Comunicar: o digressivo contra o linear

Ao escrever ou ao falar, seja em público ou em privado, mas também ao ler e ao escutar os outros, sempre preferi o pensamento e a comunicação digressivos. Aqueles que se desviam frequentes vezes do tema principal, avançando até um assunto secundário, e integrando recorrentemente reflexões ou memórias pessoais, embora conservando sempre, para serem razoavelmente inteligíveis, a ligação temática fundamental. Assim foram também quase sempre as minhas aulas, tantas vezes, sem modéstia, oferecidas perante um número apreciável de alunos que dessa forma aprendiam e ao mesmo tempo se divertiam – os testemunhos positivos, felizmente, têm sido inúmeros ao longo do tempo -, embora reconheça que talvez exasperasse um tanto a minoria de «certinhos», «marrões» e criaturas menos ágeis no processo de compreensão.

Estes sempre preferiam (e bem sei que continuam a preferir) o oposto, traduzido na comunicação repetida de um pensamento linear, ou direto, que se mantém sempre no tema principal, seguindo uma lógica rígida, extremamente ordenada, alínea a alínea, sem jamais divagar. Sempre o considerei limitado, além de limitador da capacidade crítica, e, como aluno, aborreciam-me de morte aqueles professores que, em larguíssima maioria, dele exclusiva e previsivelmente se serviam. Claro que junto dos tais «certinhos» estes é que eram julgados «bons professores», mas, no que me diz respeito como recetor ou como comunicador, se tentasse ser o que não era teria sido sem dúvida muito infeliz, enquanto assim agi sem esforço, ensinei e também me diverti. Lá diz a sabedoria popular que «por isso o mundo se não vira».

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