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MAP, herói

Manuel António Pina

Em memória do Manuel António Pina (1943-2012), o MAP, com quem falei apenas em duas ocasiões, mas que sem o saber, e com toda a certeza sem o querer, foi um dos meus heróis. Uma crónica sua.

Aos Nossos Heróis

Éramos jovens e habitávamos um lugar cercado de paredes onde os ecos do longínquo mundo chegavam esparsos e abafados. E, no entanto, o nosso coração pequeno-burguês (des gens de la moyenne como cantava Colette Magny sobre o Dia do Estudante de 1966) estava maduro, pulsante de sentimentos excessivos e de palavras por dizer. De algum modo, Maio de 68 aconteceu dentro do nos­so coração. Era aí que, também nós, nos barricávamos então con­tra a pequenez do nosso tempo e do nosso lugar. E, sim, também nós (conselhistas, anarquistas, guevaristas, trotskistas, enragés de todas as espécies), dentro do coração nos sentíamos, mansamente embora, la pègre e la chienlit. (mais…)

    Biografias, Memória, Olhares, Recortes

    Fui maoista e não me arrependo

    Esta noite sonhei que voltara ao passado. Ainda melhor: sonhei que fora ao passado roubar, para poder usar nestes dias sem luz, aquilo que ele tinha de melhor. Não a juventude por alguns revista como insana, a energia sem medida, cuja evocação nunca me encheu de nostalgia porque as troquei por outras coisas e porque sei que a memória mais bela e perfeita tem sempre a forma de fábula. Pensando bem, afinal nesse passado fui tão feliz e tão infeliz quanto o sou hoje, ainda que por motivos diferentes. Fui antes buscar outra coisa, que ao contrário das fases e das dinâmicas da vida, permanece imortal porque transcende o tempo curto que nos cabe. Falo da esperança e da vontade indómita de mudar as coisas do mundo, sabendo sempre que nelas se misturam, em partes iguais, a imaginação do que há-de vir e o banho de realidade que sempre defronta o futuro.

    Em La Chinoise, o filme que Godard rodou em 1967, numa parede do pequeno e bem burguês apartamento de Paris que serve de quartel-general ao bando de jovens irredutíveis, aprendizes de alquimista da Revolução que há-de vir, que protagonizam o filme, encontra-se escrito, com letras delicadamente decalcadas, «é preciso confrontar as ideias vagas com as imagens claras». Uma frase, se a memória desgastada não me engana, justamente da autoria de Mao Tsé-tung. Nela se resume o princípio que no meu sonho procurei trazer de volta para este lado do tempo. O de que não há intervenção política capaz sem que a precedam o esboço de impossíveis quimeras. Porque o excesso de realismo e a ditadura da «política do possível», imune à ideia de salto, de viragem, deu no que deu. Como o comprovam os noticiários assustadores, soturnos, deprimentes, que ainda somos capazes de ouvir.

      Atualidade, Democracia, Memória, Olhares

      A piedade dos outros

      Fotograma de ‘Alceste à bicyclette’.
      Filme de Philippe Le Guay (2012)

      «Há um cego que prefere sair à noite, entre a uma e as quatro da madrugada, com um amigo também cego. Porque está seguro de não encontrar ninguém nas ruas. Se vão de encontro a um candeeiro da iluminação pública podem rir-se à vontade. E riem. Durante o dia há a piedade dos outros que os impede de rir.» (Albert Camus, Carnets I, ed. 1962)

        Apontamentos, Olhares, Recortes

        Quando a China mandar

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        Estou a ler um livro assustador, Quando a China mandar no Mundo, do jornalista e ensaísta britânico Martin Jacques, recém-editado entre nós pela Temas & Debates – Círculo de Leitores. O argumento principal de Jacques é que o domínio económico e político do planeta por parte da China é uma inevitabilidade. Mas o mais difícil de digerir não é essa ideia, à qual, aliás, muitos analistas desde há sensivelmente uma década nos têm vindo a habituar. É antes a certeza, fundada na sua experiência de reputado sinólogo, na caraterização da China, não como um Estado empenhado numa lógica de desenvolvimento de tipo capitalista, que lá por volta de 2025 terá um regime politicamente mais aberto e uma economia que superará a dos Estados Unidos da América, mas como centro de uma realidade imperial. Realidade profundamente marcada por tradições milenares únicas, de natureza centralista e autoritária, que reconfigurará ou anulará a noção, herdeira da Revolução Francesa, que deste lado do mundo, ainda que com nuances, conservamos de democracia. Num artigo saído hoje no Público, fala-se da China como um país de hoje em dia «comunista sem comunistas», mas se seguirmos a lógica deste livro percebemos que nem mesmo essa ideia um tanto arbitrária poderá explicar o regime que se prepara para dominar o mundo. Aquilo que aí vem é mais antigo, menos compreensível para a nossa lógica de base humanista, sem nada a ver com a teleologia marxista e que será inevitavelmente despótico. Vamos esperar que o autor se engane nas suas certezas, mas não será nada conveniente que esperemos sentados.

