De mal a pior? As legislativas e os jovens

A partir de sondagens e estudos sobre o tema, não sendo a observação empírica desdenhável, é clara e consensual a maior tendência dos eleitores portugueses abaixo de 25 anos para votarem na direita ou mesmo na extrema-direita. Aliás, é esta uma disposição que ocorre num grande número de países europeus, possuindo múltiplas e complexas razões. Algumas das mais influentes serão a falta de memória histórica, o recuo das humanidades nos sistemas de ensino, o facilitismo que se instalou nos programas escolares, a prevalência da cultura do individualismo, a sobrevalorização do efémero ou a desresponsabilização familiar. Além do lugar crítico, detido sobretudo nesta faixa etária, das redes sociais e dos seus embustes, bem como o das angústias relativamente ao emprego, à progressão profissional e à estabilidade familiar. 

Tudo o mais vem por arrasto: a falta de empatia, a ignorância, o sexismo, o racismo, a adesão a forma de violência e de ódio, muitas vezes camuflados com justificações que os normalizam ao conferir-lhes, por estranho e contraditório que isso possa parecer, uma justificação «lúdica». Neste sentido, sinais tínhamos já há muito, entre nós, com a ampliação selvagem das praxes académicas entre jovens do ensino superior, e a banalização do culto da ofensa e da agressão nas claques do futebol. Umas e outras assentes numa valorização tribal do grupo, ou da horda, como fator de socialização e de valorização do indivíduo que contraria as dinâmicas solidárias e coletivistas do período que foi do pós-guerra aos anos oitenta. Existindo, felizmente, muitas pessoas jovens que são o oposto desta gente, elas deixaram de representar a maioria dominante.

As forças políticas democráticas têm obrigatoriamente de contar com esta realidade e de trabalhar todos os dias para invertê-la. Se o não fizerem, a situação irá de mal a pior.

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