Arquivo de Categorias: Democracia

Pólvora seca

20121003-111107.jpg

Afinal para que serviu o PCP e o BE combinarem a divulgação simultânea (ressalvando aquele pequeno delay da responsabilidade do fuso açoreano) da apresentação de duas moções de censura ao governo depois de ter corrido, ao som de bandolins, bombos e castanholas tocados por tantas pessoas à procura de uma esperança, um certo júbilo por uma eventual «unidade da esquerda»? E para que serviu acompanhar as mesmas, neste momento, de ataques violentos e cerrados a um PS por tal via supostamente «encostado às cordas»? Neste cenário, a abstenção deste partido, agora proposta pelo seu irresoluto secretário-geral, seria e será inevitável. Mas como poderia deixar de o ser? No entanto, o inevitável não seria evitável com a apresentação de uma moção única que servisse mais para unir a oposição ao governo do que para demarcar fronteiras? E se a sua divulgação pública tivesse avançado num gesto de firmeza e de unidade, mas também de abertura e de humildade democrática? Vivemos um tempo muito mau, muito mau mesmo, para desperdiçar pólvora com tiros nos próprios pés.

    Apontamentos, Democracia, Opinião

    Hoje, 29 de Setembro

    É preciso pôr de lado a indiferença. E é muito importante que a manifestação seja unitária, grande, poderosa. Mas que nela os cartazes monotonamente estandardizados e as palavras de ordem pré-estabelecidas e previsíveis não perturbem a espontaneidade e a diversidade do protesto. Foi esse o factor central, decisivo, para o êxito do inesquecível 15 de Setembro.

      Atualidade, Democracia

      Apartidários e antipartidários

      Coimbra, 15 de Setembro

      Não representa uma vantagem, mas sim um problema e um péssimo sintoma. Pode também ser um ponto de viragem para indispensáveis mudanças de atitude. Torna-se evidente que uma boa parte da dimensão e do êxito das manifestações anti-troika e anti-governo de 15 de Setembro se ficou a dever – para além, claro, da revolta genuína, profunda, dos cidadãos espoliados e ofendidos – ao seu caráter apartidário. A necessidade e a unidade na ação produziram então o necessário para que as bocas se abrissem: uma conjugação de vontades, fundadas em alguns objetivos elementares e comuns, que não se acharam submetidas a figuras tutelares, a discursos estereotipados, a «serviços de ordem» ou a previsíveis aproveitamentos. Essa foi a vantagem.

      Já o problema começa quando o caráter apartidário degenera em sentimento antipartidário, e nada garante que a linha separadora das duas dimensões não tenha sido já transposta. Tanto no que diz respeito aos partidos do governo, quanto no que concerne àqueles que formalmente se lhe opõem. Chegamos então à perceção de que este pode ser o perigoso sintoma de uma certa rejeição da democracia representativa de base partidária tal como esta se encontra desenhada na Constituição, o que pode antecipar uma arriscada vertigem de caráter messiânico ou autoritário. Aguarda-se por isso que aquilo que aconteceu suscite, quanto mais não seja por efeito do instinto de sobrevivência, uma reflexão dentro dos próprios partidos. E que preludie uma reconfiguração do nosso mapa político e partidário, com a emergência de novas formas de organização, de ação, de discurso e de representação política. A esperança que nos alimenta reclama esta possibilidade.

      Fotografia retirada do blogue Denuncia Coimbrã.

        Atualidade, Democracia, Opinião

        Que cesse o medo, que sopre o vento

        Não me parece plausível, surgindo mais como uma manobra de diversão para atemorizar algumas pessoas e diminuir o impacto do movimento de protesto, que possam ocorrer atos de violência nas dezenas de manifestações «Que se lixe a Troika! Queremos as nossas vidas!» previstas para este sábado, 15, em todo o país. Mas já pode ser preocupante que possam acontecer, ainda que esporadicamente, atitudes de sectarismo contra pessoas conotadas com posições políticas mais próximas do «arco do poder» que resolvam estar presentes. É absolutamente crucial para o êxito destes protestos e a sua transformação em instrumento de uma dinâmica de mudança política alargada à maioria dos portugueses, que todos percebamos não se tratar de uma caminhada para a «revolução dos oprimidos», mas sim de um passo, apenas um passo embora importante, no sentido da construção da unidade e da alternativa, ao pesadelo de governo e de futuro que nos estão a tentar impor. Por uma vida digna. Neste momento, preciso, imperioso e urgente é unir forças e gritar a uma voz em nome do que é mais importante.

