Arquivo de Categorias: Opinião

Não há mortos de segunda

Não é de mais insistir num preceito fundamental: como acontece com a tortura, toda a morte infligida é inaceitável. E não importa se esta é determinada pela ideologia, pela religião ou pelo desejo incontido de cumprir uma vingança. Talvez no teatro de guerra – quando a escolha definitiva é entre matar e morrer – ela possa entender-se, ou mesmo aceitar-se. Mas jamais pode ser olhada como uma inevitabilidade ou como uma necessidade. Por isso é ainda mais incompreensível a atitude hipócrita daqueles que, nos dramáticos conflitos internacionais que estão a marcar este verão, lamentam certas mortes, se indignam com elas, mas tratam de silenciar ou de «compreender» outras não menos terríveis e insustentáveis.

Isto tanto pode aplicar-se aos mortos provocados em Gaza pelos bombardeamentos de Israel quanto àqueles que o autoproclamado Estado Islâmico está a acumular no Iraque e na Síria. Trata-se de uma enorme prova de incongruência moral, e até de cobardia, invocar uns e silenciar os restantes. Na realidade, quem o faz pouco valor dá de facto ao sofrimento dos outros, preocupando-se muito mais com as subtilezas da geoestratégia, a linha política partidária ou a «justeza» do lado em que se situa quem morre e quem mata. Aqui a barbárie não está apenas nas mãos de quem degola ou bombardeia, mas também nas de quem justifica os algozes ou aceita o horror, selecionando quem deve ser defendido e quem deve ser entregue às suas circunstâncias e deixado ao abandono. Confio tão pouco nuns quanto nos outros. Mas aos últimos jamais darei o direito de me representarem.

Crónica publicada no Diário As Beiras

    Apontamentos, Atualidade, Opinião

    A banalização do fascismo

    Auschwitz. Por Alex Ayann
    Auschwitz. Por Alex Ayann

    Quando oiço dizer que vivemos, em Portugal e nesta complicada Europa que nos cabe, «pior que no tempo do fascismo», ocorrem-me três argumentos contra uma afirmação tão imperfeita e perigosa. Em primeiro lugar, ninguém que tenha vivido ou conheça de forma cabal o tempo e a experiência dos fascismos que envenenaram o século passado, fazendo dos Estados aparelhos de coação e não de garantia dos direitos fundamentais, é capaz de proferir em consciência uma afirmação dessa natureza. Em segundo lugar, estabelecer uma comparação que incide de forma particularmente negativa sobre o presente é prova de um claro desconhecimento da História, pois nenhum dos conflitos e formas de opressão pelos quais passamos hoje, sobretudo no mundo industrializado e nas suas contíguas periferias, se compara, em escala e na brutalidade, com aqueles que cruzaram as décadas em que os fascismos se impuseram. Em terceiro lugar, quem o diz vive provavelmente no terreno nebuloso de um wishful thinking feito de enormes simplificações, com recurso às quais pensa agudizar contradições e desta forma prover as «condições objetivas» para impor mudanças julgadas redentoras, necessariamente ilusórias. No fundo, quem de tudo isto beneficia são de facto os novos fascismos, agora mais insidiosos e apurados nos seus métodos, que pelo efeito de banalização que uma tal afirmação provoca vão podendo desbravar caminho. Desta maneira, em vez de se baterem pela defesa dos direitos alcançados em décadas de lutas pela democracia e pelo bem-estar, muitos cidadãos desenvolvem uma consciência política feita essencialmente de ressentimento, que acaba por isolá-los, desmobilizando-os de facto e colocando-os à mercê dos algozes. À noite, nas suas casas, adormecem narcotizados, tentando esquecer um mundo que os atemoriza e não compreendem.

