Poucas horas após a estabilização dos resultados das autárquicas, aqui ficam algumas curtas notas, estritamente pessoais e necessariamente ainda impressivas e incompletas, a seu propósito. Foco-me nos seis partidos-chave do nosso atual sistema político, indo ao que me parece mais evidente.
– Obviamente, embora não se mostre esmagadora, a vitória global é do PSD, coligado ou não, que conseguiu contornar a habitual erosão de partido no poder e aproveitou alguns erros estratégicos graves da esquerda. Conseguiu também conter o crescimento da extrema-direita que exageradamente se previa grande, embora isto não garanta que escape a negociações pontuais «sem linhas vermelhas».
– O PS teve resultados bastante positivos, retomando o segundo lugar como partido nacional. Conquistou a maioria da capitais de distrito, superando o partido de extrema-direita em quase todos os concelhos. Foi prejudicado por a sua política de alianças não ter sido ainda mais ampla, em favor de algum «aparelhismo». Não foi por este motivo, obviamente, que não ganhou Lisboa, pois tentou que o PCP não concorresse sozinho.
– O Chega foi um dos dois grandes derrotados da noite, obtendo 3 câmaras quando prometia 30. Desceu a votação na larga maioria de concelhos e freguesias, em boa parte porque nas relações de proximidade se conhecem melhor as figuras que lhe dão rosto. O que não significa que a sua força seja de menosprezar, ou que vão deixar de fazer o que puderem para desestabilizar a gestão autárquica democrática.
– A Iniciativa Liberal mostrou como é, de facto, uma expressão acabada de «fogo fátuo» político, muito ajudada no plano nacional pela imprensa, mas realmente frágil e sem ideias próprias quando se aproxima do quotidiano dos cidadãos. Os escassos resultados aceitáveis que obteve foram, aliás, obtidos em coligação, sobretudo realizadas com o PSD e com o CDS (que pontualmente também renasceu das cinzas).
– O PCP foi o segundo grande derrotado. Recuperou duas câmaras, mas perdeu as mais importantes que detinha. E deu ainda a vitória à direita em Lisboa por recusar uma coligação que lhe foi proposta. Mais ainda: perdeu votos na generalidade do país, assumindo-se cada vez mais – apesar de trabalho de alguns autarcas e da presença nos sindicatos – como um partido de trincheira, nostálgico e confinado ao seu mundo.
– O Bloco de Esquerda manteve a posição política e estrategicamente vaga e inconsequente que o tem caraterizado nos anos mais recentes. Infelizmente, a meu ver. Mostrou-se contraditório na aceitação e na recusa de aproximações à esquerda, revelando também, uma vez mais, a sua frágil organização ao nível local e a sua perda de importância no território da visibilidade política mediática, bem como no espaço da opinião democrática livre e plural.
– Para o final fica o Livre, do qual sou membro. Apesar de resultados abaixo das expectativas, o partido cresceu e será importante em diversas autarquias, sozinho ou coligado, em especial na defesa das bandeiras com impacto na qualidade de vida, na mobilidade e na ecologia. Faltam-lhe visivelmente «figuras locais» e alguma independência, mas isto conquista-se. Destaca-se ainda a vitalidade que imprimiu a coligações eleitorais à esquerda, escolha na sua matriz que pautará o futuro próximo.