          Atualidade, Democracia

          Uns mandam, outros trabalham

          International Workers Day,
          por Thorbjørn Chiloux Fessel

          O objetivo do Ministério da Educação de, já no ano letivo de 2013/2014, introduzir na organização do sistema de ensino alterações tendentes a fazer com que os «estudantes com notas fracas» sejam forçados à aprendizagem de ofícios «como eletricista, talhante, agricultor ou canalizador», é um golpe brutal nos princípios da escola democrática. Princípios que, no essencial, presidiram após o 25 de Abril à organização do ensino obrigatório e tendencialmente universal. Este objetivo do governo revanchista de Coelho e Portas foi hoje mesmo criticado, com agudeza e detalhe, em dois artigos que recomendo vivamente: «O erro Crato», de André Macedo, e «Cada criança no seu galho», de José Soeiro. Não duplico os dados e a reflexão que estes apresentam, uma vez que os reproduzo no final deste post,  mas chamo a atenção para dois aspetos específicos e uma circunstância particular que não têm sido suficientemente vincados na sua dimensão social e na sua completa perversidade. (mais…)

            Atualidade, Democracia, Opinião

            Iconoclastia!

            «O Exército Vermelho apoia as Pussy Riot»

            A fotografia que acompanha este post foi tirada em Sófia e documenta uma intervenção estética integrada no movimento global de solidariedade que após a sua prisão, há já cinco meses, tem apoiado as três Pussy Riot e divulgado a intervenção que protagonizam. A introdução da balaclava – o acessório inventado durante a Guerra da Crimeia por umas caridosas senhoras britânicas que é o sinal visual da banda punk moscovita – sobre as cabeças de algumas das figuras de um grupo de soldados do Exército Vermelho representados na estrutura erguida durante o pesadelo do realismo socialista numa praça central da capital búlgara, acentua a dimensão iconoclasta do seu ativismo. E sublinha agora a importância da sua luta pela liberdade. (mais…)

              Atualidade, Democracia, Opinião

              As noites da emancipação

              Num dado momento do seu trajeto filosófico, Jacques Rancière (n. 1940) passou a dedicar-se aos discursos dos excluídos, daqueles que num dado momento da História se viram confinados ao silêncio, empurrados para as margens pelas vozes hegemónicas: os proletários, os pobres, as mulheres, as minorias. Este A Noite dos Proletários, originalmente publicado em 1981, integra-se nesse esforço, procurando encontrar no discurso «desclassificado» de um conjunto de operários franceses saint-simonianos, «letrados» autodidatas da primeira metade do século XIX, um olhar diferente do habitual a propósito de conceitos – como exploração, domínio, trabalho, fadiga, economia, libertação, associação ou saber – associados à afirmação, então em pleno curso, do capitalismo triunfante e da nova identidade do universo do trabalho. (mais…)

                Democracia, História

                O louco da aldeia

                Solidão

                Discriminado pelo comportamento ou pela fala, em cada pequena comunidade é o «louco» quem anuncia as verdades que muitos reconhecem mas ninguém verbaliza fora do domínio do privado. Na aldeia, na pequena vila, na cidade provinciana, é fácil identificá-lo pela presença diária, pela estranheza do comportamento, pelo estatuto de marginalidade. Ele pode ser o doido, o beberrão, o velho que perdeu o tino, o pobre de pedir, o vagabundo, o sem-abrigo, a prostituta entrada na idade. No limite, pode também ser o poeta, o artista, ou aquele que aspira a sê-lo, principalmente se não detiver algum reconhecimento público. Se o tiver, caso raro, ganha então o estatuto de excêntrico, sinalizando uma promoção social.

                Esses «loucos» eram particularmente visíveis em sociedades nas quais o Estado-Providência faltava ou falhava: em Portugal, antes da Revolução de Abril, quando os mecanismos de apoio social eram escassos ou nulos, era vê-los de manhã, esperando em grupo que as tascas abrissem, pedindo esmola nos adros das igrejas, deambulando pelas ruas para servirem de divertimento dos que se julgavam integrados e sãos de espírito. O jornal da terra erguia-os como figura local «típica», supostamente única, como vulto curioso, um pouco cómico e extravagante, a quem se deveriam dar uns trocos para que pudessem continuar a viver e deixassem os outros em paz. E quando enfim morriam, tinham reservado um parágrafo de obituário, que assinalava para memória futura, num último assomo de indignidade, o trilho de uma vida de desterro, desconsolo e abandono.

