Equívoco

equívoco

Vai por aí grande alarido por causa da moção de censura ao governo que o Bloco de Esquerda irá apresentar dentro de um mês, a 10 de Março. Não vou insistir no que outros já disseram sobre os seus incontornáveis efeitos: se ela for aprovada o país cairá de mão-beijada nas mãos do PSD de Coelho; se não o for, Sócrates e o seu PS ganharão um fôlego mais. Em ambos os casos tratar-se-á de um gesto arriscado e aparatoso que serve mais o circo do que o pão. Quer isto dizer, e é isto que me parece importante, que a direcção do Bloco, continuando a centrar a sua iniciativa nas cartadas parlamentares, se foca no acessório secundarizando o essencial. Isto é, aposta mais no ruído mediático à volta da sua posição formal do que na edificação de um movimento de massas capaz de fazer perceber ao governo, aos partidos do poder e a quem do lado de cá e de lá dos Pirenéus gere o nosso futuro, que há ira nas pessoas, que mora nelas a vontade de trocarem as voltas ao destino, e que não se deve brincar com estes sentimentos. Sem menosprezo da actividade parlamentar, parte fulcral da vida democrática, estamos numa fase em que o protesto e a construção social e cultural da alternativa são muito mais úteis e necessários do que uns quantos discursos de dedo em riste. Para a vida presente e futura dos cidadãos e até para o seu estado de espírito. O Bloco é um instrumento de esperança e não deve esbanjar esse capital.

Post-sciptum – Entretanto a direcção do BE esclareceu a sua posição sobre os objectivos da moção, apontando-a «contra a direita e contra quem governa com políticas de direita». É um redireccionamento positivo, mas as consequências práticas e a questão de fundo que este post levanta permanecem intocáveis.

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