Sobre os monumentos (5)

Bratislava

Nos países sob regimes democráticos, onde se verifica algum respeito pela diferença de opiniões e pela transitoriedade dos valores, o mobiliário monumental tem começado a atenuar a expressividade simbólica que sempre incorpora. Os edifícios construídos são mais funcionais e voltados para um diálogo com as populações envolventes, a agressividade figurativa das estátuas é reduzida, ocorre uma maior preocupação com o reconhecimento social e com o confronto com a paisagem. Isto atenua o carácter demasiado afirmativo e panfletário, acentuadamente polémico, que estas construções assumem noutras circunstâncias. Porém, a suavização da mensagem dilui ao mesmo tempo o impacto do objecto, convocando um mais rápido esquecimento.

    História, Olhares

    75 anos connosco

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    Sem ela não seríamos bem aquilo que somos. Nem os nossos dentes brilhariam da mesma forma. A fórmula da Pasta Medicinal Couto foi elaborada pelo gerente da sociedade Flôres e Couto, sediada no Porto, com a ajuda de um dentista amigo, visando evitar «nomeadamente as infecções das gengivas», e foi registada em 13 de Junho de 1932. 75 imperturbáveis anos de vida, se exceptuarmos, em 2001, o episódio da retirada da designação «medicinal», imposta por normas comunitárias. Também ajudou a defender o império servindo-se de «um artista português» que passou a integrar a nossa memória colectiva.

      Apontamentos

      Bocejo em horário nobre

      Um dos pequenos dramas domésticos mais comuns consiste em desejar ardentemente cortar o som da televisão, ou mudar o canal, e não se saber onde raio poisámos o telecomando. Foi o que me aconteceu ontem, obrigando-me a ouvir em alta gritaria, durante alguns minutos, Notas Soltas, a entrevista de Judite de Sousa a António Vitorino que a RTP transmite todas as segundas-feiras. Calculo que este seja um dos programas com mais baixo nível de audiências da televisão portuguesa, apesar de ir para o ar em horário nobre, de anteceder o popular concurso Um Contra Todos, e de muitos cidadãos, em função do título da rubrica e do nome do entrevistado, poderem legitimamente pensar que a conversa verse os meandros da música erudita. A previsibilidade absoluta das ideias, que apenas repetem em modo afável o discurso oficial do governo, a incapacidade para ser-se convincente, mobilizador ou sequer, como Marcelo Rebelo de Sousa, um bom entertainer, transformam aquela meia hora num suplício a requerer medidas céleres de higiene doméstica. E é aí que entra (ou deveria ter entrado) o bendito telecomando.

        Opinião

        Os meus «Seis Dias»

        Dayan

        Com catorze anos de idade eu não podia ter uma posição política que se esforçasse por parecer coerente. Talvez por isso, ou graças às «leituras para rapazes» que ocupavam a maior parte do meu tempo, em Junho de 1967 ainda sentia um grande entusiasmo pela guerra e pelos guerreiros que imaginava a povoá-la. Não aquela guerra que sabia travar-se no «nosso Ultramar» e que já então me parecia soturna, sem vislumbre de finalidade ou de grandeza, mas as guerras que se assemelhavam às dos livros. Partilhei pois – na altura, com muitos outros portugueses comuns – uma certa atracção pela dimensão heróica da Guerra dos Seis Dias. Passei aquela semana agarrado à rádio, combinando a escassa informação que chegava através da Emissora Nacional e do Diário de Notícias com as proclamações indecifráveis e contínuas, acompanhadas de música marcial, que, através da onda curta, provinham, presumo, do Cairo ou de Tel-Aviv. Entrevi dias depois, em escassas imagens da televisão, o júbilo dos soldados israelitas. Mais ao longe, uma nuvem de poeira que o locutor de serviço dizia ser a infantaria egípcia em retirada. Lamentei que tudo tivesse acabado tão depressa. E rejubilei com a vitória militar daquele que era então – alguns dos que conservam alguma memória da época já o terão esquecido – um pequeno povo perseguido de «judeus imundos», confinado a uma língua de terra árida e demasiado ensolarada.