                  Apontamentos, Democracia, Olhares

                  Ai Angola!

                  Reprodução de um documento, disseminado através do Facebook, que justifica o maior eco possível. Testemunho tristemente exemplar do comportamento arbitrário do regime de Luanda. E afronta às longas décadas de luta de tantos angolanos pela democracia e pela independência do seu grande país.

                    Apontamentos, Democracia, Olhares

                    Democracia e alternativas

                    Os objetivos mais essenciais do documento que abaixo se transcreve e que apoio unem-se à proposta de realização de um Congresso Democrático das Alternativas. A ideia é unir para construir e propor – contra a austeridade pela austeridade, o saque sem precedentes ao Estado Social e a criminalização do trabalho e dos trabalhadores – uma alternativa real de governo. Não se pretende dar lições do quer que seja, mas debater processos de colaboração e de mobilização para a construção de um outro destino que não aquele que a troika nos determina como inevitável. Infelizmente, e para já, o PS e o PCP apenas estão representados por setores minoritários, distantes das atuais direções partidárias. A esperança é, no entanto, que este impulso ajude a superar a tentação de apenas participar no que é possível controlar, promovendo uma aproximação programática que configure uma verdadeira alternativa. Tentar não custa. O resto está por fazer..

                    Resgatar Portugal para um futuro decente

                    «Só vamos sair da crise empobrecendo”. Este é o programa de quem governa Portugal. Sem que a saída da crise se vislumbre, é já evidente o rasto de empobrecimento que as políticas de austeridade, em nome do cumprimento do acordo com a troika e do serviço da dívida, estão a deixar à sua passagem. Franceses e gregos expressaram, através do voto democrático, o seu repúdio por este caminho e a necessidade de outras políticas. Em Portugal, o discurso da desistência e das “inevitabilidades” continua a impor-se contra a busca responsável de alternativas.

                    Portugal continua amarrado a um memorando de entendimento que não é do seu interesse. Que nos rouba a dignidade, a democracia e a capacidade de coletivamente decidirmos o nosso futuro. O Estado e o trabalho estão reféns dos que, enfraquecendo-os, ampliam o seu domínio sobre a vida de todos nós. Estamos a assistir ao mais poderoso processo de transferência de recursos e de poderes para os grandes interesses económico-financeiros registado nas últimas décadas. (mais…)

                      Atualidade, Democracia, Opinião

                      Uma manhã na Síria

                      [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=9hVceFcBh8Y[/youtube]

                      Curta-metragem do jovem realizador sírio Bassel Al Shahade, assassinado em Homs pelas tropas de al-Assad. Num dos massacres que alguns dos habitués da distorção da História dizem não ter acontecido. E que os adversários do não-intervencionismo a qualquer preço fazem por ignorar. Enquanto permaneceu vivo, Bassel foi aliás uma das testemunhas do que estava (e continua neste preciso momento) a acontecer. De notar que poderia ter permanecido a salvo, por se encontrar a estudar nos EUA com uma bolsa Fulbright, tendo decidido regressar ao seu país para cobrir os acontecimentos. Mais informação aqui.

                        Apontamentos, Atualidade, Democracia

                        Panóptico

                        Um paradoxo desdobra-se à nossa frente. De um lado, o progresso muito rápido das técnicas de vigilância que o digital possibilita faz do Estado um Big Brother real. Do outro, o progresso não menos rápido das técnicas de comunicação produz um certo ambiente de transparência. De um lado, as câmaras de vídeo, os instrumentos de geolocalização, as pegadas digitais, genéticas e oculares, os ficheiros bancários, os dossiês médicos, o histórico das nossas chamadas telefónicas, as mensagens na Internet e o rasto das nossas peregrinações pela rede, compõem uma panóplia de instrumentos que permitem às autoridades o estabelecimento de um cerco quase completo da vida pessoal ou mesmo íntima. Do outro, através do Google, do Facebook, do Twitter, entregamo-nos com entusiasmo e sem pudor ao olhar dos outros, confiantes ou não, sem motivo especial ou ávidos de informação.

