À exceção dos que tenho no meu mural do Facebook – e mesmo a estes só consigo seguir em parte – desde há muito que quase deixei de ler comentários em redes sociais e blogues. Tendo sido praticamente pioneiro da Internet em Portugal, mantive páginas que os permitiam entre 1995 e 2003, acabando com eles precisamente porque eram, em boa medida, cada vez mais tóxicos e ofensivos, para nada servindo. Nos jornais online faço a mesma coisa, até porque essa toxidade, como se sabe, tem vindo nos anos mais recentes a piorar exponencialmente.
Muito ocasionalmente, porém, em regra por distração ou curiosidade temática, lá deixo cair os olhos num desses espaços. Foi isto que aconteceu ontem num lugar onde se falava de saúde pública claramente tomado por pessoas de extrema-direita. Sendo gente que afasto radicalmente da vida diária, sei dela sobretudo pela comunicação social, mas observá-la «em ato» confere outra dimensão à sua estupidez, à sua ignorância e à sua ingratidão. Ler comentários de ódio a denegrir o Serviço Nacional de Saúde só pode mesmo ser coisa de pessoas que, para além de possuirem essas caraterísticas, nunca precisaram realmente da sua ajuda.
Criado formalmente em 1979 a partir de algumas experiências no pós-Abril, mesmo com as suas insuficiências pontuais, ele constitui, sem sombra de dúvida, uma das principais conquistas da democracia. Um serviço público, apoiado por tantos profissionais dedicados, que democratizou o direito à saúde e o tornou acessível a custos moderados ou nulos – como o não era, isto essas pessoas nem sabem, antes do 25 de Abril, ou, atualmente, na maioria dos países – a qualquer cidadão que dele precise. Numa dimensão de solidariedade que a direita, seja na vertente autoritária ou na neoliberal, visceralmente abomina «porque sim».