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      Verão conturbado para o PS

      Não sou militante, simpatizante ou sequer eleitor do Partido Socialista. Vejo aliás de um modo muito crítico o processo de progressiva desvitalização política que, durante a maior parte do tempo, o tem caracterizado ao longo das últimas décadas. Um processo vinculado ao abandono dos fundamentos mais essenciais da tradição social-democrata de esquerda, hoje já só formalmente inscritos na sua matriz e invocados como uma flor na lapela. Estes têm sido trocados por uma política estritamente pragmática, feita mais de interesses que de causas, mais preocupada com medidas do que com metas, na qual tantas vezes têm pesado sobretudo a influência pessoal, os grupos de pressão e, a estes ligados, os jogos de bastidores. Desta forma, têm sido recorrentemente remetidas para um plano secundário a dinâmica democrática, que foi fundadora do partido, e a força criadora das convicções e dos projetos de inspiração social. Este panorama não pode ser associado a toda a vida e a todos os militantes do PS, seria injusto e impreciso fazê-lo, mas corresponde à tendência predominante. (mais…)

        Atualidade, Coimbra, Democracia, Opinião

        Quem tem razão vs. Quem tem razão

        O conflito israelo-palestiniano é talvez o tema de política internacional que maiores clivagens cria na opinião pública. Ao ponto de toldar pessoas habitualmente razoáveis ou de incompatibilizar outras que pouco antes partilhavam opiniões próximas sobre numerosos assuntos. E isto acontece há décadas. Pelo menos desde as rápidas mas brutais guerras dos Seis Dias (1967) e do Yom Kippur (1973), quando os mais duros dos duros militares israelitas, comandados no terreno por homens como Moshe Dayan ou Ariel Sharon, tomaram conta de Israel, ampliando a ocupação sionista do território da Palestina e deitando por terra qualquer possibilidade de um entendimento com a antiga OLP. A sua atitude de impiedade e conquista favoreceu, ao mesmo tempo, o crescimento de setores palestinianos radicalizados que excluíam qualquer acordo, presente ou futuro, com Tel Aviv. A partir dessa altura, a paz transformou-se numa miragem. E o sofrimento, sobretudo o dos mais fracos e desprotegidos, não mais parou, regressando periodicamente aos paroxismos de violência e assassinato em massa como aqueles a que estamos a assistir. (mais…)

          Atualidade, Democracia, Olhares, Opinião

          Problemas à esquerda (2)

          A primeira parte deste artigo pode ser encontrada aqui.

          A crise do Bloco de Esquerda existe. Mas é bastante mais saudável dá-la como certa e funda, olhá-la de frente, do que fugir a debatê-la publicamente, fazendo de conta que é irrelevante e momentânea, resultado fortuito de desfigurações impostas pelos seus adversários políticos naturais ou de erradas escolhas pessoais nascidas no seu interior. Na verdade, a origem desta bem visível crise é complexa e prende-se com circunstâncias tão diferentes como a continuada ambivalência do projeto inicial do Bloco, uma prolongada indefinição programática e uma notória dificuldade de adaptação a alguns dos desafios impostos pelas transformações políticas e sociais despoletadas pela crise financeira de 2010. O pior que os seus dirigentes podem fazer – a si próprios e aos cidadãos que nele têm depositado uma parte das suas esperanças – é negar esta situação diante dos microfones, ensaiando uma fuga para a frente e apontando o dedo em riste a quem diverge. (mais…)

            Democracia, Olhares, Opinião

            Problemas à esquerda (1)

            Naquele inverno de 1999-2000 participei em algumas das primeiras iniciativas do Bloco de Esquerda. Numa delas tive uma experiência singular: um almoço, entre duas sessões de trabalho, partilhado por largas dezenas de pessoas, ativistas de diversas origens, muitos deles a viver ali reencontros tantas vezes adiados, que durante a refeição se esforçaram visivelmente, algumas com aparente êxito, outras de maneira desajeitada, por contornar tudo aquilo que pudesse recordar as antigas desavenças e as clivagens um dia consideradas insanáveis. Sensivelmente as mesmas, vindas ainda das querelas dos anos 60 e 70, que durante décadas haviam azedado relações pessoais e políticas, fixando-se nas posições irredutíveis, presas a princípios e idiossincrasias mas quase sempre com zero em sentido prático, que tinham condenado a «esquerda da esquerda» à irrelevância. Agora, no entanto, tudo era possível: o luto da revolução falhada parecia feito e aquele tempo configurava-se como de viragem e superação, voltado para a criação de uma experiência realmente nova. (mais…)