        O rosto visível daquele delírio juvenil, que só depois soube tratar-se do prelúdio de um outro drama que nada teria de romanesco, era o do misterioso general Moshe Dayan. Com a sua inconfundível pala de pirata (substituindo o olho vazado no Líbano durante a luta contra os francesas colaboracionistas), um permanente mono-olhar de gozo e sobranceria, a mesma postura descontraída e operacional que vislumbrei depois nos muitos oficiais-generais do exército israelita que ganharam as suas estrelas dividindo o tempo entre o ar condicionado dos comandos e um quotidiano vivido em ininterrupto estado de guerra. Dois anos depois, já via a Guerra dos Seis Dias de uma forma crítica, percebendo como ela tinha incubado o ovo da serpente – e como o «espírito de aventura» preludiara afinal uma proeza extremamente perigosa – mas ficou-me, para sempre, sob o retrato daquele herói que não saía dos livros e do passado mas de uma realidade imediata que os imitava, a percepção vivida, da dimensão estética, inebriante e tremendamente perigosa da guerra. Da forma como ela pode catalisar tomadas de posição bruscas, irracionais e irreversíveis. Tal como, actualmente, o reconhece aquela parte da oposição política israelita que ainda é capaz de conceber uma paz que mais ninguém parece desejar.

        Adenda: o homem «humanizado»

          Apontamentos, História

          Palavras cruzadas (ainda os blogues)

          1 dalmata

          Aceito parcialmente a crítica de José Pacheco Pereira a certos malefícios do metabloguismo, particularmente aos vícios do «amiguismo». Não significa isto, porém, que seja contra a partilha de ideias e de cumplicidades entre escrevedores de blogues. Elas constroem solidariedades e ampliam a visibilidade daquilo que se publica, possibilitando uma interacção muitas vezes enriquecedora. Reconheço que também não gosto de ver livros referidos apenas porque a ou b sugere que o façamos. E depois ver o favor a ser pago à luz do dia. Como não aprecio banalidades de notáveis transformadas em memoráveis citações, enquanto textos bem escritos e de gente inteligente permanecem ignorados. Mas considerar que este tipo de situações traduz nesta altura um «significativo empobrecimento da blogosfera» – na qual ocorreram fases bem piores de maledicência e boataria que levaram até à desistência de excelentes bloggers – parece-me injusto e exagerado.

            Apontamentos, Atualidade, Cibercultura

            Um livro contra a fé

            Sam Harris

            Não é fácil defender a importância de uma obra como esta. Quando se multiplicam os livros, discursos, colóquios, debates e números de revistas que pretendem colocar em diálogo islamismo e cristianismo, ou que intentam provar «cientificamente» que se completam, e quando a defesa da laicidade parece confinar-se à teimosia de uns quantos excêntricos fora do tempo, não é fácil declarar, e tentar demonstrar, que ambos são males transportando consigo, em quaisquer das suas múltiplas formas, a opressão e a guerra. Mas é isso que procura fazer o filósofo americano Sam Harris em O Fim da Fé. Religião, Terrorismo e o Futuro da Razão, recém-editado pela Tinta da China.

            Um dos argumentos centrais deste livro aponta para o carácter negativo de um novo dogma, do qual são portadores os «crentes moderados» e também aqueles que, não sendo pessoas de fé, entendem a religião como uma área intocável e essencialmente positiva da experiência humana: uns e outros «imaginam que o caminho para a paz só será desbravado quando cada um de nós tiver aprendido a respeitar as crenças injustificadas dos outros». O que leva Harris a declarar, e a propor-se mostrar, que, ao invés, «o próprio ideal de tolerância religiosa (…) é uma das principais forças que nos arrasta para o abismo».

            Numa recente entrevista ao suplemento Babelia, Fernando Savater afirma, reciclando o velho aforismo de Marx, que «mais do que ópio, a religião é cocaína». Isto é, ela não se limita a anestesiar, a entorpecer, mas é capaz de produzir estados psicóticos produtores de uma suspensão do tempo e de ilusões com um elevado potencial de violência. O livro de Harris parte também, de alguma forma, do entendimento da religião como uma doença, e como uma doença perigosa, cujo alastramento é favorecido por dois mitos que procura desarmadilhar: o primeiro associado ao facto da maioria de nós acreditar «que é possível retirar coisas boas da fé», o segundo vinculado à crença de que as coisas terríveis que por vezes se cometem em nome da religião «são produto, não da fé em si mesma, mas da nossa natureza mais ignóbil (…) em relação à qual as crenças religiosas constituiriam o melhor (senão mesmo o único) remédio».

