Música e R E V O L U Ç Ã O

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Uma amiga criou no Facebook um grupo aberto chamado (Banda Sonora para) Uma R E V O L U Ç Ã O – assim mesmo, com espaço, para deixar a palavra respirar melhor – e inscreveu-me como membro. Ao contrário de Julius «Groucho» Henry, o meu Marx favorito, não tenho problemas em que me inscrevam como sócio de um grupo que me queira como tal, e por isso deixei-me ficar. Ocorreu ao final da tarde deste domingo, e poucos minutos depois a respectiva página continha dezenas de clips de canções de alguma forma conotadas com formas de intervenção cívica mediadas pela música popular. Poucas horas passadas, eram já centenas, com uma aparente tendência para o crescimento exponencial. Misturam-se os estilos, as línguas, as intenções, os slogans, os recados poéticos, pedaços de agitprop chegados de diferentes tempos, tudo unido pela ideia-fixa de que «a cantiga é uma arma». Combinam-se também os participantes, pessoas muito diferentes, de distintas gerações, percursos discordantes ou mesmo divergentes, perfis que por vezes parecem afastá-las. Mas é por isso mesmo, por causa desta diversidade, aproximada apenas por esse enorme sombreiro maternal que se chama (ainda) Esquerda, que não deixa de impressionar a coincidência de sensibilidades, de gostos e de memórias. Mesmo sem se simpatizar com a unidade à força – pessoalmente prefiro a ideia de proximidade na acção, que aceita e valoriza a diferença – dá para perceber de que forma, afinal, tantas vezes zangados dentro do seu próprio casulo sectário, tantos/as partilharam e continuam a partilhar devaneios semelhantes, indignações contíguas, um património musical, talvez uma noção imaterial de R E V O L U Ç Ã O, a ele unida, construída colectivamente como uma necessidade.  Se isto leva a alguma coisa, isso não sei. É assim e tenho a impressão que ainda bem.

    Atualidade, Música, Olhares.