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O regresso de Iuri

Quem me acompanhou num blogue anterior – Sous les Pavés, la Plage!, precocemente finado há cinco anos  quando tanto prometia – recordará a participação de Iuri Bradacek (ou Bradáček), um imigrante eslovaco natural de Brno, antigo diplomata da República Socialista da Checoslováquia, que escrevia sobre aquilo que bem lhe apetecia e animava sempre os jantares de grupo. Fechado o blogue, perdi o rastro do Iuri, que reencontrei casualmente na semana passada. Conversa em dia, perguntei-lhe se não teria vontade de participar de vez em quando n’A Terceira Noite. Surpreendentemente, disse logo que sim. Fechado o negócio, e enquanto não recebo os primeiros textos, recupero alguns dos melhores posts por ele publicados em SLPLP. Dois vão já a seguir, com a autorização do autor. As imagens são (e serão quase sempre) escolhidas por mim.

    Novidades

    A estrela de cinco pontas

    [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=zANxbdvy-D4[/youtube]

    «Um debate sobre os significados da revolução de Outubro deve ser aberto, descomprometido e informado, não a afirmação de um credo». É já possível ler no blogue da editora Angelus Novus a segunda e última parte da entrevista que me foi feita a propósito do lançamento do livro Outubro. A primeira parte pode ser seguida numa outra página do mesmo blogue. Aqui fica também o 2º clip de promoção.

      Novidades

      Outubro em breve

      Outubro de 1917

      A série Outubro, sobre a sequência, a apoteose e o impacto mundial da Revolução de 1917, que aqui foi publicada em dez episódios entre 2007 e 2008, sairá em breve em livro homónimo numa versão bastante revista e um pouco aumentada. A edição será da Angelus Novus. Serão divulgadas mais informações sobre o livro durante a 2a. quinzena de Abril. Entretanto os posts originais deixaram de estar disponíveis.

        História, Novidades

        Delito no ar

        Não sei qual a gavetinha na qual vai ser metido o novo blogue Delito de Opinião. Sei que integra algumas pessoas que me habituei a apreciar pelo rigor da escrita, a capacidade de afirmarem convicções e a frontalidade da opinião. Mesmo quando delas possa discordar um pouco ou algo mais. A seguir, sem qualquer dúvida.

          Novidades, Oficina

          Livros e mais livros

          Image Hosted by ImageShack.us

          São numerosos os blogues portugueses que falam habitualmente de livros, mas poucos os que se ocupam sobretudo dos livros. E menos ainda aqueles que procuram acompanhar de perto a actividade editorial, oferecendo com regularidade, para além de artigos sobre outros assuntos, leituras críticas actualizadas e consistentes. Nesta altura, talvez só o Da Literatura, animado por Eduardo Pitta e João Paulo Sousa, e em parte A Origem das Espécies, de Francisco José Viegas, o tenham vindo a fazer sem quebras aparentes. Chega agora, porém, o Bibliotecário de Babel, da iniciativa do jornalista, crítico e «veterano da blogosfera» José Mário Silva (um dos animadores do saudoso Blog de Esquerda, que fechou sem deixar substituto à altura). Além das notas críticas regulares e de alguns apontamentos avulsos, o José Mário oferece também informação actualizada sobre o universo dos livros, dos escritores e da edição, colocando ao nosso dispor uma excelente ferramenta. Assim consiga, ao que parece inteiramente a solo, manter a energia com a qual arranca. Um único reparo para aspectos do grafismo – a dimensão das colunas, as cores em tonalidades light, as fontes escolhidas, em particular a usada na citação que encima a coluna da direita – que atenuam um pouco o prazer da leitura deste interessante (e, espera-se, brevemente babélico) Bibliotecário.

            Novidades

            Música nocturna

            Radio Head

            Na década passada fiz muitas e longas viagens de condução nocturna tendo como banda sonora a música encantatória da Íntima Fracção e a voz poética, ocasional, do seu autor, Francisco Amaral. O programa, no ar desde 1984, andou pela Antena 1 e pela TSF, recebeu diversos prémios, perdeu o sinal nacional quando passou para a Rádio Universidade de Coimbra e a ESEC Rádio online, e regressa agora a todo o país na grelha de um renovado Rádio Clube Português. Mantém um blogue próprio, através do qual é possível fazer-se o download integral dos programas em formato mp3. Com esta versão podemos, aliás, viver a experiência rara de mergulhar na noite à luz do dia. Em directo, a Íntima Fracção passa todas as semanas de domingo para segunda-feira, entre a meia-noite e as duas da madrugada. Nem se pergunta se recomendo.

