O debate televisivo de ontem entre Catarina Martins, candidata do Bloco de Esquerda, e Jorge Pinto, apoiado pelo Livre, foi cordial e equilibrado, permitindo observar duas coisas fundamentais. A primeira é a de que é muito mais aquilo que aproxima o seu campo político – não diria o mesmo em relação ao PCP, bastante mais fechado e inamovível – do que aquilo que o separa. Tanto em termos de escolhas, quanto de sensibilidades e até de base cultural. A segunda é que existem, apesar disso, discordâncias que não são de somenos importância, principalmente tendo em conta os objetivos de uma campanha presidencial.
Embora não a única, a mais importante e notória na noite de ontem foi levantada logo no início por Jorge Pinto, e diz respeito à posição sobre a evolução da União Europeia e, embora de forma menor, refere-se também a urgentes questões sobre a paz e a guerra. Temas sobre os quais os dois partidos têm escolhas diferentes. Visíveis, principalmente, se olharmos para além das suas atuais posições de forma, e formos à sua prática ao longo do tempo.
O Livre é, de facto, um partido «europeísta crítico», que defende uma ideia de Europa mais forte e solidária contra os dois blocos imperiais que a ameaçam, incluindo nesta defesa a necessidade de uma política de defesa autónoma. Já o BE, sem o afirmar de forma transparente, desde há muito que desconfia de um Europa dos Estados, cingindo-se à dos trabalhadores, e tendo chegado – Jorge Pinto lembrou-o bem – ao ponto de manifestar alguma simpatia pelo exemplo «soberanista» do Brexit. Ou, no problema da Ucrânia, de ser contra a agressão russa colocando-a, todavia, praticamente no mesmo plano do auxílio militar europeu a Kiev.
São aspetos fundamentais de política internacional que merecem ser ponderados. Quanto ao problema real, e muito importante, atualmente colocado pela necessidade de a esquerda dividida não entregar esta eleição presidencial à direita, quase não foi referido no debate e também não o abordo aqui. Mas, fica prometido, a ele voltarei mais adiante.

