Arquivos Mensais: Abril 2008

Reprise (2)

[YouTube=http://www.youtube.com/watch?v=F5fsqYctXgM]

Perfazem-se hoje 54 anos sobre a data da gravação num estúdio de Nova Iorque, por Bill Halley & His Comets, de Rock Around the Clock, o primeiro tema de rock’n’roll a chegar ao topo das vendas de discos nos Estados Unidos. No ano seguinte (1955), a canção já não saía das cabeças e dos pés de milhões de teenagers de ambos os lados do Atlântico. E a paisagem social mudava com eles.

    História, Memória

    Trotsky plays banjo

    De vez em quando tento compreender a tendência, cada vez mais acentuada no Bloco de Esquerda, para desvirtuar as suas origens, a identidade sociológica da sua matriz, a dose de esperança que devolveu nos finais da década passada a muitas pessoas que a haviam perdido algures nos baços anos 80 ou que estavam a despertar para a prática política. Lembro-me então das razões que inventariei para depois me afastar: a redução do essencial da iniciativa à actividade eleitoral ou parlamentar, a passagem para segundo plano de causas e áreas de intervenção que não estimulam consensos, a absurda auto-imagem de «partido de confiança» (e a consequente moderação da «rua» como território de combate), a reduzida carga política de um discurso que se pretende mostrar «aceitável» (por quem, jamais percebi), a intolerância latente de um proto-marxismo de museu que mantém a sua força, o estrabismo de certas posições no domínio da política internacional. Lembro-me também das razões que em 1999 me levaram a aderir ao projecto. E releio um texto que escrevi em Janeiro de 2000, ao qual chamei «Todas as cores de uma esperança». Está ali tudo o que na altura me empolgava, como empolgava muitas outras pessoas, e que hoje se esvaeceu quase por completo.

    Foi nessa esperança extraviada, e nesse imaginado partido de convicções, de denúncia, de pressão, de resistência e de justiça, no qual uma vez acreditei, que voltei a pensar quando li a afirmação, produzida por Rui Tavares (que retomou, faça-se a justiça a Daniel Oliveira, a posição por este defendida há já largos meses), de que «um partido da resistência não chega», e que «para o BE ter mais votos, tem de começar por querer ser mais». O que deixa no ar duas evidências. A primeira, se tal for assumido como orientação estratégica do Bloco, é que ocorrerá uma ruptura definitiva com as causas que não somem votos, implicando uma autêntica refundação do partido. A segunda é que está algures a ser construída a fantasia impossível de um «Bloco de poder». Como presumo que uma estratégia bolchevique de assalto ao Palácio de S. Bento esteja fora de questão, e tal «ser mais» só pode significar o negociar de um ou dois artigos neste ou naquele diploma ou o suplicar de duas subsecretarias de Estado num eventual governo de coligação, ocorre-me perguntar: com quem e em que bases programáticas será possível, neste momento, desenhar tal coligação? Ou será que…

      Atualidade, Opinião

      Previsão para Maio

      «Maio é, habitualmente, um mês de aguaceiros esparsos, mas a instabilidade que agora reina no clima trará chuvas torrenciais de uma violência inaudita. Verá o seu carro ser arrastado por uma enxurrada, mas isso deixá-lo-á primeiro indiferente e, depois, aliviado.»

      De O Que Está Escrito Nas Estrelas [Anos I & II], o «horóscopo de assombroso rigor científico» no qual o autor de BD José Carlos Fernandes transformou o seu último álbum (embora trabalho antigo), composto por 24 inquietantes histórias ilustradas. Por precaução, não o deverá perder (Ed. Tinta da China).

