Lamento ter de ser cru e objetivo, mas em certos momentos a realidade deve sobrepor-se à fantasia. Para um grande número de eleitores a insistência nas ilegalidades e na ausência de ética do primeiro-ministro são irrelevantes, pois consideram-nas prova de uma «chico-espertice» que encaram como qualidade e gostariam de replicar nas suas vidas. Aliás, é esta atitude que tem eleito e reeleito muitos autarcas, enquadrados na conhecida categoria popular do «rouba, mas faz». Também pouco importa a estas pessoas a baixa qualidade e o perfil rasca, ou mesmo criminoso, de tantos militantes do Chega, pois é por isso mesmo que os encaram como seus representantes.
Claro que existe, felizmente, um bom número de cidadãos e de cidadãs que não pensa desta forma, mas estes encontram-se entre os que não votam naquela gente. Por isso, em tempo de eleições, as forças da democracia e do progresso deveriam preocupar-se bem mais em fixar o seu eleitorado e em apelar aos distraídos, que, em vão, procurar conquistar aquele que está perdido. Talvez com a mudança dos ventos parte dele – associado também a pessoas ingénuas e desinformadas – possa vir a alterar a sua atitude perante o ato de votar, mas não será este o momento. É triste reconhecer isto? Claro que é, mas, repito, em certos momentos a realidade deve mesmo sobrepor-se à fantasia.