Presidenciais: as hesitações do PS e uma urgência

O Partido Socialista teve uma prestação razoável nas autárquicas, afastando para já, espero que por muito tempo, o crescimento do Chega e o espectro de uma bipolarização partidária à direita. A boa prestação deveu-se em alguns casos, como em Coimbra, a um discurso positivo, diverso da arrogância de há não muito tempo, e à celebração de acordos políticos com outras forças de esquerda. No caso, o Livre, o PAN e os Cidadãos por Coimbra. Aliás, sem este acordo, e ao contrário do que já escutei nos «mentideros» da urbe, a vitória de Ana Abrunhosa não teria sido possível. Basta fazer as contas para o perceber. O que posso dizer é que ainda bem que assim foi, servindo a abertura para materializar uma mudança face ao marasmo, e para estabelecer laços entre setores progressistas que por vezes se encaravam com desconfiança. Pena foi apenas que a aproximação não tivesse ido mais longe, englobando o Bloco de Esquerda e, embora esta fosse uma possibilidade pelo próprio julgada contranatura, ainda o PCP.

A próxima etapa do calendário político será a preparação das eleições presidenciais, a ter lugar no próximo 18 de janeiro. Nestas, é notória a inexistência de um forte candidato nacional do campo progressista, estando a ser aberto caminho a figuras autoritárias, de direita ou mesmo de extrema-direita. Existem, é certo, as candidaturas do PCP e do BE, mas estas não têm quaisquer condições de agregar opinião e simpatia suficientes para obter um resultado que não se traduza num mero «picar o ponto». Para enegrecer o deprimente panorama do campo da esquerda, emerge agora a possibilidade do PS apoiar a figura baça, hesitante e, lamento dizê-lo, com o carisma, pessoal e ao nível do discurso, de um gato cinzento, que se dá pelo nome de António José Seguro. A materializar-se, esta possibilidade constituirá um enorme erro e será um passo atrás do PS na recuperação do seu reconhecimento público e do seu imprescindível papel político na vida da nossa democracia.

Não posso aceitar que o campo político da esquerda democrática não consiga apresentar na presidenciais alguém com um perfil razoavelmente consensual, dinâmico e com hipóteses de ser vencedor. Uma pobreza que dá que pensar e poderia levar quem, com estas qualidades, entretanto recusou avançar neste campo, a reconsiderar a sua decisão. Com urgência que «o tempo urge», como se costuma dizer.

Rui Bebiano

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