O meu 11 de março: uma memória

11 de março de 1975, data sobre a qual se completam hoje 48 anos, corresponde, como sabe quem na época já tinha razoável tempo de vida ou quem estudou alguma coisa sobre a a nossa história recente, ao dia no qual, iniciada e gorada a tentativa de golpe de Estado de direita que tinha António de Spínola como «cabeça de cartaz», a revolução portuguesa se radicalizou. Superando anteriores hesitações, passou-se então à ocupação de muitas empresas e propriedades rurais, bem como a um processo acelerado de nacionalizações, incluindo a da banca. Dando-se também início a uma fase da revolução na qual o socialismo foi definido como meta por quase todos os partidos democráticos. Ao ponto de a nova Constituição a ter integrado logo no artigo 2º.

Nesse dia atribulado estava em Lisboa, em trânsito, de partida para Luanda. Após regressar da clandestinidade, tinha-me apresentado semanas antes na unidade do exército da qual tinha desertado e sido escalado para, em regime de rendição individual, ir até capital de Angola substituir alguém que tinha desaparecido de um regimento. Curiosamente, quando cheguei ao meu quartel luandino descobri que o sujeito que tinha desaparecido e cujo lugar ia ocupar tinha sido… eu próprio. Importa lembrar que a meio desse dia voei para o lado de baixo do Equador e fui viver um intensíssimo PREC na cidade à qual, em 1576, Paulo Dias de Novaes chamara «de São Paulo da Assunção de Loanda». E ali me mantive até 9 de novembro, dois dias antes da independência.

[originalmente no Facebook]

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