Palestina, Israel e a necessária moderação

Sobre os terríveis acontecimentos e o cenário de guerra e destruição agora ampliados em Gaza e Israel, cito dois historiadores progressistas israelitas que se lhes acabam de referir. Enquanto para Alon Pauker, «os extremistas, tanto em Israel como em Gaza, alimentam-se uns dos outros e não se preocupam com as vidas das pessoas», para Eli Barnavi «o ataque do Hamas resulta da combinação entre uma organização fanática islamita e a política idiota de Israel.». Estamos, obviamente, perante pessoas moderadas, de uma espécie, se não em vias de extinção, pelo menos com grandes dificuldades de afirmação em Israel. O mesmo acontece, aliás, do lado árabe, onde as palavras sensatas de quem apela à solução política e partilhada do conflito como a única que pode evitar a continuação da opressão e do sofrimento do povo palestiniano são igualmente raras e carecem de grande coragem por parte de quem as profere, considerando a força e os métodos da intolerância, do islamismo radical e do jihadismo.

Mas dado também o posicionamento de parte muito significativa dos apoiantes externos da causa palestiniana, para os quais a solução apenas pode chegar pela via das armas, impondo o apagamento de Israel e do povo judeu do mapa da região. Esta escolha advém de três posições, muitas vezes combinadas. A primeira baseia-se na falta de conhecimento, ignorando os direitos históricos do povo judeu – muito anteriores à independência de 1948 – e os objetivos em boa parte progressistas dos seus governos iniciais, confundidos com a iniquidade de vários governos de Israel. Um Estado hoje governado pela extrema-direita e por religiosos ortodoxos, sem dúvida, mas que integra um vasto número de pessoas progressistas adeptas de uma solução negociada e partilhada para a Palestina. A segunda posição funda-se na incompreensão da complexidade política do quadro de potências e de forças dispostas na região, muitas de grande capacidade militar, que procuram projetar a sua influência estratégica colocando em primeiro lugar os seus interesses.

Já a terceira funda-se em dois pressupostos errados. O primeiro toma os lados palestiniano e israelita como uniformes, um materializando um inequívoco «bem», ainda que contenha adeptos de regimes tirânicos, e o outro um único «mal», se bem que neste ocorram contradições enormes. Sendo esta posição reforçada pela consideração como fonte externa do «mal» o imperialismo norte-americano, ignorando os interesses de potências como o Irão e a Rússia. Já o segundo pressuposto exclui a via da moderação e do entendimento, como acontece com as forças políticas – entre nós, o PCP acaba de fazê-lo – que na realidade aceitam o assassinato de inocentes e o incentivar do conflito pelo Hamas. Para este setores, que não consideram o diversidade e liberdade como componentes da felicidade dos povos, a morte de milhares de pessoas de ambos os lados é um mal necessário. O seu combate por uma «paz» assente na opressão e na guerra, e tendente a substituir uma injustiça por outra, ou uma tirania por outra, é pura demagogia. 

    Atualidade, Democracia, Direitos Humanos, Opinião.