O país de Novembro

Afirma o arquiteto e designer francês Philippe Starck, em entrevista saída no diário Público: «Portugal é o último país do mundo onde encontro os valores que acredito que todos devemos conhecer. E que nós, franceses, tivemos há um, quase dois séculos, penso, e que são de uma humanidade profunda, de respeito, de profunda afeição, uma grande capacidade amorosa e diversa, um grande cuidado com o outro. É o último país com valores humanos.» É claro que esta é uma afirmação subjetiva e parcial, por certo aplicável deste modo a vários outros lugares do mundo. Todavia, é verdade que, ao longo das últimas décadas, entre nós se desenvolveu uma cultura maioritariamente de afabilidade e de tolerância que foi herdada, sem dúvida, não dos supostos «brandos costumes» inventados pelo salazarismo, mas dos valores de solidariedade e de humanidade emanados de Abril, e que, mesmo muitos daqueles que formalmente se lhes opunham, acabavam por partilhar. Suspeito que, por via da chegada e instalação da cultura global do ódio, estejamos no fim desse ciclo. O país de Abril a dar lugar a um país de Novembro que não se distingue dos outros.
[originalmente no Facebook]

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