          Atualidade, Democracia, Olhares, Opinião

          Os vulgares, os cromos e os espertos

          Uma matéria destacada esta semana pelo Público e pela Visão chamou a atenção para um livrinho com o expressivo título Faz o Curso na Maior. O subtítulo, programático, merece também a atenção: Estuda o Mínimo, Goza ao Máximo: Os Conselhos de um Professor Universitário. Nuno Ferreira, 32, o autor, é-o ou foi-o, ao que declara no Instituto Politécnico de Setúbal, no Instituto Politécnico Autónomo, na Universidade Lusófona e no ISCTE, e pretende, aos olhos do público leitor e potencial comprador da «obra», fazer valer o currículo de sucesso que o levou a ascender da condição de aluno calão à de docente e, hoje, à de «especialista em banca e corporate finance numa das mais importantes consultoras estratégicas do mundo». Nuno foi, como reconhece, o protótipo do aluno preguiçoso e sem vontade de estudar, que no entanto teve a presciência de saber diferenciar muito bem três tipos de estudante, escolhendo de entre eles aquele que lhe convinha personificar: o vulgar, que pouco estuda, nunca terá grandes notas e jamais irá longe; o «cromo», o «pobre marrão», que segundo ele apenas vive para o estudo; e o esperto, aquele que, tal como ele, passou os anos do curso a faltar às aulas, a passar manhãs na cama, a ficar no bar da faculdade a jogar às cartas, a beber imperiais numa cervejaria e a ir a festas atrás de festas, organizando até algumas e ainda com tempo para praticar desporto com regularidade.

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            Ensino, Olhares

            Era uma vez (na caserna)

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            Quando cumpri os três meses de recruta do serviço militar, apesar de o fazer contrariado habituei-me rapidamente a quase tudo o que tinha a ver com a disciplina e o esforço físico. No entanto, sofria bastante com as noites de caserna. Posso descrever o cenário do horror: 200 mancebos numa espécie de hangar povoado de beliches em ferro e que produzia um eco danado, 50% a ressonar, 20% a escrever cartas às namoradas e 30% a jogar ruidosamente infinitas partidas de king ou de sueca. À luz de velas, obrigatoriamente, já que depois das 22 horas a iluminação era limitada às lâmpadas de presença. Quem, como eu, não tinha sono, não tinha luz para matar o vício da leitura e era hipersensível ao cheiro a estearina queimada, passava horas seguidas de inferno na Terra. (mais…)

              Apontamentos, Memória, Olhares

              Solidários mas felizes

              Fotografia de Fiona

              Sendo um francoatirador de esquerda, nunca deixei de me preocupar com os destinos do mundo e o combate constante e solidário por uma justiça que evito adjetivar. Foi uma vocação precoce que espero manter enquanto souber fazê-lo. Por isso sempre procurei combinar o interesse pelas coisas belas e reconfortantes do mundo – uma música exaltante, um livro que nos desafia, um poema que canta, uma mulher bonita, um rio selvagem, uma nuvem carregada que anuncia o outono – com uma noção de compromisso que, com Camus, associo sempre às escolhas que todos os dias nos vemos condenados a fazer. Nesta medida, sempre afastei, por vezes até com alguma repulsa, a proximidade dos que apenas olham uma flor, ou só se vêm ao espelho, enquanto desviam o olhar e o corpo do sofrimento dos outros, do ódio e da opressão que fazem parte da vida, tentando simular que eles não existem. Aborrece-me muito, por vezes de morte, quem fala apenas de política, mas incomoda-me quem se recusa a olhá-la. Uma e outra posição marcadas, no fundo, por uma falta de humanidade que elide a complexidade das coisas e das pessoas, reduzindo-a, obsessivamente, apenas a um dos seus lados. (mais…)

