O exemplo histórico de Saint-Just

Apesar da juventude e do anonimato inicial, Louis Antoine de Saint-Just (1767-1794) foi uma das personalidades que na Revolução Francesa representaram um papel decisivo. Aliado de Maximilien de Robespierre, foi instrumental em 1792 para a votação pela Convenção da morte de Luís XVI e de Maria Antonieta, tornando-se no ano seguinte, após eleição para o Comité de Salvação Pública, um dos defensores mais extremos e implacáveis da autodesignada política do Terror. Esta visava a eliminação física de todos aqueles que o Comité considerava «inimigos da Revolução», sem atender minimamente ao percurso político de apoio ao derrube da monarquia e ao combate à contrarrevolução que muitos dos condenados pouco antes tinham mostrado, não permitindo sequer que se defendessem, como aconteceu com Georges Danton, Camille Desmoulins e Jacques Hébert.

Saint-Just pautou a sua curta e intensíssima atividade revolucionária – apoiada numa capacidade retórica ao mesmo tempo exaltada e convincente – por uma absoluta intransigência contra todos os que procurassem estabelecer quaisquer consensos entre grupos e fações. Chegou mesmo a escrever que quem se mostrasse indiferente às decisões de governo impostas pelo referido Comité deveria ser considerado culpado de se opor à Revolução, merecendo por isso a morte, e desconsiderando a possibilidade de num processo político associado à luta pelo poder existirem pessoas inocentes. O seu exemplo viria a ser recuperado como modelo em algumas das revoluções e dos regimes mais sangrentos do século XX, sobretudo naqueles em que toda a divergência foi considerada crime, e a execução, por vezes em massa, apresentada como medida profilática considerada de natureza «revolucionária».

Viria a acabar, com apenas 26 anos, pelo mesmo processo que defendera para dezenas de milhares de pessoas, defensoras reais ou imaginárias do Antigo Regime, ou indefetíveis e esforçados revolucionários que se atreveram a discordar por pouco que fosse do Comité de Salvação: sem direito a defesa, de forma pública na Praça da Revolução (em 1795 paradoxalmente rebatizada «da Concórdia») e pelo efeito da lâmina afiada da guilhotina. Da sua intervenção resultou sobretudo o rastro de sangue que transporta a designação, para si criada na época e ainda hoje conservada em muitos livros de história, de «Arcanjo da Revolução», ou «Arcanjo do Terror».

O retrato de Sain-Just é presumivelmente da autoria de Pierre-Paul Prud’hon
    Biografias, Democracia, Direitos Humanos, História.