O PS e os cidadãos «moderados»
Em regra, quem decide as eleições nas democracias representativas europeias são os cidadãos «moderados». Aqueles eleitores que habitualmente se eximem de ter opinião, que não se batem por causas, e que pretendem, acima de qualquer outra coisa, obter o que julgam menos mau para o seu sossego e bem-estar. Desejam sempre uma solução que seja a menos inquietante, traduzida numa forma muito simples de delegação da soberania. E por muito que tal não seja simpático a quem tenha da experiência da cidadania uma noção mais empenhada, temos de admitir que quando assim não acontece tal significa que se vive numa sociedade com elevado potencial de conflito e de violência. Compreende-se deste modo que qualquer partido com a ambição de ser governo precise de ter em linha de conta esse universo, concebendo as suas propostas e a sua imagem pública em função das expectativas que ele contém.
Em Portugal, têm sido o PS e o PSD os partidos que disputam este setor, concebendo estratégias de sedução que o atraiam para o seu campo. Se, por um lado, do ponto de vista da estrita contabilidade eleitoral se compreende esta atitude, pois se a abandonassem de todo perderiam as eleições, por outro é ela a principal responsável pela criação de uma nebulosa política que tende a diluir a identidade desses partidos e a empurrá-los para um «pacto de interesses» que na verdade os aproxima frequentes vezes. É esta a origem da estabilidade do «arco da governação» que tem dominado Portugal nos últimos quarenta anos. Naturalmente, não se antevê que qualquer destes partidos seja suicidário ao ponto de pôr em causa este equilíbrio. (mais…)