Ao passar por um dos meus artigos académicos iniciais, publicado em 1982, deparei com a referência a um segundo volume de um título cujo primeiro tomo citei, indicando-o como estando «no prelo». Isto é, em fase de impressão tipográfica. Era ainda uma prática muito usual, a de fazer sair obras em dois volumes indicando que o segundo se encontrava nessas condições. Num grande número de vezes, porém, nem isso era verdadeiro: tratava-se apenas de uma intenção jamais cumprida. Costume também era alguém indicar um título seu, fosse de livro ou de artigo, que considerara a hipótese de publicar, como estando no tal inexistente «prelo». Tratava-se de uma forma artificial – talvez melhor: fraudulenta – de ampliar currículos pequenos ou inexistentes.
Como resultado, muitas vezes alguns investigadores andavam semanas, meses ou anos à procura do tal título, ou volume, que acreditavam escrito, mas inexistente. Devo ter gasto várias meias-solas a fazê-lo. O caso mais extremo passou-se com o título de uma obra dessas, supostamente publicada em Salamanca no século XVII. Andei anos à cata dela, cheguei a fazer um périplo por bibliotecas espanholas em sua demanda, até que concluí jamais ter sido publicada. A cereja no topo do bolo: ainda assim, livros posteriores diversos, incluindo um dicionário bibliográfico, referiram a sua existência e até resumiram o seu conteúdo, a partir de uma possibilidade apenas deixada no ar pelo desejado autor. Acredito que alguns dos meus cabelos brancos se deveram a ele…