25 de Abril, democracia e resistência

A polémica só é polémica em boa parte devido a alguns preconceitos e mal-entendidos. Não acuso todos os que se manifestam contra a cerimónia de celebração do 25 de Abril na Assembleia da República de serem estúpidos ou fascistas, como já vi fazer, até porque conheço muitas pessoas que o defendem e são democratas acima de qualquer suspeita, algumas delas até antigos e antigas resistentes. Penso que muitas estão mal informadas sobre o facto de a data ir ser comemorada na Assembleia num quadro de presenças e com uma coreografia necessariamente contidos, que serão idênticos aos que têm sido usados durante todas as sessões que tiveram lugar, como parte imprescindível do funcionamento da democracia, durante estas semanas de estado de emergência.

O que não deixo de notar é o aproveitamento do suposto «mau exemplo» estar a servir aos antidemocratas para insultarem os deputados, como se estes fossem uma corja de delinquentes ou um grupo de suicidas, e a cerimónia da celebração da democracia fosse data descartável, menos importante que uma sessão regular, como aquelas que têm acontecido, também em formato reduzido, ao longo destes dias. Basta uma visita rápida a muitos comentários escritos em sites e nas redes sociais para se ver onde alguns querem verdadeiramente chegar: ao combate irracional contra os setores do parlamento que mais firme e legitimamente têm defendido a cerimónia. Nem que seja apenas por isto, e assim como um gesto de resistência, mas também porque a democracia não se suspende, ele terá de ser cumprido.

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