquilo que realmente importa.

                      É este, no entanto, o cenário sobre o qual se têm desenvolvido os dolorosos problemas «de disciplina» que afetam muitas escolas secundárias e que – aspeto ainda algo encoberto – chegaram já às universidades. Na verdade, e por isso usei as aspas ao falar de disciplina, trata-se sobretudo de problemas de ausência de autoridade. Não no sentido da imposição violenta da vontade de alguém, ou de um regime educativo tirânico, mas da defesa das condições de trabalho de quem, professores e alunos, vive em comum para ensinar e para aprender. Por isso não posso se não discordar da posição dos que defendem serem os dispositivos legais que podem reforçar a autoridade do professor «uma resposta ilusória», como acaba de declarar uma deputada do Bloco, ou que esta se obtém basicamente «por reconhecimento social», como sugeriu um deputado do PCP. É que foi justamente esta posição, dominante durante décadas, que desarmou os professores e os transformou em alvos fáceis, retirando-lhes instrumentos necessários para poderem exercer de forma digna, livre e democrática a sua missão. O tema deveria, por isso, ter um peso importante na agenda dos partidos da esquerda e dos sindicatos do setor. E não ficar nas mãos da direita.

                        Atualidade, Ensino, Olhares, Opinião

                        Duarte Belo / Páginas Tantas

                        Esta segunda-feira, dia 6 de fevereiro, pelas 18H30, decorre a segunda sessão do programa Páginas Tantas, organizado em Coimbra pelo TAGV – Teatro Académico de Gil Vicente e pelo Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra. Nele se irá falando de livros e de literatura, das artes e dos artistas, e de outras coisas úteis. Em cada sessão estará presente um/a convidado/a que irá conversar com o público sobre o seu trabalho. Desta vez será Duarte Belo (Lisboa, 1968), autor de extensa e importante obra na fotografia portuguesa contemporânea. Esta centra-se principalmente no levantamento fotográfico da paisagem e das formas de ocupação do território, sendo de destacar as obras Portugal — O Sabor da Terra (1997) e Portugal Património (2007-2008). Este trabalho deu origem a um arquivo fotográfico pessoal de mais de novecentas mil fotografias.A partir do dia 6 o TAGV terá em exposição trabalhos do autor. Mais informações no blogue do programa.

                          Fotografia, Novidades, Olhares

                          Wislawa Szymborska

                          Wislawa Szymborska

                          Hoje cedo, de manhãzinha, morreu Wislawa Szymborska (1923-2012). Na sua casa de Cracóvia, tranquila, enquanto dormia, se querem saber. Mas isso agora já pouco importa.

                          Herdamos a esperança –
                          o dom de esquecer.
                          E tu verás como damos
                          à luz no meio de ruínas.
                          (de «Uma expedição não realizada aos Himalaias»)

                            Olhares, Poesia

                            Nós, os outros

                            «Je pourrais être votre grand-mère», «Eu poderia ser a vossa avó», é o título de uma curta-metragem de Joël Catherin – nesta fotografia com Ioana Geonea, imigrante romena em Paris ali no seu próprio papel – sobre o universo humano dos sem-abrigo. Um filme arrebatador, que tem ganho diversos prémios, sobre a capacidade que temos para ignorar os outros e, de repente, de nos surpreendermos com a sua existência e a sua proximidade connosco. O cartaz rabiscado da fotografia insinua – «toi» convertido em «toit», «ti» em «teto» – o primeiro verso de um conhecido poema de Louis Aragon publicado em Le romain inachevé e que um certo dia Jean Ferrat interpretou.

                            O filme completo pode ser visto no no. 2 de Rue89 avec les doigts, uma aplicação gratuita para iPad.

                              Apontamentos, Democracia, Olhares