
«Tristesse, beau visage», «Tristeza, belo rosto», é o derradeiro verso do poema «À peine défigurée», de Paul Éluard, que deu o mote para o título do romance Bonjour Tristesse, de Françoise Sagan, publicado em 1954 e adaptado ao cinema por Otto Preminger. Plasma-se nele um modo de estar hoje inexplicável para muitas pessoas, incluindo algumas que dela são devedoras, mas o foram esquecendo. No mundo das «selfies», para as quais se faz um esgar de efémera e simulada felicidade, não se compreende que para sucessivas gerações, pelo menos desde o Século das Luzes, a tristeza podia ser algo de belo e sedutor. Sobretudo quando não traduzia mágoa, mas o deleite e o empenho numa forma do viver construída contra os males do mundo e no combate pela felicidade possível. Essa espécie de tristeza podia conter seriedade, serenidade e bem-estar, sendo, lembro-me bem, julgada até particularmente «misteriosa» e atraente. Havendo sempre tempo para rir muito, é claro.
[Na fotografia, Albert Camus no final dos anos 40]