                Atualidade, Democracia, Olhares, Opinião

                Os imigrantes

                Nestes dias de trevas que atravessamos a custo, o instinto de defesa reduz inevitavelmente a nossa humanidade. Primo Levi descreveu o modo como, ao terceiro dia de presença em Auschwitz, a generalidade dos prisioneiros esquecera já a dignidade pessoal, o orgulho, os hábitos de higiene e os deveres mais elementares de solidariedade para com os semelhantes, concentrando-se apenas na brutalidade permanente da luta pela sobrevivência. Sem vivermos nesse estádio-limite, o recuo dos mecanismos de assistência pública e a instalação de um ambiente de feroz competição por um pequeno mas raro lugar ao sol, têm-nos aproximado perigosamente desse caminho. Ele é, aliás, visível até por um efeito de omissão: por estes dias, a luta pelo trabalho, a resistência à perda de direitos, a procura de vias de escape por parte da maioria da população, têm transformado centenas de milhar de imigrantes em seres invisíveis e mudos. E no entanto, ainda que mais desprotegidos, ainda que com menos vias de escape, esquecidos por quase todos, eles continuam entre nós, fazendo os trabalhos mais penosos, sendo explorados, humilhados e ofendidos como ninguém mais o é. Mas sem partidos, sindicatos, ativistas, manifestações, jornais ou televisões que lhes valham. Vivendo na sombra, em bairros periféricos, tantas vezes em casebres ou desvãos, no limite extremo do abandono e do medo.

                  Apontamentos, Democracia, Olhares

                  Luta política e teatro da rua

                  Uma nota sobre a manifestação de ontem, convocada pela CGTP três dias antes do movimento nacional «Que se Lixe a Troika! Queremos as Nossas Vidas de Volta!», de 15 de setembro, e à qual aderiram entretanto outras organizações e movimentos. Não pude de todo estar presente em Lisboa, mas apoiei a convocatória, ajudei a divulgá-la e tive muita pena de não ter podido fazer parte da multidão que encheu o Terreiro do Paço. Ainda assim, segui-a diretamente ou em diferido através das televisões, dos jornais online, dos blogues, do Facebook e do Twitter, tendo depois conversado com pessoas que estiveram presentes. Por isso, a minha leitura não deriva apenas de «ouvir falar». Se bem que, nos tempos que correm, o que se ouve e o que se à distância possa ser, muitas vezes, mais completo do que aquilo que podemos observar na escala direta e calorosa da presença física. (mais…)

                    Atualidade, Olhares, Opinião

                    Alemães, cigarros e estereótipos

                    Do conto «Só para fumadores», retirado da coletânea A Palavra do Mudo, publicada em 1965 pelo peruano Julio Ramón Ribeyro (Ed. Ahab), eis três parágrafos por onde perpassa um certo preconceito e um velho estereótipo, construídos a propósito da Alemanha e dos alemães, que as presentes circunstâncias partilhadas pelos europeus têm ajudado a recuperar.

                    Os vaivéns da vida continuaram a levar-me de país em país, mas sobretudo de marca de cigarro em marca de cigarro. Amesterdão e os Muratti com uma fina boquilha dourada; Antuérpia e os Belga de maço vermelho com um círculo amarelo; Londres, onde tentei fumar cachimbo mas depois desisti porque me pareceu demasiado complicado e porque me dei conta de que não era nem o Sherlock Holmes, nem um marinheiro, nem inglês… Finalmente Munique, onde, apesar de não ter concluído o meu doutoramento em Filologia Românica, me especializei como perito em cigarros teutónicos que, dizendo-o cruamente, me pareceram medíocres e sem estilo. Mas se menciono Munique não é pela qualidade do seu tabaco, e sim porque cometi um erro de julgamento que me deixou numa situação de carência desespe­rada, comparável aos piores momentos do meu ciclo parisiense. (mais…)

                      Ficção, Olhares, Recortes

                      O verão invencível

                      Albert Camus

                      «Au milieu de l’hiver, j’ai découvert en moi un invincible été.» «Em pleno inverno, descobri em mim um verão invencível.» Uma das frases sublinhadas de Albert Camus – retirada do ensaio Retour à Tipasa, composto em 1952 – que transporto sempre comigo num recanto seguro. Regresso a ela, como a um tónico, de cada vez que me vejo à beira da rendição. E tudo readquire um sentido pleno, luminoso, combatente.

                        Apontamentos, Olhares

                        O triunfo do oxímoro

                        Depois da «abstenção violenta», a suave ameaça de António José Seguro que permanecerá durante algum tempo na nossa memória breve, António Capucho fala-nos agora de um «lapso monumental» a propósito da extinção, anunciada pelo governo liquidatário em exercício, da Fundação Paula Rego. O nosso tempo assiste ao triunfo do oxímoro.

                          Devaneios, Etc., Olhares

                          O incrível Mitt

                          Na New Yorker desta semana, o jornalista Nicholas Lemann conta num artigo biográfico intitulado «Transaction Man» a inacreditável história do primeiro encontro de um importante mórmon de Salt Lake City, Douglas Anderson, partidário dos democratas,  com Mitt Romney, o candidato republicano às presidenciais norte-americanas. Corria o ano de 1968 e Anderson acabara de entrar na Universidade de Stanford. Romney chegara a Stanford cerca de três anos antes, depois de ter viajado por França no seu trabalho como jovem missionário mórmon. Andava Anderson a passear pelo campus quando um estudante mais velho, que ele conhecia mal, lhe dirigiu uma pergunta: «És mórmon?». Anderson respondeu que sim. «E conheces Mitt Romney?». Não, não conhecia. «Mitt Romney é a pessoa mais excecional que alguma vez conheci!». E afastou-se. Pouco tempo depois Anderson descobriu que o desconhecido era o próprio Mitt.