            As frequências: Aveiro 94.4 – Beja 106.4 – Braga 92.9 – Coimbra 98.4 – Faro 106.1 – Leiria 96.4 – Lisboa 104.3 – Portalegre 106.7 – Portimão 107.1 – Porto 90.0 – Sabugal 94.8 – Santiago do Cacém 107.5 – Vila Real 97.4

              Música, Novidades, Olhares

              Auxiliar de memória

              Por teu livre pensamento

              Editado pela Assírio & Alvim, Por Teu Livre Pensamento é um livro que evoca os rostos e as memórias de prisão de 25 ex-presos políticos portugueses e que acompanha a exposição patente no Centro Português de Fotografia, no Porto, até ao próximo dia 24 de Junho. As fotografias a preto e branco, imagens recentes sobrepostas aquelas que a PIDE originalmente tirou, são de João Pina. Os textos, da autoria de Rui Daniel Galiza, são essencialmente curtos relatos dos trajectos prisionais dos fotografados, construídos a partir de conversas que se pressente terem sido mais longas e densas.

              Todos os fotobiografados são resistentes, oriundos de diversos quadrantes, embora maioritariamente do PCP, como seria de esperar e é justo que assim seja. Homens e mulheres de rostos endurecidos por anos de luta e de trabalho político, marcados pela prisão, pela tortura, por vidas em fuga que lhes foram gravando algumas das rugas que se lhes podem agora notar. Todos, sem excepção, a merecerem a admiração dos que chegaram depois e deles herdaram o sacrifício da liberdade. Os trajectos mais extraordinários são, porém, o de Emídio Guerreiro (que jamais foi comunista e cuja vida, para utilizar um lugar-comum, dava de facto um filme) e o de Edmundo Pedro (que declara ter sido afastado do partido contra sua vontade). Ambos contêm uma dimensão de imprevisibilidade, por vezes de capacidade para integrar a aventura, que nos permite adivinhar vidas particularmente únicas e complexas. Edmundo Pedro começou, aliás, a publicar entretanto a sua própria autobiografia, a qual prolonga as Memórias do seu pai, Gabriel Pedro, deixadas num documento único que o PCP, contra o desejo expresso do autor, terá sonegado ao conhecimento público.

              No conjunto, o volume funciona como um precioso auxiliar da memória, destacando o rosto e a experiência daquelas pessoas, apenas 25 entre muitos milhares possíveis, de modo a que elas jamais possam ser olhadas como um simples sample do imaginário contemporâneo.

              Originalmente em Passado/Presente

                Etc., História, Novidades

                Format C:

                Coreia do Norte

                «Aqui É o Paraíso! foi a frase mais ouvida, durante toda a sua infância, pelo pequeno Hyok (…). A rádio, os altifalantes nas ruas, os próprios professores, repetem-na à saciedade: fora da Coreia do Norte, a vida é um inferno; mas lá, graças ao Grande Líder cujo culto é obrigatório, tudo corre da melhor forma.»

                Os visitantes ocidentais mais honestos e descomprometidos têm mencionado o cenário catastrófico e a brutal repressão que se encontram instalados naquele lado do planeta. Os raríssimos testemunhos que nos chegam daqueles que conseguiram fugir e descobrir que, afinal, existia vida para além do silêncio, da servidão e do universo concentracionário, têm relatado, anos após uma custosa aprendizagem dos rudimentos da liberdade, o processo de formatação integral dos cidadãos norte-coreanos. É um testemunho desta natureza que surge em «Aqui É o Paraíso!». Uma infância na Coreia do Norte (Ulisseia), revelado pelo escritor e jornalista Philippe Grangereau a partir das conversas tidas em Seul com o jovem Hyok Kang. Que carrega consigo um factor suplementar de sofrimento: quando o convidam para ir a escolas falar sobre a sua experiência às crianças sul-coreanas, elas não acreditam nele.

                  Apontamentos, Novidades

                  Sinopse de fantasia

                  Sherlock

                  A educação das novas gerações não se faz apenas por intermédio da aquisição teórica de conhecimentos – nomes, episódios, proclamações – inscritos numa tradição de objectividade. Parte importante da construção das identidades pessoais e colectivas é também criada pela incorporação de arquétipos e valores obtidos através da integração da fantasia como legado, provenha ela dos mitos clássicos, dos textos sagrados ou da tradição literária. Esta foi definindo um corpo móvel de criaturas que deve ser protegido.

                  Parte desta preservação inclui muitos dos modelos individuais incorporados na infância e na adolescência por diversas gerações e que vivem actualmente um conjunto de rápidas e notáveis mudanças. Fernando Savater já em 1976 havia publicado A Infância Recuperada, um belo livro no qual procurou recuperar, através de um exercício de pesquisa autobiográfica, muitos autores então desprezados como «distracções juvenis» (Stevenson, Verne, Salgari, Conan Doyle, entre outros), por ele sublinhados como instrumentos fundadores de uma leitura prospectiva do mundo. Em 2004 voltou ao tema publicando Criaturas do Ar, agora editado em Portugal pela Ambar.