                        As duas dinâmicas poderosas apontam na mesma direção: a construção de uma sociedade da transparência na qual deixámos de saber com precisão onde se situa o limite entre a vida privada e a vida, senão pública, pelo menos disponível aos olhares dos outros. Duvidamos a todo o momento se se trata de uma coisa boa ou maléfica, mas sabemos que em qualquer dos casos está a ocorrer uma transformação enorme. Provavelmente uma mudança de paradigma civilizacional. Assistimos assim à materialização, diante de todos, de três fantasmas projetados respetivamente por Orwell, Kafka e Huxley: a vigilância de todos por um Estado potencialmente omnisciente, a submissão de cada a uma espécie de Olho soberano, do qual não sabemos aquilo que ele sabe de nós, e a alegria, a felicidade, de contribuirmos por iniciativa própria para um avanço até ao que imaginamos, otimistas, como o melhor dos mundos. (mais…)

                          Democracia, Olhares, Opinião

                          Mulheres com M

                          Tem sido boa a repercussão pública do ensaio Humilhação e Glória, de Helena Vasconcelos. Sendo inteiramente merecido, esse eco deve, no entanto, ser confrontado com algumas dúvidas que a leitura da obra levanta. É desde logo evidente a intenção da autora de conceber o livro como uma introdução à história das mulheres, concebida de forma atraente e vocacionada principalmente para o leitor comum. Ele vem preencher, aliás, na linha do que fez em Espanha Rosa Montero com o seu Histórias de Mulheres, uma lacuna na edição nacional. Ao mesmo tempo, a autora propõe um importante trabalho de resgate efetuado sobre os feitos e os trajetos públicos de um conjunto de mulheres, principalmente portuguesas, com papéis na literatura, nas artes, nas ciências ou na intervenção cívica que têm permanecido injustamente esquecidos ou na sombra. Se a Marquesa de Alorna é, pelo menos nos meios académicos, razoavelmente conhecida, poucos terão ouvido falar, por exemplo, de Teresa Margarida da Silva Orta, apesar de esta ter sido a primeira portuguesa a escrever um romance (As Aventuras de Diófenes, de 1752). Atravessa também o livro uma brisa de otimismo que contribui, sem dúvida, para ampliar o seu papel de instrumento destinado a sublinhar a importância de um trajeto histórico de combate pela emancipação e de afirmação positiva da voz das mulheres.

                          Uma leitura crítica levanta, porém, algumas perplexidades. Anoto três. Em primeiro lugar, a consideração de eventos e práticas originários de distintos tempos e lugares como se inscritos num percurso único, visando uma espécie destino trans-histórico comum. Em segundo lugar, a falta das propostas, dos problemas e dos combates que se levantaram, a partir da década de 1980, no contexto do chamado feminismo de terceira vaga, ficando as alusões canónicas pelas pelas autoras de segunda vaga (Simone de Beauvoir, Elaine Showalter, Betty Friedman e outras). E em terceiro o tom quase celebratório, em relação à situação atual de uma «tendência para a igualdade» que estudos no campo da sociologia e da ciência política têm vindo a desmontar, revelando, ao invés, que este padrão de discurso pode validar subordinações reais, aparentemente invisíveis. Pode ainda, entretanto, levantar-se uma última objeção que parecendo apenas formal, de facto o não é. A designação de um enquadramento do ensaio, enquanto género, no campo dos estudos «femininos» – e não «sobre as mulheres», ou «feministas», como são catalogados dentro de um universo hoje já bastante alargado, inclusivamente em Portugal, que se dedica ao seu estudo nos domínios da investigação de ponta e do debate teórico – advém de uma escolha da autora que sendo inteiramente legítima, respeitável, pode também ser questionada por dar a impressão de advir de uma noção essencialista sobre o «belo sexo» derivada de um modelo cultural dominantemente masculino. Um livro bastante útil e recomendável que convirá ler com alguma vigilância crítica.

                          Helena Vasconcelos, Humilhação e Glória. O acidentado percurso de algumas mulheres singulares. Quetzal. 328 págs.Versão revista de nota saída na LER de Abril.