            Todo o volume se constitui então como um tentativa de destruição do mito da «moderação» religiosa e, ao mesmo tempo, como um enunciado do grau de inadequação ao mundo contemporâneo de todas as religiões do «Único Deus Verdadeiro», as quais, aliás, pressupõem sempre «uma ignorância enciclopédia da história, da mitologia e até da própria arte» e impelem o outro, a todo o instante, para um lugar, tolerado ou combatido, de menoridade política e de inferioridade cultural. Se ele se afirmar como apóstata, então a solução será a exclusão ou a morte.

            Particularmente examinados são, para além dos traços essenciais da matriz judaica, os fundamentos e as práticas, passados e presentes, do islamismo e do cristianismo. E aqui a crítica é impiedosa, procurando provar o seu carácter arcaico, o potencial de violência que integram, e a periculosidade das posições daqueles que buscam compreender, quando não aceitar, os seus mais terríveis excessos. A argumentação, que recorre constantemente aos textos sagrados, bem como aos discursos e às práticas dos líderes políticos que procuram na religião os fundamentos das suas opções, é verdadeiramente esmagadora, embora, frequentes vezes, bastante perturbante para aqueles que foram educados num universo laico mas tolerante em matéria de religião. Ao mesmo tempo, o recurso constante a factos do passado recente integra o debate em volta dos antigos mitos na discussão sobre os acontecimentos contemporâneos que os invocam e com os quais nos temos visto, e continuamos a ver, constantemente confrontados. Afinal, pergunta o autor, «quando será que nos iremos aperceber de que a indulgência do nosso discurso político em relação às crenças religiosas nos impede de mencionar, quanto mais de erradicar, a fonte de violência mais prolífica da história?»

            A presença dos cristãos fundamentalistas na administração americana é mostrada em muitos dos seus assustadores detalhes, mas a crítica do Islão é, sem dúvida, a mais agreste. Tendo em linha de conta a tese proposta, afinal, de que outro modo poderia ser, se, como se sabe, é neste campo que as coisas têm agora ido mais longe? As palavras são duras: «Ao reflectirmos sobre o Islão e sobre o risco que ele representa para o Ocidente, deveríamos imaginar o que seria preciso para vivermos pacificamente com os cristãos do século XVI. Com homens ainda desejosos de perseguir as pessoas por crimes como a profanação da hóstia ou a bruxaria. Estamos hoje na presença do passado. Conseguir estabelecer um diálogo construtivo com estas pessoas, convencê-las dos nossos interesses comuns, incentivá-las a seguir o caminho da democracia e a celebrara diversidade mútua de ambas as nossas culturas, é tudo menos uma tarefa simples.» Tarefa esta que o autor não enjeita, ainda que não se mostre muito optimista em relação aos seus possíveis resultados.

            O argumento de Harris faz também cair por terra a ideia de acordo com a qual, resolvidas as desigualdades ao nível da distribuição da riqueza e do desenvolvimento económico, as contradições religiosas desapareceriam, ou, pelo menos, os extremismos que actuam neste campo ver-se-iam isolados e reduzidos a uma expressão residual. O autor mostra como estes aspectos pouco interessam às massas ignorantes de crentes e como os líderes religiosos que lhes alimentam a credulidade e a ferocidade frequentam um universo quase invariavelmente protegido, informado e próspero.

            No final do livro, dois capítulos mais densos mas não menos polémicos debruçam-se sobre a essência do fenómeno religioso e sobre o valor positivo de uma espiritualidade liberta da religião. Outro tenta enunciar uma posição positiva no sentido da definição e alargamento de um grande campo de combate cultural à presença e à influência das religiões. Um interessante posfácio procura ainda rebater algumas das principais e previsíveis críticas, muitas delas com um recorte de grande violência, que foram feitas após a saída da primeira edição deste livro, vencedor do Pen Award para a não-ficção de 2005 e grande êxito de vendas. No mundo onde é possível editar livros destes e debater estes temas, evidentemente.

