
Parte de uma notícia do Público a propósito de uma medida a ser preparada pelo nosso pudico governo. Seguida de comentário.
«A sexualidade poderá começar a escapar dos debates entre professores e alunos já no próximo ano lectivo, pelo menos na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, tal como indiciam os documentos orientadores da disciplina, que estão em consulta pública até ao dia 1 de Agosto. Mas, abandonando esta disciplina, onde é que a sexualidade pode ser ensinada? Deixará a educação sexual de ter um espaço no percurso escolar dos diferentes alunos? A resposta imediata é não, mas assumindo, como lembra (…) o presidente da Direcção Associação Nacional de Dirigentes Escolares, que, “em termos curriculares, a sexualidade é trabalhada de forma meramente científica, na perspectiva dos órgãos e do funcionamento dos órgãos”, muitas dimensões fundamentais na educação dos jovens para a sexualidade caem por terra. “A sexualidade extravasa em muito a biologia”, lembra o representante dos directores. Sem ela, “os miúdos usam muito menos preservativos e ficam mais desprotegidos”, critica Margarida Gaspar de Matos.»
Que tem isto a ver com o título deste apontamento? Bem, pelos anos 60/70 alguns pais de leituras tinham na biblioteca, bem escondido dos seus curiosos rebentos na segunda fila da estante mais alta, o livro A Nossa Vida Sexual, da autoria do médico ginecologista alemão Fritz Kahn (1888-1968), publicado inicialmente em 1939. Nele se ensinava a sexualidade humana de um ponto de vista estritamente anatómico. E até nas gravuras que precisavam mesmo de mostrar corpos nus se tinha o cuidado de retirar os órgãos sexuais, ficando o seu espaço completamente em branco. Ainda assim, como a sexualidade se ensinava parcimoniosamente em casa às meninas ou maliciosamente entre grupos de rapazes, jamais dela se falando de forma natural, e muito menos ensinando-a, o livro constituía um apetitoso interdito, sendo muito procurado. Quando pude, armado em parolo, ainda adquiri um. Isto porque já não consegui encontrar A Vida Sexual, de Egas Moniz, publicado em 1901 e vendido nas farmácias apenas com receita médica, que teve 19 edições até ser proibido, em 1933, pelo Estado Novo.
A história também anda para trás.