Ver os mapas com os dois olhos

Anda a circular por aí, em particular nas redes sociais, um par de mapas onde se mostra o crescimento da presença da NATO na Europa ao longo das últimas décadas. Por eles se pode constatar o óbvio: já apenas a Rússia, a Bielorrússia e a Ucrânia – esta em tentiva de fuga a essa ligação – escapam, no espaço do continente, à pertença ou, pelo menos, à influência do tratado militar. O objetivo de quem divulga esses mapas é mostrar como a NATO está a cercar a Rússia e, por isso, como a reação do governo de Putin é no mínimo compreensível.

Todavia, podemos pôr a questão sob uma outra perspetiva, considerando que os países que ainda escapam a essa influência militar ocidental são, na Europa, justamente aqueles que vivem sob tiranias disfarçadas de democracias musculadas. Nos outros Estados, mesmo aqueles que são governados por maiorias autoritárias da direita populista, os regimes são de democracia representativa efetiva, com uma comunicação social razoavelmente plural e eleições regulares cuja legitimidade não tem sido colocada em causa.

Além disso, o novo mapa pode também ser completado por um outro, onde podem observar-se com idêntica clareza as crescentes áreas da influência russa na Eurásia, sempre apoiada em regimes ditatoriais e violentos, como acontece o caso da Síria, da atual Chechénia, da Abecásia e da Ossétia do Sul, e em parte do Azerbaijão, para além da já mencionada Bielorrússia. Para não falar da proximidade tática e diplomática russa com países como o Cazaquistão, o Afeganistão taliban, a Mongólia, a China, a Índia e a própria Coreia do Norte.

Neste domínio, tudo deve ser visto com os dois olhos, não apenas com um, e sempre sob uma perspetiva ao mesmo tempo histórica, geográfica e política. Além de que, para além da influência imperial geoestratégica de grandes potências como a Rússia e os EUA, no sopesar dos prós e dos contras as questões relacionadas com a democracia, a liberdade de opinião e os direitos humanos e das nações não podem ser subalternizadas ou esquecidas. Salvo por quem, na realidade, pouco se importa com estes temas.

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