              Democracia, Olhares, Opinião

              Porque é que a cultura não é notícia?

              ipsilon

              Participei esta semana num debate organizado em Coimbra pela Escola da Noite e subordinado ao mote «Porque é que a cultura não é notícia?». Nele foi apresentado por Carla Baptista e Maria João Centeno, do Centro de Investigação Media e Jornalismo, um recente estudo no qual se procurou, a partir da observação das primeiras páginas de jornais portugueses publicados entre 2000 e 2010, fazer o diagnóstico da cobertura jornalística dos temas culturais. Este trabalho, «A Cultura na Primeira Página» (culturaprimeirapagina.fcsh.unl.pt) não responde diretamente à pergunta que motivou a sessão, mas ajuda bastante a perceber de uma forma sustentada algumas das razões que nos obrigam a colocá-la. E também a verificar que o modo como determinadas abordagens continuam a ser destacadas, como outras são remetidas para páginas secundárias e outras ainda pura e simplesmente desaparecem dos jornais, obriga a questionar a forma como neles o próprio conceito de cultura é entendido. (mais…)

                Democracia, Jornalismo, Opinião

                Resistir não basta

                Um dos dramas deste tempo difícil e perturbante que estamos a viver reside na aparente incapacidade para vislumbrar uma saída. Diante da política de terra queimada imposta pelo governo, da sonegação dos direitos sociais que foram uma conquista de décadas de esforços partilhados, da diminuição brutal da qualidade de vida da generalidade das pessoas, da subversão do modelo de desenvolvimento que, apesar de imperfeito, nos levou a superar a condição aparentemente atávica de parente pobre e periférico de uma Europa outrora distante e sobranceira, quase parece impossível erguer uma alternativa. A tristeza, a incerteza e a descrença tomaram conta das nossas vidas, das nossas ruas, tornando-nos sonâmbulos sem autoestima, esperança ou uma ideia razoável de futuro. (mais…)

                  Apontamentos, Democracia, Opinião

                  A Carta

                  Depois de dois textos sucessivos (aqui e aqui) escritos a propósito do desaire eleitoral do Bloco de Esquerda, escolhi mudar de agulha. Afinal, tudo o mais que pudesse escrever sobre o tema parecia-me uma reiteração do que já tinha escrito, produzida no desconhecimento do que pudesse estar a acontecer num debate interno forçosamente intenso. Poderia além disso mostrar-me injusto ou precipitado, coisa que desde a primeira hora escolhi evitar sempre que falo do Bloco. Todavia os acontecimentos acabaram por sobrepor-se a essa lógica de contenção e, perante a «Carta às esquerdas», assinada pelos dois coordenadores do BE e tornada pública no último domingo, concluí que algumas escolhas, a meu ver insuficientes e infelizes, foram já projetadas para o exterior, sugerindo uma lógica de continuidade, repleta de maus augúrios, que se faz à revelia de muitos dos potenciais eleitores e condicionará qualquer tentativa de inflexão. Por isso retorno ao tema. (mais…)

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                    Dizer não

                    Reprodução parcial da crónica «El que dice no», de An­to­nio Mu­ñoz Mo­li­na, publicada na Babelia de 17 de Maio de 2014.

                    Há uma beleza própria no gesto daquele que diz não, com calma e firmeza, por vezes com fúria, ou que diz não ao inimigo ou ao déspota que deseja subjugá-lo. E também no que diz não aos que esperavam e confiavam em que dissesse sim, aos próximos, aos seus, aos que se sentirão magoados, quando não traídos, pela sua inesperada negativa. Aos que, talvez depois de o haverem nomeado filho dileto, decidem rebaixá-lo a filho pródigo. Há um não heroico que conduz com toda a certeza ao cativeiro e à morte, e esse é um não que não pode exigir-se a ninguém, porque ninguém está em condições de exigir o que não sabe se ele próprio faria, ainda que existam seres humanos suficientemente mesquinhos para julgar com dureza aqueles que sofreram muito mais que eles. (mais…)