                  O livro inventaria um conjunto de personagens, que manual algum comporta, e que, tanto quanto muitas das figuras humanas dotadas de comprovada existência histórica, tendem a ausentar-se do nosso imaginário. Sob a forma de 31 monólogos, que coloca na boca dos heróis e dos vilãos que faz desfilar perante o leitor (incluindo no último a ficção dele próprio), o filósofo e escritor espanhol produz um roteiro por onde passam as (ainda?) ilustres figuras de Sherlock Holmes, Tarzan, Desdémona, Dulcineia, Drácula, Mr. Hyde, Pimpinela Escarlate, Sindbad, Peter Pan, Sam Spade, do Homem Invisível ou da Bela Adormecida. Na voz de cada uma delas, produz-se então uma narrativa que incorpora os seus principais traços e os aspectos decisivos das suas inventadas biografias, permitindo ao leitor reconhecer, ou encontrar, a essência de alguns dos mitos de origem literária que a cultura ocidental foi produzindo e cuja tradição se tem vindo a perder. No final, um apêndice («Quem é quem») descodifica o processo de construção de cada uma dessas personagens, ao mesmo tempo que indicia pistas de leitura para um entendimento mais completo da sua «vida e obra». O método não é novo, mas assume aqui um formato particularmente pedagógico: quem o desejar pode iniciar, quase aleatoriamente, um sem número de viagens, ou então regressar aquelas que deixou incompletas, algures em local escuso do seu passado pessoal.

                    Novidades

                    Música de intervenção

                    Ry Cooder

                    Laura Veirs

                    Parte significativa da música popular dos EUA oferece-nos aproximações a universos incompatíveis com os valores individualistas e conservadores que parecem omnipresentes no quotidiano do cidadão americano comum. Raramente panfletárias, elas indiciam uma diversidade que parece sempre conter indícios de mudança. Dois álbuns magníficos, acabados de sair, permitem-nos observar, ouvindo, esse lado minoritário, habitualmente desconsiderado, ou suavizado, pelos grandes media. My Name is Buddy, de Ry Cooder, conta uma viagem de ida e volta, no tempo e no espaço, até às origens da contemporaneidade americana, aqui situadas nos anos da Grande Depressão: «the days of labor, big bosses, farm failures, strikes, company cops, sundown towns, hobos, and trains». Já Laura Viers, fala-nos, em Saltbreakers, das suas preocupações com o agravamento dos problemas ambientais e perante a cegueira política com a qual todos os dias vai deparando no seu «país inconsciente». Um par de caixas-de-óculos recomendáveis e música da boa.

                      Música, Novidades

                      Phala

                      A Phala

                      Uma boa notícia o ressurgimento d’A Phala (1# 2007) que promete ser para manter. Formato novo, mais facilmente manipulável, num número que é em larga medida dedicado a Cesariny (incluindo fragmentos irrepetíveis de uma «autografia» e um original de Herberto Hélder). Mais um mesa-redonda e um conjunto de depoimentos notáveis sobre o tema jamais esgotável – e para sempre insolúvel – da tradução. E ainda dois textos, um de São Jerónimo e o outro de Benjamin, pronunciados a propósito do tema.

                        Novidades

                        A sete vozes

                        Anos Inquietos
                        Chega às livrarias um livro de entrevistas a activistas estudantis dos anos 60. Organizado pelo autor deste blogue e por Maria Manuela Cruzeiro, e editado pela Afrontamento, Anos Inquietos – Vozes do Movimento Estudantil em Coimbra (1961-1974) integra sete conversas com sete pessoas diferentes, com experiências diferentes, que permitem ampliar o olhar contemporâneo sobre uma época tantas vezes abordada a partir de ideias-feitas, de recordações filtradas ou de experiências contadas para legitimar um certo presente. Sendo também histórias de vida, estas entrevistas – a Eliana Gersão, Fernando Martinho, Carlos Baptista, Pio de Abreu, Fátima Saraiva, José Cavalheiro e Luís Januário – viajam um pouco pelo passado de cada um, pela imagem que dele preservam ou que sobre ele foram construindo, preenchendo, como documentos a confrontar com outros documentos, áreas da nossa história recente que têm permanecido na penumbra.

                          Novidades

                          Do andarilho

                          As botas de Johnny Cash
                          Emana uma beleza profunda de American V: A Hundred Highways, o álbum póstumo de Johnny Cash acabado de sair. Gravado à beira da morte do «homem de preto», e poucas semanas depois do desaparecimento da sua companheira June Carter, soa quase sempre desafinado, sem qualquer máscara, punjente, frágil como um sopro – mas um último sopro de vida – ao qual é impossível ficar indiferente. Porque Cash fala ali sobre o passado das estradas percorridas, dos quartos alugados, dos amores perdidos, da solidão: “I have been a rover, I have walked alone”. Mas sempre sem arrependimento.

                            Novidades, Olhares