Arquivo de Categorias: Etc.

A escolha

O teutónico polvo Paul, bem como um crocodilo e um panda ligeiramente menos mediáticos, escolheram a Espanha. Um periquito indonésio decidiu-se pela Holanda. Como sempre, tomarei o partido dos mais fracos.

    Devaneios, Etc.

    A Biblioteca e a petição

    No dia 8 de Junho a direcção da Biblioteca Nacional de Portugal anunciou o encerramento, já a partir de Novembro e por quase um ano, dos serviços de Leitura Geral. Os Reservados fecharão por cerca de 5 meses. Anunciada desta forma, sem aviso prévio e por tanto tempo, a decisão traduzir-se-á em prejuízos incalculáveis para os investigadores e os estudantes, para quem aquele espaço é imprescindível uma vez que dele depende o andamento dos trabalhos com prazo-limite que têm em mãos. Uma petição a correr online pede que se reconsidere o plano de transferência, no sentido de se atrasar o encerramento da Biblioteca para depois de Junho de 2011 e de se fasearem os trabalhos de modo a reduzir o tempo de encerramento integral. Pode conhecê-la e assiná-la aqui.

      Atualidade, Etc.

      Cândido

      Soldado norte-coreano

      O comentador inocente parece francamente admirado durante o jogo de futebol Coreia do Norte – Costa do Marfim: «Mas os jogadores norte-coreanos jamais discutem um decisão do árbitro! Seja ela qual for!»

        Apontamentos, Etc.

        O nosso Kim Philby

        Miguel de Vasconcelos

        Falo um pouco de futebol, que é de momento aquilo que nos vale para não entrarmos todos em depressão profunda. O senhor António José Conceição Oliveira, mais conhecido por Toni, antigo jogador e treinador de futebol e figura pela qual até mantinha uma certa simpatia, foi contratado pela selecção da Costa do Marfim para informar o seu Mister – Sven-Goran Eriksson, o conhecido cidadão sueco que foi em tempos anunciante da aguardente Macieira – dos prós e dos contras da equipa portuguesa. Não se trata de uma ligação profissional prévia, que imporia naturalmente deveres de lealdade, mas sim de um contrato recente, feito de propósito para quem o assinou vender informações ao inimigo e trair a sua pátria. Temos pois, finalmente, o nosso Kim Philby. Ou um novo Miguel de Vasconcelos. A escolha é vossa.

          Atualidade, Devaneios, Etc.

          Pequenos pequenos nadas

          Brel e Gitanes

          Depois do anterior post sobre o desaparecimento dos cigarros Gitanes do mercado, recebi uma dezena de mails sobre o assunto. Chegaram todos de pessoas que não conheço do mundo material, nem elas a mim, com as quais jamais me cruzei, mas que se aproximaram na tristeza solidária e na revolta por verem desaparecer esse momento especial que era ao mesmo tempo um hábito e um ritual. Agora eclipsado por troca com sensaboria normalizada de um tabaco claro e sem alma. Num dos mails recebidos evocava-se um aspecto crucial que me escapara no post: «aquela sensação de ter um Gitanes no meio dos dedos, dada a sua espessura única». É realmente verdade que essa ausência pesa também: aquele milímetro a mais de circunferência, suficiente para conferir ao momento uma robustez que se impunha na experiência do fumador e na forma como este concebia o seu lugar social, vincando a margem de diferença em relação aos vulgares consumidores de tabaco light. E como são importantes para nós, certas vezes, estes pequenos pequenos nadas.

          Jacques Brel, fumeur de Gitanes – J’en appelle
          PLAY

            Apontamentos, Etc., Memória, Música

            O meu Facebook tem a mania

            Facebook

            Admito que a minha vida no Facebook está a ser um pouco difícil de gerir. Primeiro inscrevi-me por motivos profissionais, trocando raras mensagens com três ou quatro pessoas. Depois chegaram os amigos próximos e distantes. E os familiares directos ou afastados. Lá fomos convivendo todos naquele barco azul, num clima simples e descontraído. De seguida as pessoas a quem (presumo) de vez em quando interessa o que eu possa dizer. E aquelas pelas quais eu me interesso. De quem gosto ou de quem penso poder vir a gostar. Até aqui, tudo bem também: fui mandando uns bitaites num ambiente informal, trocando umas ideias, partilhando prazeres moderados e pequenos ódios, vendo e dando a ver. Sem problemas, num registo por vezes intimista, algumas vezes delirante. Mas nas últimas semanas estão a chegar às dezenas pessoas que não conheço, que não são amigas dos amigos, de quem nada parece aproximar-me – certas vezes, olhando o seu perfil, antes pelo contrário – pelo que a algumas destas, lamento, declino o pedido de «amizade». Quero continuar a passar por ali um pedaço giro do dia e da noite. Ou a queixar-me sem pensar se o devo ou não fazer. Não a aborrecer-me ou a ter de fazer de conta. Se fosse político profissional, pop star, vendedor da televisão por cabo ou o arcebispo de Cantuária, lá teria mesmo de falar com toda a gente, beijar criancinhas com xixi, convencer as sombras do meu perfil fidedigno, evitar «expor-me» em demasia, fazer «amigos» e conhecer pessoas aos magotes. Como não sou, em casos pontuais terei de reservar o direito de admissão. Claro que assim jamais chegarei a Presidente da Junta, mas a liberdade paga-se.