        Devaneios

        Originalidade regional

        A proposta de criminalização da toxicodependência na Madeira parece passar por ser mais uma originalidade regional ou uma daquelas brincadeiras de mau gosto de A. J. Jardim. Mas ela não pode tolerar um encolher de ombros idêntico àquele que tem caído sobre outras acções passadas e presentes do seu governo relacionadas com a saúde pública, como o retardamento em anos do uso obrigatório do cinto de segurança, a tentativa de camuflar alguns surtos epidémicos, a grave demora na entrada em vigor da lei sobre a interrupção voluntária da gravidez, ou a inexistência de um plano sistemático de combate ao alcoolismo na zona do país onde a sua incidência mais se faz sentir (e a campanha até poderia começar pela festança anual do Chão da Lagoa). Para além da favorecer os traficantes, a ser aplicada, justamente numa das regiões onde o flagelo da dependência da droga atinge das mais elevadas taxas de incidência, a medida configurará mesmo o crime de genocídio.

          Apontamentos

          Gota de água

          Generación Y, o blogue havanês já aqui referenciado há meses atrás, é uma das publicações que acaba de receber o Prémio de Jornalismo Ortega y Gasset, atribuído por um júri nomeado pelo diário El País. O extraordinário, para além da capacidade de sobrevivência de um espaço de liberdade onde ela é geralmente cerceada – não sem que Yoani Sánchez, a sua autora, tenha deixado de ser submetida a intimidações -, é a sua forma luminosa e plena de esperança de lidar com um quotidiano desgastante e sem horizonte visível. E tão notável quanto o tom e a regularidade do trabalho desta valente blogger cubana é o calor combativo, e quase sempre sereno apesar de plural, partilhado pela maior parte das muitas pessoas que escrevem nas suas caixas de comentários. Um ponto a favor da causa da liberdade e da democracia em Cuba.

          Notável, no contexto, esta forma de Yoani se identificar publicamente.

            Apontamentos, Atualidade

            Hu Jia

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            Após ser acusado de incitar à «subversão do poder de Estado e do regime socialista», três anos e meio de prisão para Hu Jia, o activista chinês de causas relacionadas com a defesa do ambiente, a liberdade religiosa e os direitos das pessoas com HIV ou SIDA. Tudo matérias de somenos importância no país dos dois sistemas, da exploração dos trabalhadores, da censura, da pena de morte e dos Jogos Olímpicos «apolíticos».

              Atualidade

              Inquietante, (vírgula)

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              Afinal, os novos colegas da blogosfera ainda estão só a ocupar os seus lugares e irão por certo melhorar as suas prestações. Mas o nível do «português comercial» da generalidade dos posts já publicados pelos mais ou menos jovens vinte e seis deputados e duas deputadas que abriram o blogue Câmara de Comuns é um tanto inquietante. Será uma boa ajuda o uso dos correctores da ortografia e da sintaxe, pois estes costumam apanhar os erros, acertar vírgulas, moderar a dimensão dos parágrafos, captar a ausência de sujeito, ensinar os tempos verbais, conformar as concordâncias, rematar problemas avulsos. O dicionário de sinónimos também permitirá alargar um pouco a riqueza vocabular. As malformações do estilo, essas já serão mais difíceis de resolver. É preciso não esquecer que parte do melhor português escrito produzido no rectângulo passa pelos blogues, e por isso não convém baixar o nível dando um mau exemplo. Sobretudo vindo de quem vem.

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                Grita Liberdade

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                Os Repórteres Sem Fronteiras estão a organizar uma campanha destinada a mobilizar atletas, jornalistas, membros dos Comités Olímpicos e membros do público presentes nos Jogos no sentido destes usarem, durante a estadia em Pequim, um autocolante com a palavra «Liberdade» escrita em caracteres chineses.

                Entretanto a televisão local transmitiu em directo a chegada da chama olímpica, mas atrasou as imagens em alguns minutos para prevenir eventuais distúrbios. Ao mesmo tempo, todos os voluntários e jornalistas foram submetidos a revistas por parte das autoridades. Pela amostra, os agentes dos serviços de segurança chineses vão chegar ao final de Agosto completamente stressados.

                  Apontamentos, Atualidade