Uma declaração de voto

Nestas eleições irei votar no Bloco de Esquerda. Entre 1999, ano da fundação, e 2011, colaborei muitas vezes com o Bloco e fui seu eleitor. Nesse ano afastei-me um tanto. Por dois motivos centrais: devido ao voto de desconfiança partilhado com o PCP e a direita que ingloriamente acabou por levar aos quatro anos do governo PSD-CDS; e porque me parecia possível e necessária uma aproximação a setores do PS já então disponíveis para a acolher. Devido a estas escolhas, nas eleições de 2015 participei na experiência de uma «candidatura cidadã» que visava estimular essa aproximação para derrotar a direita. O resultado dessa experiência foi inglório, mas o esforço de convergência viria depois a ocorrer sob a forma da Geringonça, com as conquistas, dificuldades e contradições que se conhecem.

O tempo passou, as condições mudaram. Algumas para melhor, outras nem por isso. No parlamento o Bloco, mostrou-se durante a legislatura cada vez mais indispensável para a recuperação de direitos retirados por Passos e para promover novas conquistas sociais e cívicas. Fora dele, foi estímulo e fator de muitas lutas e protestos necessários. Serviu também para em parte afastar o PS da sua tendência recorrente contemporizadora com o centro-direita. Regressei, pois, a uma condição de proximidade do Bloco – embora crítica, como é sempre qualquer proximidade que exerça – e considero neste momento que um grupo parlamentar do BE o mais amplo possível é muito necessário. Servindo também para impedir uma maioria absoluta do PS de ser atraída pelo íman do autoritarismo autista.

Por isso, e por ser muito importante para a democracia (assegurando a pluralidade e o equilíbrio na área do poder, combatendo os ímpetos da direita e dos setores sociais mais retrógrados, defendendo sempre a liberdade), para a igualdade (continuando a promover a visibilidade e os direitos de todos os grupos dentro de uma sociedade plural), para a justiça social (estimulando a recuperação material das famílias e combatendo as assimetrias), para a cultura (assegurando-lhe um lugar que não seja meramente decorativo ou instrumental) e para um desenvolvimento equilibrado do país (combinando interesses coletivos, a intervenção do Estado e o respeito pela iniciativa privada), a 6 de outubro irei votar com convicção no Bloco de Esquerda.

(Esta é apenas uma declaração pessoal. Não um texto argumentado para debater.)

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