Nos 75 anos da vitória dos Aliados

Quando nas aulas de história contemporânea falo da Segunda Guerra Mundial costumo referir sempre estes dados – referentes ao número e à percentagem de mortos sofridos nos Estados diretamente envolvidos – com o objetivo de diluir alguns mitos. É raro os alunos não ficarem surpreendidos. Através deles pode constatar-se a brutal mortandade provocada na antiga União Soviética e na Polónia pelas tropas nazis (o caso da China relaciona-se sobretudo com a intervenção japonesa). Pode também ver-se como a população da Alemanha acabou, sobretudo nos dois últimos anos do conflito, por sofrer idêntico destino, em boa parte determinado pela intervenção, a oeste e a leste, dos exércitos e sobretudo da força aérea dos Aliados, que devastou muitas cidades alemãs, algumas delas de forma arrasadora.

O esforço não se destina, naturalmente, a desvalorizar as perdas sofridas em França, na Grã-.Bretanha ou mesmo na Itália, mas apenas a repor a verdade dos factos. Como – essa é uma outra questão – o sofrimento do povo soviético e o papel crucial na derrota dos nazis desempenhado pelo Exército Vermelho não pode apagar, num processo hoje pacificamente aceite pelos historiadores, o que aconteceu de negativo com a intervenção de Estaline na fase inicial (desde o Pacto Molotov-Ribbentrop de paz e colaboração, assinado em Agosto de 1939 com a Alemanha, à destruição de grande parte da estrutura de comando do exército soviético no contexto da Grande Purga de 1936-1938). Este é outro lado da história, que não pode ser esquecido. Aquele que estamos agora a recordar e a celebrar é, todavia, o da grande vitória sobre a besta nazi.

    Democracia, Etc., História, Memória.