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Lisboa com bandeira azul

Bandeira Azul

Uma mancheia de varonis mancebos «ligados ao blogue 31 da Armada», imbuídos de um compreensível e ilimitado bem-querer pela santa monarquia – pois tal coragem, por certo apenas a varonis mancebos é pela Padroeira outorgada –, trepou heroicamente até à varanda do Paços do Concelho de Lisboa e, com lídimo pundonor, hasteou no mastro da mesma um rectângulo de pano azul e branco. De acordo com os amigos dos jovens trigésimo-primeiristas (mas o que são «pessoas ligadas ao blogue 31 da Armada»? será o 31 da Armada uma ONG? uma seita? um bando? uma comandita?), o feito foi obtido apesar do pesado rumor das botifarras e das armas aperradas alardeado por essa «forte vigilância policial» que, como todos sabemos, percorre «a noite profunda» das nossas vilas e cidades para aterrorizar as famílias no seu honrado descanso. E para impedir que desde o mais insigne dos palácios ao humilde tugúrio do trabalhador estas afixem nos limiares das portas, tal como intimamente desejam, lindos azulejos com o brando semblante do Senhor Dom Duarte. Tais beneméritos da Pátria, a quem faltou apenas aquela Dona Aldegundes que não falhou a Paiva Couceiro – «é avante portugueses/é avante não temer», cantarão entrementes –, apenas podem ter a nossa compreensão. Sempre agitam mais este querido e tonto mês de Agosto que os blogues regimentais. Deus os guarde assim.

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    Mas não se está mesmo a ver?

    It's a mad, mad, mad, mad world

    Estava à espera disto, embora tenha demorado tempo de mais a acontecer: já circulam pela rede mensagens anunciando que Michael Jackson afinal não morreu. Terá sido tudo uma encenação por causa das dívidas, presumindo-se que a esta hora pratique moonwalk numa ilha ignota do Pacífico. Corre também, retomando com toda a força uma teoria da conspiração já com alguns anos, que os americanos afinal não foram à Lua. Apenas encenaram em Hollywood a operação de alunagem para fazerem batota no jogo da Guerra Fria. Podemos pois dar asas à imaginação e inventar a certeza que quisermos, seguros de encontrar sempre partidários intransigentes e capazes de se esforçarem pela causa. A mim, por exemplo, ninguém tira da cabeça que o PS perdeu as eleições europeias de propósito, só para que a sua direcção pudesse aparecer como injustiçada e impoluta salvadora da Pátria, composta por gente compassiva e confiável, de uma «esquerda moderna» merecedora de segunda oportunidade. Quem me acompanha na crença?

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      Para não se dizer que não falei do H1N1

      Obama_H1N1

      Tenho dificuldade em fazer previsões sobre as consequências do surto pandémico de gripe A que se prevê irrompa em Portugal logo que o tempo comece a arrefecer e as andorinhas que restarem partam de novo para África. Por simples ignorância. Os especialistas dizem que no «pior dos piores» cenários morrerão 8700 pessoas em Portugal, mas logo acrescentam que o cenário «deve ser encarado sem dramatismos». Afinal, parece que a gripe comum todos os anos mata quase duas mil almas, e ninguém, salvo alguns hipocondríacos, vive atormentado com isso. Limito-me pois a olhar para as previsões e a tomar o sumo de laranja que recomendava a minha avó, com a vaga sensação de que, fazendo parte de um grupo de risco, deverei ter particular cuidado em evitar correntes de ar e frio no pescoço.

      Existe, no entanto, um lado do problema que é preocupante. A comunicação social agarra como sempre o filão da desgraça e todos os dias efabula cenários apocalípticos de devastação e crise: ruas desertas, fábricas paradas, escolas sem aulas, comércio fechado, estádios vazios, as traineiras em terra e os aviões também. Nas ruas, os escassos transeuntes circularão de máscara e luvas, e o paracetamol valerá mais que petróleo. Os cidadãos passarão em casa o seu tempo de quarentena, partilhando boatos por e-mail, dormindo em camas separadas, trocando os beijos por adeuzinhos, recusando até participar no funeral dos parentes mais chegados. Os cenários propostos têm a ilimitada imaginação por limite. E fazem-no com uma tal intensidade, de maneira tão pessimista e repetitiva, que, chegada a hora, quando alguns cuidados forem necessários, já poucas pessoas darão grande valor às notícias e toda a gente circulará pelas ruas de manga curta e cabeça ao sol, tossindo para cima dos outros. A vaga de alarmismo por antecipação que estamos a viver pode dar maus resultados.

