A responsabilidade da Samsung

Volto ao caso público do vídeo da Samsung que se tornou viral e inflamou uma parte do país nas últimas 24 horas. Em verdade digo, a quem nunca teve desejos fúteis e fetiches por objetos, que atire a primeira pedra à jovem Filipa «Pépa» Xavier por esta ter revelado como maior desejo para 2013 a aquisição de uma mala. Não uma mala qualquer, claro, mas uma daquelas pretas da Chanel, modelo Timeless Classic, que, para além de medonha (gostos não se discutem) e pouco prática, ascende a um custo, consoante o tamanho, que ronda entre os 2990 e os 3750 euros. Se volto a este episódio completamente banal é por me parecer terem os jornalistas e comentadores que o abordaram interpretado a partir do lado errado a onda de gozo e indignação que rapidamente o envolveu. Não, estão enganados, aquilo que caiu mal a muitas pessoas não foi o facto de a moça ter uma certa «gana de mala», que a própria, aliás, reconheceu logo como algo consumista. Nem sequer o ter proclamado publicamente tal raça de apetite num tempo em que a maioria dos portugueses faz contas, ou começa a fazê-las, ao dinheiro para pagar as necessidades mais elementares. Caiu mal e tornou-se confrangedor, sem dúvida, aquela exibição obscena, pretensamente estilosa, de tolice e de falsa politesse, mas o que aconteceu de realmente grave tem passado ao lado dos comentários. Apesar de ser tão simples detetá-lo. Grave e inaceitável foi antes, foi mesmo, o facto de uma empresa como a Samsung apresentar como modelo de um certo charme e como instrumento de apelo à compra dos seus produtos a exibição despudorada de uma total ausência de sensibilidade social.

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