              História, Opinião

              O mascarado e o da triste figura

              Os novos moinhos

              Tendo-lhe sido perguntado, em entrevista da revista Sábado, se se identificava com o Zorro ou com D. Quixote, José Sá Fernandes, o protagonista da «candidatura alface» do Bloco de Esquerda à Câmara de Lisboa, afirmou, como era de prever num candidato partidário a alguma coisa, «com o Zorro porque tinha os pés na terra». Sendo grande a minha simpatia pelo herói mascarado – mais ousado até do que Sá Fernandes o pinta (sobretudo na versão de Isabel Allende) – sinto principalmente a falta de Quixotes. Um dos problemas de algumas das forças que a dada altura pretenderam renovar a política activa e a participação dos cidadãos talvez advenha mesmo destas não lhes darem grande atenção. O espectro gélido de Lenine paira ainda em muitos horizontes.

                Apontamentos, Opinião

                Voz no deserto

                Admito que a afirmação do ministro Mário Lino a propósito do «deserto» situado abaixo do habitat das senhoras tágides tenha sido, para além de politicamente controversa, uma valente gaffe. Mas já deu para entender que ML habita, ele próprio, um outro deserto: o dos «homens públicos» com sentido de humor e alguma propensão para a introdução de critérios de subjectividade no sempre previsível discurso de Estado. Considero isso extremamente saudável e até lhe agradeço a singularidade. E, claro, não deve pedir desculpa coisíssima nenhuma por ter dito aquilo que disse e como o disse. Será bom até, para a saúde mental da Lusitânia, que o faça mais vezes. Ainda que depois se veja forçado a corrigir o tiro. Se mais políticos agissem com este estilo, talvez a opinião pública lhes prestasse uma maior atenção. A maioria deles, porém, simplesmente não é capaz de o fazer. Ou então vive de mãos atadas e de língua presa.

                  Atualidade, Opinião

                  Sobre os monumentos (4)

                  Salazar
                  Salazar em Santa Comba nos idos de 70, decapitado e florido

                  Se a valorização positiva de determinados sinais é transitória, é-o também a sua negação. Muitas das vezes, a destruição dos velhos símbolos é posta em causa por sectores da sociedade a quem um determinado passado suscita um efeito de sedução. Pode então acontecer que determinados grupos – menos conformados com a ordem vigente, mais identificados com algumas causas – evidenciem uma vontade de recuperação dos monumentos destruídos. São formas de pensamento nostálgico que suscitam esse tipo de retorno, e a nostalgia pode afectar tanto as pessoas que viveram um dado passado como aquelas que o não viveram mas que aceitam, muitas das vezes sem qualquer intervenção da crítica, as imagens que dele lhes são oferecidas. O combate pela afirmação identitária – política, cultural, religiosa, étnica, geracional – determina então a vontade, mediada pela intervenção do simbólico, de um «regresso ao passado».

                    História, Olhares

                    Riso kafkiano

                    Conta John Banville, no seu livro sobre Praga, que quando Kafka começou a ler excertos de O Processo a um grupo de amigos, foi acometido de um tal ataque de riso, logo à primeira página, que acabou por desistir da leitura. Algo me terá escapado na história soturna de Joseph K.

                      Apontamentos, Devaneios

                      Vidros partidos

                      Rostock

                      Protestos como os de Rostock, contra a cimeira do G8 a decorrer na estância balnear de Heiligendamm, são sem dúvida perturbantes. Mas, de alguma forma, são também úteis e necessários. É difícil perceber o sentido que podem tomar, tal a heterogeneidade das correntes que se manifestam, das suas formas de organização, dos seus objectivos específicos, das suas (por vezes) estranhas cumplicidades. É difícil também aceitar sem problemas a violência extrema que encorajam, ou a presença inquietante dos grupos proto-terroristas que os penetram. Mas funcionam, na tradição de uma «rua europeia» ampliada pela caixa de ressonância dos media, como um sinal de resistência perante uma ordem política mundial incubadora de excluídos, aos quais apenas oferece vagas possibilidades de requalificação e a imprevisibilidade do amanhã. Importa, apesar de tudo, que ao conforto climatizado das salas da reunião, ou à quietude adormecida dos nosso lares, chegue, de vez em quando, o fragor de uns quantos vidros partidos.

