A cartola foi um chapéu masculino de aba estreita e copa alta, usado durante décadas, na segunda metade do século XIX e inícios do seguinte, como um sinal de estatuto social e económico. Porém, cedo começou também a ser bastante caricaturada, seja pela propaganda anticapitalista, que nela via um símbolo da opressão, quer pelas formas de sátira social, que a chamavam de «chaminé» e nela viam, crescentemente, um sinal de estúpida sobranceria e uma marca de desigualdade tantas vezes de todo inadequada ao figurão, ou à figurinha, que a utilizava no parecer.
Foi já nesta fase de decadência que em Portugal a cartola foi recuperada pelas «praxes académicas» coimbrãs, sempre atentas, na pobre cabeça dos seus cultores, à necessidade de sobrelevar o estatuto do «doutor» por comparação com o miserável «futrica». Neste contexto, ela deixou de ser preta e, feita geralmente de cartão, passou a ter a cor da faculdade à qual pertencia o aluno, o mesmo ocorrendo com a bengala de bugiganga, supostamente de fidalgo, que a acompanha. Sinal, pois, de um imaginado ou real destaque social que se procura exibir.
Pois é esta cartola que, estilizada, feita de material durável e multiplicada, irá agora, por intervenção do presidente da Câmara Municipal de Coimbra, ser transformada em «obra de arte», cobrindo, ao que parece para deslumbrar os turistas, o topo da Rua Adelino Veiga – também conhecida por Rua do Eldorado, para lembrar a conhecida loja de modas já desaparecida – numa área nobre da cidade, entre a Praça do Comércio e a agora desativada Estação Nova. Um sinal de anacronismo «coimbrinha», de bacoquice e de mau-gosto infelizmente habitual por estes lados.