                      Apontamentos, Olhares, Opinião, Recortes

                      O abismo e o compromisso

                      Na terça-feira passada, 27 de Maio, publiquei um texto de opinião, intitulado «O dia seguinte do Bloco», no qual – como aí dizia, «na mera ótica do utilizador», isto é, enquanto apoiante crítico, colaborador ocasional e votante obstinado – ensaiava uma tentativa de interpretação, naturalmente curta e parcial, da enorme derrota sofrida pelo Bloco de Esquerda nas eleições europeias. Aí colocava também algumas hipóteses sobre o caminho, necessariamente difícil mas necessário, que poderia ser trilhado para retomar o caminho da esperança e do reconhecimento público. A justificar esse esforço a convicção, que mantenho, de que o Bloco pode e deve ser parte da solução para obter uma viragem do país no sentido da construção de uma sociedade mais justa, mais solidária, mais democrática, e mais envolvida no bem-estar dos cidadãos. Para além de, nesta altura, integrar uma grande área destinada a inverter o estado a que a coligação PSD/CDS conduziu o país e a vida dos que o habitam, não podendo desobrigar-se do seu compromisso neste campo. (mais…)

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                        O dia seguinte do Bloco

                        Nota prévia: Esta é uma leitura «na mera ótica do utilizador». A eventual candidatura de António Costa à direção do PS poderá reconfigurar muita coisa. Mas esse não é o presente cenário.

                        Nas europeias do passado domingo o Bloco de Esquerda perdeu muitos eleitores para o PCP/CDU, para o Livre e até para o «partido do Marinho e Pinto». Sem estas perdas – a culpa não será por certo dos destinatários desses votos, que apenas fizeram o seu trabalho – o BE teria, muito provavelmente, um resultado estável e proporcional ao papel que se espera que cumpra. Mas tal não aconteceu, pese a justa eleição de Marisa Matias, e por isso precisa agora de refletir seriamente, sem medo e sem mais adiamentos, nas razões internas da aparatosa derrota. Nas razões internas, insisto, não na «culpa» dos outros. Mas também numa reorientação de estratégia e de política de alianças. Para evitar afundar-se mais ainda em termos eleitorais e poder retomar o lugar único e necessário que tem ocupado no espetro político nacional. (mais…)

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                          Em quem vou votar (e porquê)

                          Um dos traços negativos da atual campanha para as europeias encontra-se no paradoxal menosprezo dos partidos do arco da governação pela Europa como assunto e desígnio. Nas suas campanhas, o PS e o PSD/CDS integram o tema como parte acessória da luta interna que mantêm pela gestão do Estado e da estratégia internacional das respetivas famílias políticas – seja o que for que isso ainda possa significar – para o controlo do Conselho Europeu e da maioria em Bruxelas e Estrasburgo. Por isso, neles as referências à política europeia como razão de ser e objetivo central da participação nestas eleições, em pouco se distinguem. Limitam-se a replicar a separação, tantas vezes apenas formal, entre os defensores da austeridade a todo o custo ou os de um desenvolvimento mais apoiado na intervenção dos poderes públicos. Para além do apelo à delegação de soberania através do voto, os cidadãos não são informados com clareza de qual o sentido efetivo que cada uma das escolhas verdadeiramente pode ou deve tomar. O que, de concreto, irão Assis ou Rangel fazer no Parlamento Europeu. (mais…)

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                            Os despojos da inocência

                            Fotografia de Kaia
                            Fotografia de Kaia

                            A crise global tem suscitado na Europa não apenas o questionamento dos modelos de sociedade construídos sobre as liberdades políticas e o pluralismo ideológico, mas igualmente o do próprio valor da democracia como fonte da legitimidade da governação. Fora do espaço protegido, fechado sobre si próprio, dos aparelhos partidários que têm rodado na gestão dos diversos poderes, começa a ser praticamente consensual que o modelo da democracia representativa, tal como este tem vindo a funcionar, se mostra insuficiente para administrar com eficácia a coisa pública e para conservar a confiança dos cidadãos. Ao mesmo tempo, revela-se cada vez mais incapaz de mobilizá-los para as tarefas de regeneração das sociedades nas quais a perda de direitos e a instalação do pessimismo dominam pesadamente a paisagem social. (mais…)