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                            Povo unido com voz própria

                            15 de Setembro. Fot. Daniel McKay

                            A dimensão e as características dos protestos deste 15 de Setembro terão sido uma surpresa, tanto para os governantes quanto para os partidos do chamado arco da governação. E mesmo para os próprios organizadores, que só tinham as adesões no Facebook como indicador. A surpresa começou pelo número esmagador de manifestantes que foram para a rua, em tantos e tão diversos locais, somando perto do milhão. Falamos, repare-se bem, de 10% da população em protesto contra a ingerência da troika em Portugal, contra a vertigem insana da austeridade sem horizonte assumida pelo governo, e contra a proposta injusta e desumana de uma Taxa Social Única que traduziria uma política de terra queimada. Foi esta, aliás, a gota que fez transbordar o copo. (mais…)

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                              Carta aberta ao primeiro-ministro

                              Uma carta-aberta é aquilo que sabemos. Escrita por alguém (neste caso o escritor e ensaísta Eugénio Lisboa), dirigida a outro alguém (aqui o destinatário é o infeliz que é neste momento o primeiro-ministro de Portugal) e aberta à leitura de todos porque a todos importa. Retirada do blogue Da Literatura, de Eduardo Pitta.

                              CARTA AO PRIMEIRO-MINISTRO DE PORTUGAL

                              Exmo. Senhor Primeiro Ministro

                              Hesitei muito em dirigir-lhe estas palavras, que mais não dão do que uma pálida ideia da onda de indignação que varre o país, de norte a sul, e de leste a oeste. Além do mais, não é meu costume nem vocação escrever coisas de cariz político, mais me inclinando para o pelouro cultural. Mas há momentos em que, mesmo que não vamos nós ao encontro da política, vem ela, irresistivelmente, ao nosso encontro. E, então, não há que fugir-lhe. (mais…)

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                                Obama não é Romney

                                É provável que muitas pessoas o tenham entretanto esquecido e, uma vez que a Queda do Muro aconteceu há já perto de um quarto de século, que muitas outras nunca se tivessem apercebido de tal coisa. No entanto, durante os anos da Guerra Fria, os governos dos países do «socialismo de Estado», autoproclamado «realmente existente», bem como a maioria dos «partidos irmãos» que no resto do planeta os apoiava, sempre mostraram maior empenho na vitória republicana nas eleições para a presidência dos EUA do que interesse no resultado contrário. A lógica era simples: republicanos e democratas eram uma e a mesma coisa, não passando de inimigos «da humanidade progressista e da paz dos povos», e por isso mais valia que vencessem os menos enganadores, os mais assumidamente agressivos e por isso os mais capazes de ajudar a congregar vontades para o combate anti-imperialista. Era a lógica do quanto pior, melhor: um governo americano mais inflexível no domínio interno e mais propenso a aventuras no plano mundial, seria preferível para a vitória planetária do socialismo. (mais…)

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                                  Perigo e mistério

                                  «A verdade permanece misteriosa, fugidia, jamais conquistada. A liberdade é perigosa, tão difícil de viver quanto exaltante. Temos de caminhar sempre na direção desses dois objetivos de uma forma penosa mas resoluta, seguros da presença das nossas fraquezas no curso de um tão longo caminho.» Palavras de Albert Camus no Discurso de aceitação do Prémio Nobel da Literatura, de Dezembro de 1957.

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                                    1918: o ensino técnico na Rússia

                                    Lunatcharski na abertura de uma exposição
                                    (De um documentário de Dziga Vertov)

                                    As extrapolações dos factos e das interpretações da História são quase sempre tão sedutoras quanto perigosas. Servem muitas vezes para conceder legitimidade à ordem do presente, o que raramente produz efeitos benignos. Mas podem também ampliar a experiência do contemporâneo, municiando-a com episódios, atitudes, descobertas, ideias, que do passado podem projetar um eco útil, ou ilustrativo, sobre o presente que nos cabe. Apesar de a nossa vivência ser irrevogavelmente singular, e de cada momento envolver sempre condições próprias, é sempre bom saber que raramente vivemos a completa novidade. Vem isto a propósito de uma descoberta (uma entre muitas outras) produzida durante a leitura de A Peoples’s Tragedy. The Russian Revolution. 1891-1924, um estudo épico, editado em 1997, que foi um dos primeiros do grande e polémico historiador britânico Orlando Figes. (mais…)

                                      Apontamentos, História, Olhares