Uma perspectiva optimista

América

O antiamericanismo de diferentes matizes e intensidades nasce de uma observação da América fundada em juízos muitas vezes simplistas ou extremados, mais próximos do dogma e dependentes de ódios acidentais do que de uma apreciação completa e fundamentada da múltipla realidade americana, da história dos Estados Unidos ou do papel e do lugar simbólico que estes ocupam no mundo. Tendo como ponto de partida uma série documental gravada em 2008 para a BBC-2, O Futuro da América, de Simon Schama parte de um objectivo ambicioso e declarado – produzir um antídoto capaz de combater essa rejeição – que só em parte é alcançado. Não há dúvida, porém, de que o leitor honesto menos conhecedor da realidade americana ficará, ao fim destas centenas de páginas, com uma percepção clara de que o núcleo de tanta rejeição é complexo, não possuindo obrigatoriamente um sentido unívoco. O volume organiza-se a partir de quatro vectores que Schama identifica: a guerra, o fervor, a etnicidade e a abundância. O primeiro define a beligerância como factor constitutivo da existência da América, mas nota que a busca de uma «paz perpétua» também o é: nos anos 1790, o debate entre Hamilton e Jefferson a propósito do federalismo teria lançado as bases de um combate, ainda inacabado, opondo uma política intervencionista a uma outra, voltada para a cooperação. O segundo assenta no papel das convicções, incluindo-se nestas as de natureza religiosa, na construção de um «sentido de missão» inerente a todos os grandes projectos políticos americanos. O terceiro sublinha a complexidade étnica na qual, desde os tempos da independência americana, se fundam muitos dos seus conflitos internos, dela emergindo também a afirmação actual de uma nação multiétnica. O último vector refere a fábula construída à volta do carácter inesgotável dos recursos naturais, considerando que nela residem tanto a origem de políticas desastrosas quanto a fonte de um optimismo de efeitos criadores. A «era de Obama» corresponderá, na narrativa proposta pelo autor, a uma fase regeneradora, capaz de esvaziar o ódio global contra a América. A ver vamos. [Simon Schama, O Futuro da América. A História dos EUA dos Fundadores a Barack Obama. Trad. de Michelle Hapetian. Civilização Editora, 448 págs.]

    Atualidade, História.