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                              Quarenta anos depois de Abril

                              Acrílico sobre tela de Jorge Cardoso
                              Acrílico sobre tela de Jorge Cardoso

                              À medida que o ano de 1974 foi ficando para trás, a evocação do 25 de Abril foi perdendo a tonalidade vibrante que manteve nos primeiros tempos. A estabilização do regime democrático, com as suas qualidades e imperfeições, tal como a instalação progressiva de uma sociedade menos desigual, foram induzindo distanciamento. Em cada aniversário, ressurgia sobretudo a memória afetiva de quem vivera a Revolução, ou de quem a preparara nos subterrâneos do exílio ou da clandestinidade, bem como uma compreensível nostalgia por uma fase do percurso pessoal e coletivo partilhada por quem desejava o retorno das utopias perdidas. Esperando por «outro 25 de Abril», como muitos diziam com convicção mas reduzida esperança. (mais…)

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                                O DN e Angola

                                A informação é demasiada e um homem não pode saber tudo. Por isso, somente pelas crónicas de Ferreira Fernandes no Diário de Notícias tomei conhecimento do facto de capitais angolanos irem tornar-se maioritários na gestão do jornal. Entretanto, o que se passa ou não com o DN diz-me um pouco respeito, por razões sentimentais e não só. O meu avô paterno e o meu pai foram agentes do jornal durante décadas e foi nele que aprendi a ler: aos 5 anos punham-me, como a um macaquinho hábil, a soletrar em público os títulos, para gáudio dos amigos do meu avô e como experiência um tanto radical para mim. Depois, foi no DN que formei uma boa parte da consciência do mundo, tendo ainda sido seu colaborador ocasional. Por isso, e porque temos cada vez mais falta de boa imprensa, aquilo que acontece ao Diário me diz também respeito. É esta a razão pela qual não exibo o otimismo crítico e excessivamente simpático de Ferreira Fernandes. Pelo que me é dado pensar quando leio a expressão «capitais angolanos», fico-me antes pelo pessimismo expectante e assumidamente desconfiado. A ver vamos.

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                                  A leitura e o futuro

                                  Imagem de Andrew Hefter
                                  Imagem de Andrew Hefter

                                  «Enquanto houver livros para ler sei que não terei um momento aborrecido na vida. Só isto basta para lhes dever muito.» Com esta frase, com a qual rematou uma crónica recente sobre livros e livrarias, José Pacheco Pereira lembrou uma atitude que, apesar de viver uma fase de recuo, continua a marcar profundamente a experiência coletiva e a de muitos de nós. Refiro-me à prática da leitura como momento de enriquecimento pessoal, enquanto fator de conhecimento e de prazer, mas também ao seu uso como instrumento de liberdade, devido à capacidade que oferece para treinar a imaginação, abrir possibilidades e ajudar a construir uma consciência crítica do mundo. (mais…)

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                                    Colaboração ou resistência?

                                    Fotografia de Hugo Correia

                                    1. Transcrevo uma parte substancial da crónica que José Vítor Malheiros assina hoje no Público:

                                    «Os grandes consensos políticos são indispensáveis em graves momentos de crise. Em muitos dos países ocupados pelos nazis na Segunda Guerra Mundial, a resistência incluía pessoas que cobriam um espetro político que ia dos cristãos conservadores e monárquicos aos comunistas e anarquistas e a razão, a necessidade e a justiça da sua aliança era uma evidência para todos. Estes grandes consensos podem ser vitais em momentos de emergência, para ultrapassar um obstáculo preciso, ainda que não constituam uma fórmula de governação política nem apaguem as diferenças e os conflitos entre os seus constituintes – diferenças vitais, também elas, para permitir o exercício da livre escolha democrática pelos cidadãos, que deve ser instituída ou restabelecida tão depressa quanto possível. (mais…)

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