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        Orgulho sem preconceito

        A ministra da Educação diz que o país deve encher-se de orgulho com os resultados dos exames de Português e de Matemática do 9º ano de escolaridade. Justamente aqueles que muitíssimos alunos, numerosos professores e outros cidadãos atentos consideraram excessivamente fáceis. Convém pois moderar o enchimento, de modo a evitar que alguma coisa rebente.

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          Peregrinação

          Não queria acreditar nas informações que me tinham chegado, pensei que fosse uma brincadeira de gosto sofrível, mas acabo de confirmar em directo através da Rádio Marca: os embaixadores de Portugal e do Vaticano estão ambos no estádio madrileno de Santiago Bernabéu, o primeiro de impecável gravata azul e o segundo de alvíssimo cabeção, para receberem Cristiano Ronaldo. São insondáveis os destinos da Pátria e os caminhos do Senhor.

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            Prazeres de Pyongyang

            Mesmo sem a companhia de tremoços, amendoins ou berbigão, a levemente espumosa Taedonggang faz as delícias de Pyongyang. O povo – aparentemente apenas homens, as mulheres apenas servem ou registam – nem se importa de se sentar simetricamente e de fato completo, numa espécie de enfermaria de centro de saúde onde é proibido afixar cartazes, para fruir a diurética cervejola. Kim Jong-Il aprova.

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              Avante!

              Seguindo o rastro deixado num post de Daniel Oliveira e noutro de José Simões, lá fui em romaria ao tal artigo do «Avante!» que dá a volta ao mundo para tentar não falar do Irão.

              Adenda: No Público de hoje, António Vilarigues escreve sobre irregularidades eleitorais em Portugal. Após adiantar alguns dados, conclui: «curiosamente, sobre estes acontecimentos nada li, nada ouvi, nada vi na comunicação social.» Um texto «oportuno», sem dúvida. Para bom entendedor…

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                Visionários

                Passei hoje por um enorme outdoor da Juventude Socialista no qual ainda não tinha reparado. Nele surgiam destacadas três frases de campanha, mas como ia a conduzir apenas tive tempo de ler a última. Esta conclamava as multidões de jovens a lutarem decididamente «pelo direito ao TGV».  Uma meta política exaltante, acredito. Provavelmente, eu, adepto contumaz da velha Wells Fargo, é que não estarei a captar o alcance visionário da proposta, a centelha de rasgo que a gerou e transformou em bandeira.

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                  Muito campeonato pela frente

                  PSD ganhou as eleições europeias em Portugal. O Bloco de Esquerda ganhou mais espaço e atingiu o seu Evereste. O PCP «subiu 20 por cento» e diz que ficar atrás do BE «não é uma derrota». O CDS esmagou completamente as empresas de sondagens. O Movimento Esperança Portugal afirma ser já «um estádio da Luz cheio de gente». O MRPP conseguiu o seu «objectivo primordial» que era «subir em percentagem». Mesmo a votação do Partido Socialista foi apenas e só «decepcionante». Pelo que percebi, o único vencido por estes dias foi o Paulo Pereira Cristóvão. Nas eleições do Sporting.

