Dois princípios para dois meses

Ultrapassado o período do Natal e do novo ano, no qual boa parte das pessoas presta pouca atenção a tudo o que vai para além do seu círculo pessoal e familiar, entramos agora, aqui em Portugal, nos cerca de dois meses que nos vão levar às eleições legislativas antecipadas. Partilharei regularmente aqui o que me parecer poder ter algum interesse público. Para já, refiro apenas dois princípios sobre os quais tenho já poucas dúvidas.

O primeiro relaciona-se com o facto de, na generalidade dos países europeus, e em Portugal também, cada vez mais o combate principal nas eleições democráticas ser entre as forças que defendem o Estado Social e têm como preocupação central o bem-estar e as necessidades da larga maioria das pessoas, bem como o estreitamento das relações entre povos e nações, e aquelas outras, no território do neoliberalismo, que partindo da ficção segundo qual o desenvolvimento dos negócios gera necessariamente riqueza distribuível, desvalorizam as políticas solidárias, ao mesmo tempo que tendem a apoiar políticas de pendor autoritário e xenófobo. Entre nós, e no caso concreto, este combate traduz-se no enfrentamento entre PS e PSD, os únicos partidos que nesta altura têm efetiva possibilidade de formar ou de dirigir governo através de maiorias parlamentares.

O segundo princípio tem a ver com o papel das forças partidárias que, pelo menos a curto e a médio prazo, não serão eixo de governos. Na Europa do norte, há muito que e boa parte delas combina as suas escolhas próprias com uma margem de propostas que contêm já a possibilidade de serem parte de uma maioria capaz de governar. Todavia, entre nós, seja à direita do PSD ou à esquerda do PS, essa dimensão não está presente em todas as forças que se apresentam a votos. No caso da extrema-direita, as propostas assentam no ódio à igualdade e à solidariedade. Diversamente, no caso de boa parte da «esquerda à esquerda», assente quase exclusivamente na reivindicação e no protesto, esta tende a desconsiderar as alianças políticas. As únicas que em democracia geraram estabilidade e contrariam, como sabemos de experiência própria, a sempre perigosa emergência das maiorias absolutas.

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