A quem serve a ideia de «crise social»?

Todos os índices oficiais conhecidos – sejam sobre o crescimento económico, a situação do desemprego, a segurança dos cidadãos ou os direitos humanos – apontam para que vivamos num país onde, mesmo que apenas à escala europeia, e num contexto global de grande incerteza, com algumas nuvens negras no horizonte, a vida da maioria das pessoas decorre num patamar positivo. Ou pelo menos tranquilo. Não que não existam desigualdades e injustiças, problemas nos serviços de saúde e na habitação, setores profissionais descontentes ou com problemas bem reais. Mas isto acontece como em todas as democracias e, muito pior do que nestas, em todas a ditaduras.

A ideia de que estamos mergulhados numa brutal «crise social», representa, por um lado, uma falsificação da realidade, enquanto, por outro, serve uma lógica de «maledicência eleitoral», da qual, a direita e a extrema-direita, com o apoio de boa parte da comunicação social, em particular o das televisões e de quase todos os seus comentadores de plantão, se serve para prometer mundos e fundos, e dessa forma tentar ganhar as eleições. Que partidos da esquerda à esquerda do PS, para além das suas legítimas propostas e salutares discordâncias em relação ao último governo, alinhem enfaticamente na mesma encenação atemorizante da grande «crise social», serve de facto a quem?

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