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                    Eleições no eucaliptal

                    No eucaliptal

                    Sou um dos muitos cidadãos, provavelmente alguns milhares, que por ter obtido recentemente o Cartão do Cidadão viu o seu habitual local de voto alterado. Hoje, dentro da cidade de Coimbra e seu termo, só à quarta vez e no quarto sítio consegui meter a cartolina no pote. Andei quase 50 quilómetros dentro da cidade, perdi-me duas vezes, fiz inversão de marcha em becos, conduzi em sentido proibido, apanhei uma chuvada, falei com um polícia, um enfermeiro e um cidadão com aspecto (e comportamento) de demente que foi o único a orientar-me em condições. A nova mesa de voto, descobri ao fim de horas, fica no meio de nada, num pavilhão pré-fabricado e entre eucaliptos e urzes, já quase fora da cidade. Isto quando aquela até agora habitual está a 100 metros de minha casa. Suspeito que também por aqui a abstenção marcará pontos. Uma pessoa que eu cá sei fica a dever-me esta.

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                      Reflexão dedicada

                      Tinha na caixa do correio um folheto destinado a combater a abstenção, a convencer o cidadão a ir amanhã depor o seu voto europeu. Continha a convicção e a fotografia de portugueses normais, de nome José, Silva ou Nogueira, bem como as de um Adelino e de uma Maria Celeste. Todos morenos, com a tez a brilhar da sudação, um deles de blazer azul-petróleo e bigode (não, não era a Dona Celeste). A publicidade normal, todavia, apresenta-nos invariavelmente cidadãos louros, com a pele cuidada e semblante de quem jamais provou uma sardinha assada ou bebeu um copo de três. Pessoas apessoadas, chamadas Marta, Rute, Rita ou Salvador, de dentes alvos e alinhados, roupa casual em tons claros e aquele aspecto saudável de quem acaba de sair de uma revigorante tarde de spa. Como o público-alvo será sensivelmente o mesmo, suponho que a dissemelhança figurativa resida no diferente gosto de quem encomenda os rostos. Um bom motivo de reflexão, nesta tarde em que, por lei, todos somos coagidos a praticá-la.

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                        Andam aí, os espanhóis

                        Spain

                        Um momento de distracção, um baixar da guarda, e caímos em mais  um nó de publicidade intrusiva via SMS. Visitante ocasional das bombas da CEPSA, preenchi um «cartão de cliente» e comecei de imediato a receber propostas e lembretes. Não esperava é que estes me chegassem num espanholês críptico e futebolino.

                        «Sou um “partidaço”! Sou desconto en combustível. Tire o maximo partido de mim. Va hoje ao seu Posto de Abastecimento. Sou seu Cartao Porque Eu Volto.»

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                          Let’s twit again

                          Conversa

                          Sabendo das andanças no Twitter de pessoas tão notáveis, diversas e hiperocupadas quanto o são Hu Jintao, Britney Spears, Barack Obama, Bento XVI, Bruno Aleixo e Vital Moreira, aguardo a primeira obra de ficção que tenha no centro da respectiva trama a vida laboriosa e trepidante, quiçá mal paga e a recibo verde, de um ghost-twitter.

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                            Eu, amigo de mim mesmo

                            O sonâmbulo

                            Recebi um aviso do Facebook no qual se podia ler o seguinte:

                            Rui Bebiano added you as a friend on Facebook…
                            Rui added you as a friend on Facebook. We need to confirm that you know Rui in order for you to be friends on Facebook.
                            To confirm this friend request, follow the link below:
                            […]

                            Devo esclarecer que, por muito amigo que seja de mim mesmo – e sou-o, admito – não fui eu quem mandou este pedido de amizade a mim próprio. Embora por breves momentos tenha colocado a possibilidade de o ter feito em estado de sonambulismo. Diversas pessoas, algumas das quais minhas conhecidas, receberam idêntico convite, pelo que, como o fez certo dia o famoso Inspector Artur Varatojo, venho comunicar por este meio, a quem tal possa interessar, que no caso em apreço não sou bem aquele que vos dizem que sou. Esse é outro, ele próprio. Esse, não este. Se é que me faço entender.

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                              Estatuária

                              Cristo-Rei

                              Soube que a imagem de Nossa Senhora de Fátima foi ontem até aos arredores da Aldeia Galega visitar a do Cristo-Rei. Há que reconhecer: a estatuária portuguesa vive um momento de dinamismo fora do comum.

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