                        Atualidade

                        Ver para respirar

                        Kapuscinski

                        Quando, em nome de uma «objectividade» asséptica ou de uma lógica de amanuense, a escrita jornalística foge a alta velocidade do compromisso e da emoção – esquecendo, ou ignorando, legados como os de Reed ou de Orwell – apetece-me recomendar, e sem reservas, a leitura de um livro de Ryszard Kapuscinski editado há cerca de dois anos pela Campo das Letras. O volume possui um título, O Império, que o aproxima das estantes áridas da ciência política, e foi precisamente numa delas que o encontrei.

                        Entre 1989 e 1991, o jornalista polaco-bielorusso fez uma série de viagens por uma União Soviética já moribunda. Recuperando a sua própria memória de textos mais antigos, e associando-lhe a observação arguta e sensível de um mundo a mover-se à sua frente em rápida espiral, Kapuscinski deambulou por territórios muito diversos, cuja efervescência a acção uniformizadora soviética apenas escondera. O resultado final foi uma obra próxima do soberbo, sobre um mundo imenso que desaba, por entre tremores de cólera e vestígios de esperança. Poucos jornalistas são capazes de captar, e de descrevê-lo com arte como Kapuscinski o faz, tantos e tão sucessivos instantes de um realismo intenso e de pura poesia. Como neste instante arménio: «Volto para o hotel. É uma tarde suave e cálida dos princípios de Outono. Multidões de pessoas passeiam. Estas ruas, esta cidade, exalam um ar benévolo. Num dos recantos, na maior escuridão, brilham umas brasas incandescentes. Junto a um forno de ferro está sentado um rapazinho. Prepara shashlik, o churrasco de carneiro. Os seus grandes olhos negros olham fixamente o fogo. O seu olhar fascinado, quase ausente, como que longe do lugar e do tempo.»

                          Olhares

                          Cinema noir-engagé

                          Film Noir

                          Segundo o Correio da Manhã, João Botelho está a preparar, em conjunto com a jornalista Leonor Pinhão, um filme que será uma adaptação livre do best-seller Eu, Carolina. De acordo com o realizador, o título provisório é Corrupção, «uma homenagem a Fritz Lang, que dirigiu Big Heat», e pode definir-se desde já como «um filme negro, ao estilo dos policiais americanos dos anos 40». Pinto da Costa e Carolina Salgado estarão, como será de calcular, no epicentro da trama. Conhecendo-se o «ultra-benfiquismo» do realizador e da sua mulher, é de esperar uma obra de cinema noir-engagé.

                            Apontamentos, Cinema, Devaneios

                            Música nocturna

                            Radio Head

                            Na década passada fiz muitas e longas viagens de condução nocturna tendo como banda sonora a música encantatória da Íntima Fracção e a voz poética, ocasional, do seu autor, Francisco Amaral. O programa, no ar desde 1984, andou pela Antena 1 e pela TSF, recebeu diversos prémios, perdeu o sinal nacional quando passou para a Rádio Universidade de Coimbra e a ESEC Rádio online, e regressa agora a todo o país na grelha de um renovado Rádio Clube Português. Mantém um blogue próprio, através do qual é possível fazer-se o download integral dos programas em formato mp3. Com esta versão podemos, aliás, viver a experiência rara de mergulhar na noite à luz do dia. Em directo, a Íntima Fracção passa todas as semanas de domingo para segunda-feira, entre a meia-noite e as duas da madrugada. Nem se pergunta se recomendo.

                            As frequências: Aveiro 94.4 – Beja 106.4 – Braga 92.9 – Coimbra 98.4 – Faro 106.1 – Leiria 96.4 – Lisboa 104.3 – Portalegre 106.7 – Portimão 107.1 – Porto 90.0 – Sabugal 94.8 – Santiago do Cacém 107.5 – Vila Real 97.4

                              Música, Novidades, Olhares

                              A sete chaves

                              O governo do Irão acaba de proibir os académicos do país, todos eles, de contactarem cidadãos estrangeiros. Os motivos invocados são explicados de um modo muito directo: «os nosso docentes estão expostos a ameaças de espionagem», diz uma fonte governamental, e além disso «qualquer cidadão estrangeiro que estabeleça contactos não é de confiança». A paranóia instalada como eixo da razão de Estado não é uma experiência nova. Há mais disso por aí. Mas as lições do passado recente não deveriam ter caído assim tão facilmente no esquecimento.

                                Apontamentos, Atualidade