Kindlemania (1)

Foi você que pediu um Kindle?

Depois de algumas incertezas, de sondar dezenas de sites e de pedir a opinião de uns quantos utilizadores com quem espero não ter de me incompatibilizar, deixei domingo passado na Amazon a nota de encomenda da última versão do Kindle, o leitor de e-books. Sou e manter-me-ei um amante crónico e um tanto depravado dos livros em papel. Tenho bem para cima de seis milhares e não há semana em que não me entrem em casa uns quantos mais. Mais até do que aqueles que consigo ler. Mas a falta de espaço, a obrigatoriedade da redução de custos, a necessidade de aceder «na hora» a determinadas obras, a hipótese de poder meter 3.500 volumes num prato da balança e 247 gramas de contrapeso no outro, fez com que me decidisse. Ao mesmo tempo, se é verdade que gosto muito de livros, é verdade também que gosto acima de tudo da leitura, e esta é uma experiência, este é um campo, que vive um tempo de rápida mutação de processos e de paradigma. Não sinto que tenha a obrigação de participar dela, mas apetece-me acompanhar o que acontece. Mantendo uma vida dupla, evidentemente.

Como sei que algumas das pessoas que se dão ao trabalho de passarem habitualmente por este blogue partilham ou podem vir a partilhar da mesma dúvida que antecedeu a minha decisão, resolvi deixar aqui algumas notas sobre as primeiras experiências que for tendo com o novo brinquedo que – recebi agora mesmo um mail de confirmação do envio – vem já a caminho. Prometo, com a mão que quiserem sobre o livro sagrado que escolherem – formatado em papiro, pergaminho, papel, bits ou e-ink – que a respeito do tema apenas direi a verdade e nada mais do que a verdade. Entretanto, enquanto vou esperando que me bata à porta o estafeta da DHL que trará a encomenda, adianto as razões que fizeram com que eu tenha escolhido esta máquina e não uma outra.

Para não me perder por atalhos escusados e em pormenores que apenas interessam a geeks, começo por responder à pergunta inevitável: porquê o Kindle e não o iPad, a máquina da Apple que aparece na capa de todas as revistas e suplementos, concorrendo com Cavaco Silva, Jon Stewart e a Lady Gaga. Directo ao essencial: 1) Um, o Kindle, destina-se apenas à leitura silenciosa, privada, que é aquela que procuro; o outro associa-lhe o e-mail, a música, o browser e milhares de aplicações que a todo o instante desviam a atenção (para isso tenho o iPod, o iPhone, o netbook e o tradicional desktop…); 2) Um tem uma tecnologia de escrita e leitura (a e-ink) que me asseguram cansar menos até do que o papel, o que não se passa com o iPad; 3) Um pode ser lido ao sol (parece que até se lê melhor com mais luz), enquanto o outro reflecte a nossa cara se lhe bate uma luz mais forte; 4) Um quase não consome energia, precisando a bateria de uma única carga mensal, o outro aguenta-se, no máximo, dois dias; 5) Um dispõe de um volume de oferta, em número e qualidade dos títulos disponíveis para compra ou descarga grátis, incomparavelmente superior ao outro; 6) Um, o Kindle topo de gama (3G e Wi-Fi), custou-me cerca de 200 Euros, incluindo os portes a partir dos Estados Unidos, o IVA, a taxa de desalfandegação (tratada pela própria Amazon) e uma capa de protecção em pele, enquanto pelo iPad, também topo de gama, pagaria no mínimo cinco vezes mais. Claro que para outras actividades ambulantes o iPad é superior: tem um ecrã maior e a cores (o do Kindle é em 16 tons de cinzento), em breve será multitarefas e nem sequer lhe falta falar. No entanto, para o que me interessa neste particular, prefiro um e-book solícito, sossegadinho e ultra-portátil.

Agora há que esperar para ver se arranjei mais uma maneira de alimentar o vício, ou, pelo contrário, se enfiei um enorme barrete. Mas depois de tanta consulta, de tanta pergunta feita e respondida, de tanta ponderação, muito mau seria para a minha auto-estima e para a minha carteira se tal acontecesse. I cross my fingers.

Adenda às 18H45 do dia 9, Terça-Feira – Fiz a encomenda no domingo à noite e a DHL acaba de me telefonar para comunicar que amanhã, durante a manhã, ela me será entregue. Cincinnatti (Ohio) – Louisville (Kentucky) – Colónia – Porto – Coimbra em pouco mais de 48 horas. A Amazon não brinca em serviço. |  Adenda às 09H23 do dia 10, Quarta-Feira – Já chegou.

[continua]

    Cibercultura, Olhares.