                            Apontamentos, Democracia, Olhares

                            Nem só de pão

                            20120502-121030.jpg

                            A propósito das cenas violentas e completamente degradantes provocadas pela campanha de descontos do Pingo Doce, não parece justo culpar apenas a atitude canalha da empresa de Jerónimo Martins, ao servir-se do feriado do Primeiro de Maio para desencadear a sua campanha de publicidade agressiva, manipulando as carências das pessoas e provocando os seus próprios trabalhadores. Como não será correto culpar os largos milhares de famílias que para sobreviverem à crise foram até à selva das prateleiras lutar corpo a corpo por escassas centenas de euros. Para sermos justos, e entendermos o que aconteceu de um modo mais completo, precisamos olhar também para a atitude continuada dos partidos políticos e de muitas organizações sindicais que têm desenvolvido a sua ação exclusivamente centradas numa política de interesses, na gestão economicista do deve e do haver de todos e de cada um. Fazendo-o sem atenderem à defesa da consciência cívica como princípio de solidariedade, da honra individual como eixo da vida coletiva, da (voltemos sem medo à palavra) ideologia como instrumento de mobilização e de mudança. Marx dizia que a consciência política do operário – alarguemos: do trabalhador, do cidadão – não se mede apenas pelo tamanho do porta-moedas. Talvez o que aconteceu se deva, em boa parte, ao esquecimento de que nem só de pão vivemos.

                              Apontamentos, Atualidade, Democracia, Opinião

                              Contra as praxes vexatórias

                              Eis o abaixo-assinado proposto por 15 professores da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e destinado a sugerir medidas para que as «praxes académicas» deixem de se apresentar como «atos de humilhação, de atemorização e de atentado à dignidade». Pretende-se sobretudo divulgar junto dos novos estudantes o seu caráter estritamente voluntário e a impossibilidade legal de se fundarem em práticas vexatórias, o que grande parte dos visados desconhece. Independentemente da opinião pessoal de cada signatário, necessariamente variada, no conjunto, e ao contrário daquilo que alguns meios de comunicação afirmaram, o documento não se destina a «acabar com a praxe», mas antes a impedir os efeitos perigosos ou nefastos que em seu nome têm vindo a ocorrer. Entretanto o texto já recolheu largas dezenas de assinaturas de outros professores da FLUC, estando a circular por mais faculdades. Dentro de dias mais informações serão divulgadas.

                              (mais…)

                                Atualidade, Coimbra, Democracia, Novidades

                                Um discurso para a esquerda

                                [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=84T-XLN_RPE[/youtube]

                                A campanha de Jean-Luc Mélenchon, o candidato da Frente de Esquerda às presidenciais francesas de 2012, tem passado estranhamente discreta pelos média portugueses, mais interessados no confronto entre Sarkozy e Hollande, e lateralmente nas frases da menina Le Pen contra os emigrantes. No entanto a campanha de Mélenchon vai já nos 15% das intenções de voto, e em subida, justificando maior atenção. Admirador do socialismo e do pacifismo à Jean Jaurès, o candidato da FE (agrupando a Esquerda Unida, o Partido da Esquerda, o PCF e muitos independentes) recupera uma retórica socialista e internacionalista que vem das profundezas do século XIX. Daquela esquerda insurrecta que ainda não fora entorpecida pelo processo, crescentemente desligado de uma ideia de humano e das expectativas mais profundas dos cidadãos, com que o jargão do marxismo-leninismo, das ciências sociais e da teoria económica a foram cercando ao longo do século seguinte.

                                Com toda a certeza, daí provém, como provém também, sem dúvida, da rara, mobilizadora e veemente capacidade do candidato como tribuno, o entusiasmo e a multiplicação dos apoios por parte de quem encontra na sua oratória uma forte mensagem de esperança. Vale a pena, para quem entenda o francês, seguir o discurso notável, pronunciado no passado 18 de março em Paris, na Praça da Bastilha, que aqui se reproduz. Perceberá melhor como pode aquilo que os historiadores reconhecem como velho reemergir, de um modo fulminante, como novo e mobilizador. Acontece que afinal a «primavera dos povos» permanece por cumprir. E aquele «tempo das cerejas e dos dias felizes» que desejavam os communards está por conquistar. E o povo sente isso.

                                  Atualidade, Democracia, Olhares, Opinião