Significativo, embora nada surpreendente

A frase «Há algum partido mais distante do senhor Putin do que o PCP?», deixada ontem por António Filipe no debate televisivo das presidenciais com Jorge Pinto, é de uma acentuada hipocrisia sectária por diversos motivos. Desde logo, porque a suave denúncia de Putin pela direção do PCP começou meses após a invasão da Ucrânia, quando a generalidade dos seus militantes de base já o verbalizavam todos os dias como herói. Aliás, basta irmos a blogues e murais do Facebook de pessoas deste partido para observarmos como, no mínimo, nem uma palavra de denúncia da agressão militar e do poder ditatorial interno do atual inquilino do Kremlin se pode ainda hoje encontrar.

Mas é também hipócrita e sectária porque, no seu afã de não se querer confundir o sue partido com as outras forças políticas progressistas, seja interna ou externamente, desqualifica a forma como, corajosamente, a generalidade destas, e mesmo indo contra a sensibilidade de alguns dos seus membros ideologicamente mais rígidos (como acontece, por exemplo, dentro do BE), desde a primeira hora denunciaram sem rodeios a invasão da Ucrânia, os crimes nesta diariamente perpetrados pelos invasores russos e, antes ainda, a ditadura disfarçada – ou «democracia iliberal», como lhe chamou em 2014 o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán – que vigora atualmente na Rússia. Significativo, embora nada surpreendente.

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