              Cibercultura, Etc., Olhares

              O futuro é redondo

              Futebol

              Uma agência de rating como a Standard & Poor’s, «com escritórios em 23 países e uma história de quase 150 anos», bem pode andar a tentar tramar-nos, procurando mostrar ao mundo inteiro que estamos no ponto para seguir o desgraçado exemplo grego. A verdade, porém, é que estamos em 3º lugar no ranking da FIFA – logo a seguir ao Brasil e à Espanha, bem acima da vil Alemanha, a muitas milhas dos checos – e por isso as coisas não estarão assim tão mal quanto essa gente maldosa pretende fazer crer. Apertaremos o cinto até ao último furo, mas com um sorriso nos lábios e a bandeira nacional pendurada na varanda.

                Devaneios, Etc.

                Uma escolha difícil

                Fahrenheit 451

                Um inquérito lançado pelo blogue madrileno Papeles Perdidos pretende que assumamos o lugar do redimido Guy Montag em Fahrenheit 451 e resolvamos rapidamente o seguinte dilema: «Que obra literária memorizaria para salvá-la do fogo?». Jamais se me poria o problema, uma vez que a minha capacidade mnenónica tem diminuído um tanto – longe vão os dias gloriosos nos quais encornei em 24 horas todo o Compêndio de Filosofia de J. Bonifácio Ribeiro e José da Silva «para 7º ano e aptidão a cursos superiores» – e, para além disso, a indecisão iria paralisar-me. Se quisesse armar-me em esperto poderia escolher Finnegans Wake, de Joyce, pois tal significaria que, ao ser capaz de memorizá-lo, demonstraria ter condições para memorizar muitos outros livros. Mas prefiro aplicar as energias a trabalhar nos subterrâneos para que jamais nos possamos aproximar do futuro aterrador projectado por Ray Bradbury.

                  Democracia, Etc.

                  A voz

                  A voz

                  No Diário Volúvel, Enrique Vila-Matas fala da voz de Van Morrison como voz que lhe pareceu sempre representar «a humanidade inteira». Cada um de nós, em certos dias, em determinados momentos, encontra de vez em quando uma voz assim. Que chega de parte incerta e nos segreda ao ouvido o momento límpido no qual todas as coisas, todos os tempos, todas as forças e vozes, parecem convergir. Só que apenas nós o percebemos, e, por isso, esse fragmento de humanidade fica por nossa conta, como um segredo impossível de transmitir. Como uma jóia rara, translúcida e sem peso, impossível de partilhar, que tocamos por cinco minutos e mais ninguém vê, mais ninguém ouve.

                    Apontamentos, Etc.

                    Princípio da realidade

                    Jesse James

                    Pensei ter entrado na quinta dimensão. Li o título da nota noticiosa sobre o perdão concedido a Jesse James e por momentos julguei tratar-se da revisão do rico registo criminal do bem sucedido (com o gatilho) bandido do Missouri, abatido à má-fila por um traidor em Abril de 1882. Afinal tratava-se apenas do perdão de Sandra Bullock ao trastalhão do marido, homónimo do fora-da-lei, que se tem andado a divertir à grande, benza-o Deus, com uma tal de Michelle «Bombshell» McGee. Os mergulhos no passado têm-me distraído um pedaço das coisas importantes.

                      Devaneios, Etc., História

                      Tempo de tréguas

                      O amor dos livros

                      Para acabar de vez com a falta de stocks nas livrarias («não temos, está esgotado»). Para terminar com a destruição de livros por falta de espaço para armazenamento («zzzzzás, pás!»). Para espantar os biblioclastas mais impenitentes. E também para dar ao livro táctil, odorífero, em papel, um tempo de tréguas. As distribuidoras podem não gostar muito desta ideia (já com alguns anos de ensaio, aliás), mas todos os males do mercado livreiro fossem esse.

                        Etc.