Contra o abuso do «voto útil»

Em tempo de campanha para as eleições legislativas, escutamos de novo apelos ao «voto útil», normalmente realizados pelos partidos que sabem poder vir a governar e entendem que precisam de uma maioria exclusiva para o poderem fazer. Na verdade, este apelo, assente na lógica do «mal menor», desfigura a democracia, tendendo a enfraquecer os restantes partidos, no nosso sistema eleitoral já muitíssimo prejudicados pela inexistência de um círculo nacional a juntar aos demais. Sem este, aliás, ocorre sempre uma perda muito significativa de votos de eleitores, deste modo não representados no parlamento.

É certo que em situações dramáticas e muito extremadas, quando a própria democracia esteja em causa, a concentração de votos pode ser necessária, tal como o será a composição de alianças muito abrangentes. Mas neste momento não é este o caso em Portugal, onde as maiorias podem ser alcançadas através de acordos parlamentares ou de governo pós-eleitorais. Por este motivo, tanto quanto possível, quem vota deverá escolher o projeto e os rostos dos quais se sinta mais próximo, não abstratas maiorias monopartidárias, que, pelos desequilíbrios que proporcionam, já vimos trazerem muitos problemas consigo.

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